Amor Perfeito: Prisão de Cândida tira esperanças de mundo melhor
É cada vez mais admirável a forma como "Amor Perfeito", ao abordar o machismo na sociedade dos anos 1940, acaba promovendo encontros certeiros com a nossa realidade. A prisão de Cândida (Zezé Polessa), em especial, machuca por bater em um lugar que, na minha opinião, é bem doloroso. E que deveria ser para todos.
No capítulo desta terça-feira (5), a primeira-dama da cidade foi levada para a prisão sob a acusação de subversão. Tudo resultado do recalque de Anselmo (Paulo Betti) ao ver o plano da esposa para se tornar prefeita da cidade ganhando fôlego, especialmente do eleitorado feminino.
Demorei, mas acho que finalmente entendi a proposta de Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. O trio emociona no detalhe, nos símbolos e não economiza no texto. Cada palavra pronunciada pelo elenco tem intenção e um lugar para alcançar.
Por isso, mesmo nos termos mais infantis, por assim dizer, você consegue sentir tamanha violência dos homens. Ouvir as mulheres sendo chamadas de "desmioladas" ou "que deveriam voltar para casa e lavar louça", é no mínimo desagradável para quem acompanha o pensamento dos dias atuais e defende a igualdade entre os gêneros.
Talvez refletindo para além do que o público do sofá vai fazer, não consegui deixar de ver em Cândida o silenciamento das mulheres na política que persiste até hoje. Sempre representantes da mudança, é comum vermos grandes figuras precisando lutar 10 vezes mais em meio a ameaças e preconceitos. Isso quando elas não são silenciadas de vez, como aconteceu com Marielle Franco.
A resistência e apoio de todas as outras mulheres da história foram realmente emocionantes e devem proporcionar sequências sensíveis pela frente. No final do dia, estão mostrando que são elas por elas.
Isso poderia ser aquela luz no final do túnel dizendo que é preciso lutar sempre. Mas confesso que, por agora, bateu aquele desânimo em ver que 2023 ainda está mais próximo de 1940 do que deveria.
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