Lenda ou verdade? Suposto tesouro escondido no Rio inspirou autor de Fuzuê
"Levanta a mão aê, prepara pra mexer, que até de manhã, vai rolar o fuzuê." É assim que a novela das 7 da Globo invade os lares dos telespectadores toda a noite para narrar a busca por um tesouro escondido no Rio de Janeiro, no subsolo da loja Fuzuê.
A história desperta o interesse de alguns personagens, incluindo a milionária Preciosa, vilã de Marina Ruy Barbosa que quer superar uma crise financeira. Você pode se perguntar: como nasceu essa história?
Em conversa exclusiva com Splash, o autor Gustavo Reiz, 41, afirma que o ponto de partida do folhetim teve um quê de inspiração na realidade. Ele, que também é historiador, leu sobre supostos tesouros escondidos na capital fluminense durante pesquisa para a novela.
Reiz explica que alguns autores já escreveram sobre essa caça ao tesouro no Rio. "Lima Barreto escreveu um diário, como se fossem notas de jornal, sobre uma descoberta. Existem túneis e passagens subterrâneas, algumas abertas para visitação. Em algumas obras, por exemplo, do metrô, foram encontradas algumas relíquias históricas. É uma região que possui muita história ali. Durante a pesquisa, claro que pirei nessas possibilidades."
Já pensou se aqui embaixo tem, de fato, um tesouro? Imagina se esse tesouro está debaixo de uma loja, tipo essas do Saara, enormes e populares. Quem gostaria de pegar esse tesouro? Uma dona de uma joalheria riquíssima, que quer destruir isso. Assim, a novela surge. Gosto de partir de pesquisa, porque dá todo um embasamento para a gente fazer a nossa trama. Gustavo Reiz
O suposto tesouro citado é o que teria sido deixado por jesuítas em túneis subterrâneos no Morro do Castelo — que foi arrasado no início do século 20 por obras urbanísticas e controversas. A lenda de que embaixo desse morro havia um tesouro renasceu com a descoberta de uma galeria de túneis subterrâneos durante as obras de modernização do prefeito Pereira Passos.
Lima Barreto, fingindo encontrar um manuscrito do século 18 que explicava os mistérios das galerias, inseriu no fato jornalístico uma ficção que começou a ser publicada em forma de folhetim no jornal. Esses textos foram reeditados no livro "O Subterrâneo do Morro do Castelo", pela editora Dantes, em 1997. Até hoje, há quem acredite nesse tesouro perdido — e em outros espalhados pelo país também.
Novela com cara de Brasil
Gustavo começou a escrever novelas com 22 anos no SBT, ao adaptar "Os Ricos Também Choram" (2005), melodrama mexicano clássico da Televisa. Nos anos seguintes, ele passou pela Record com a série bíblica "Sansão e Dalila" (2001), a novela cômica "Dona Xepa" (2016) e a histórica "Escrava Mãe" (2016). Essa bagagem acumulada o trouxe à Globo, emissora que o autor niteroiense cresceu assistindo. Sua estreia traz um folhetim carregado no humor, colorida e brasileiríssima.
Estruturalmente, 'Fuzuê' é a mistura dos gêneros. É romance, comédia e mistério. Enfim, para mim, isso já a torna um fuzuê. Mas a ideia central surgiu do Brasil. Para mim, o Brasil é um grande fuzuê. Inicialmente, queria chamar a novela de 'Fuzuê Tropical'. Gustavo Reiz
Mas a palavra Fuzuê, que só existe na língua portuguesa e tem cinco letras, já foi suficiente para carregar o que Gustavo queria levar às telinhas: uma novela bem brasileira. Não é à toa que a loja, local onde todos os personagens vão se cruzar em algum momento da trama, se chama Fuzuê.
Nero [dono da loja vivido por Edson Celulari] é um grande entusiasta da cultura nacional e dos valores do Brasil. De valorizar o produto brasileiro e as expressões artísticas. Queria trazer um pouquinho das expressões artísticas e dessa nossa cultura para a novela, essa mistura toda que é o Brasil para a loja. É um grande fuzuê.
Visualmente, a trama remonta uma área central e boêmia do Rio com suas gentes e suas expressões artísticas. "No bairro de Fátima, ali próximo à Santa Tereza e Lapa, grandes artistas passaram por ali: Carmem Miranda e Grande Otelo são alguns nomes. No Beco do Gambá, nosso café-teatro, onde Lampião [Ary Fontoura] chama de cabaré dele, fazemos várias homenagens. Resgatar também um pouquinho dessa história."
A trilha sonora, que vai da revelação baiana Rachel Reis até o ícone do rock Rita Lee, destaca a pluralidade do país. A começar pela abertura: a faixa "Fuzuê" foi composta pelo sertanejo Michel Teló para a trama e já se tornou chiclete. "A abertura é um personagem de uma novela. Prepara o telespectador para a história que ele vai assistir. Eu, por exemplo, quando assistia 'Avenida Brasil', não saía para fazer qualquer coisa na hora da abertura, porque a gente queria dançar, 'oi, oi, oi'... Queria que a abertura fosse um convite a uma história vibrante, a uma festa, que a música ficasse na cabeça, com uma boa recordação e boa memória."
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Quero receberAs pessoas me marcam no Instagram [com vídeos de] crianças... Meus filhos, quando começa a abertura, levantam para dançar. 'Vem, papai, vem, mamãe'. E já começam a dançar. Isso grega um valor à novela muito especial.
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