Ângela Diniz: como foi o crime e o que aconteceu com Doca Street

Ângela Diniz foi assassinada em 30 de dezembro de 1976 por Raul Fernando do Amaral Street, o Doca, em uma praia em Búzios (RJ). O crime parou o Brasil, mas não pelos motivos que você talvez imagine. A opinião pública ficou ao lado do assassino durante todo o julgamento.

A história agora chega aos cinemas com o filme 'Angela', anos após o sucesso do podcast "Praia dos Ossos", da Rádio Novelo. O longa é estrelado por Isis Valverde e Gabriel Braga Nunes.

Quem foi Ângela Diniz?

Socialite mineira, Ângela Maria Fernandes Diniz tinha 32 anos quando foi morta. Filha de Newton Viana Diniz e Maria do Espírito Santo Fernandes Diniz, ela se casou aos 17 anos com o engenheiro Milton Villas Boas, de 31. O casal teve três filhos e o relacionamento durou 9 anos.

O desquite judicial foi algo polêmico, já que o divórcio não era permitido na época. Para consegui-lo, Ângela precisou fazer um acordo e ceder ao ex-marido a guarda dos filhos.

O status de socialite fazia com que Ângela estivesse sempre nas colunas sociais e fosse alvo da mídia. Ela colecionou outras polêmicas, como quando seu caseiro, José Avelino dos Santos, foi morto, e descobriu-se que Ângela tinha um amante.

Sua vida pública era sempre visada pelas colunas, e Ângela não se acanhava de ir a festas e se divertir publicamente. Quando se mudou de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, começou a namorar o colunista Ibrahim Sued.

Como foi o relacionamento com Doca Street?

Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street, em tribunal
Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street, em tribunal Imagem: Folhapress

Ângela e Doca se conheceram em agosto de 1976, quando ele estava com a milionária Adelita Scarpa. Os dois começaram um romance às escondidas e Raul deixou Adelita para ir embora com Ângela.

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O romance durou cerca de quatro meses, marcados por crises de ciúmes e violência. Em dezembro, quando os dois passavam o início do verão na Praia dos Ossos, uma discussão terminou no crime

Ângela tentava terminar o relacionamento com Doca, que por sua vez não aceitava a decisão dela. Por isso, ele deu quatro tiros na mulher: três no rosto e um na nuca.

Primeiro julgamento

Doca permaneceu algumas semanas após o crime foragido, e se entregou à polícia em janeiro de 1977. Julgado em Cabo Frio em 1979, ele foi defendido pelo advogado criminalista Evandro Lins e Silva.

A defesa de Lins e Silva foi baseada na tese da legítima defesa da honra, hoje julgada inconstitucional pelo STF. Em seus argumentos, o advogado responsabilizou Ângela por provocar a violência por seus comportamentos.

Durante o julgamento, tudo sobre Ângela foi esmiuçado, de sua vida sexual aos seus hábitos e comportamentos. O caso foi amplamente coberto pela mídia, e a população acompanhava como uma novela.

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"Era uma mulher que não tinha os princípios que nós conservamos, preferiu abandoná-los", diz Lins e Silva em sua sustentação oral. "Infeliz depois (...) tenho o direito de explicar, de compreender como um gesto de desespero, uma explosão incontida de um homem ofendido na sua dignidade."

Doca foi condenado, por cinco votos a um, a cumprir pena de 18 meses pelo crime, e seis meses por fugir da Justiça. Ele teve direito a sursis, suspensão condicional da pena. Por ter cumprido sete meses preso, Doca saiu livre do tribunal.

Segundo julgamento

Uma onda feminista cresceu no Brasil após outros três casos de assassinatos como o de Ângela Diniz. O movimento Quem ama não mata" fez pressão para um novo julgamento de Doca.

Na segunda vez diante do júri, em 1981, Doca não contava mais com Evandro Lins e Silva. Com a opinião agora a favor de Ângela, ele foi condenado a 15 anos de prisão.

Doca ficou preso até 1987 e, em 2006, lançou o livro "Mea Culpa", em que conta sua versão do crime. Ele morreu em 18 de dezembro de 2020, após um ataque cardíaco.

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