Queerbait? Entenda acusação em clipe de Juliette e Marina Sena

Após Juliette lançar o clipe da música "Quase Não Namoro", em dueto com Marina Sena, as duas artistas sofreram algumas críticas em razão do conteúdo do clipe. Nas redes sociais, alguns acusaram o vídeo de fazer "queerbait", e até Manu Gavassi deu uma alfinetada ao comparar o trabalho com o clipe de "Gracinha".

O que é 'queerbait'?

"Queerbait" é um termo derivado da língua inglesa usado para dizer respeito a uma situação ou cena em que um romance entre personagens LGBTQIA+ é sugerido, mas não levado adiante, para atrair audiência. A palavra é uma junção de "queer", termo guarda-chuva para designar pessoas que se encaixam na sigla LGBTQIA+, e "bait", que significa isca.

A técnica, usada em peças de marketing e entretenimento, serve para atrair um público queer, pois sugere o desenvolvimento de romance entre pessoas do mesmo sexo. Ao mesmo tempo, o fato de não levar tal narrativa adiante funciona para não desagradar outras porções da audiência.

Por isso, o "queerbait" é bastante criticado por movimentos que lutam por mais diversidade e representatividade nas telas. A sugestão de um desenvolvimento que não é conduzido pode ser algo bastante prejudicial para a busca por representações mais realistas e menos estereotípicas de personagens e romances LGBT+ em obras literárias ou audiovisuais.

Séries e filmes estão cheios de exemplos de 'queerbait'

Nas séries e nos filmes, não são poucos os exemplos de situações acusadas de fazer "queerbait". Em "Supergirl", que contou com seis temporadas, a relação entre Kara Danvers (Melissa Benoist) e Lena Luthor (Katie McGrath) foi desenvolvida a tal ponto que muitas parcelas dos fãs torciam para que elas se tornassem um casal. Um passo adiante era constantemente sugerido pelo roteiro, mas a série nunca explorou isso.

O mesmo aconteceu em outras séries de grande sucesso, como "Sherlock", com Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, e "Glee". Na primeira, a ligação entre Sherlock e Watson fez com que fossem um dos casais mais "shippados" entre fãs, e o mesmo aconteceu com Rachel Berry (Lea Michele) e Quinn Fabray (Dianna Agron).

O problema em todos esses exemplos é que, a partir do momento em que fãs começaram a torcer por esses casais, as séries sugeriam, no roteiro, em entrevistas e até mesmo vídeos e fotos de bastidores, que algo poderia acontecer, apenas para recuarem logo em seguida.

"Os espectadores —principalmente pessoas queer— são atraídos com a esperança de verem possibilidades de si mesmos refletidas nas telas, ou nas músicas, e são sempre deixados esperando para que isso de fato aconteça", explicou a professora Kim Hackford-Peer à revista Health, salientando que uma representação problemática não é uma forma de "queerbait": é apenas uma representação ruim, mesmo.

'Queerbait' também virou debate na música

Recentemente, o tema passou a ser utilizado para analisar alguns músicos. Harry Styles foi acusado de fazer "queerbait", por sua expressão fluida sem falar claramente sobre gênero e sexualidade. Publicamente, ele só assumiu relacionamentos com mulheres, apesar da postura contra a heteronormatividade.

O britânico se defendeu dizendo à revista Rolling Stones que "todo mundo tem sua própria jornada para descobrir a sexualidade e ficar mais confortável com isso". Ele também disse que nunca assumiu relacionamento algum, apenas foi clicado por terceiros na companhia de mulheres.

Billie Eilish também já foi acusada de fazer "queerbait", quando publicou em seu Instagram uma foto de bastidores do clipe de "Lost Cause". Na legenda, ela escreveu: "Eu amo garotas", o que gerou uma reação imediata de pessoas acusando a cantora de ter feito uma provocação proposital.

Por que o clipe de "Quase Não Namoro" gerou polêmica?

Marina Sena e Juliette sensualizam no clipe, com referências a cenas emblemáticas de "Ghost - Do Outro Lado da Vida" (1990) "Titanic" (1997).

A troca de carícias acontece em um momento do clipe que reproduz uma clássica cena de "Ghost". Muitas pessoas acusaram o vídeo de se apropriar de uma temática LGBTQIA+ para gerar visibilidade —de quebra, contribuindo para a fetichização de relações lésbicas.

Marina Sena se justificou e defendeu o clipe das acusações: "Pra mim foi tão natural, sabe? Pra mim não tinha peso algum em fazer isso. Eu estava com a minha amiga ali, a gente estava sensualizando. Eu faço isso na festa com as minhas amigas. A gente gosta! Tem muito mais a ver com esse universo das mulheres", disse ao Gshow.

A cantora disse que a intenção não foi chamar a atenção de homens. "Às vezes as pessoas falam: 'ah, é pra atrair macho'. Não, é pra atrair as mulheres mesmo. É nós, no nosso rolê, na nossa viagem, no nosso jeito que a gente gosta de curtir. A gente tem mais essa coisa da interação física, a gente que é mulher. De se abraçar, de fazer carinho uma na outra, que eu acho que os homens têm mais dificuldade. Pra gente é normal pegar uma na outra."

Juliette também havia se defendido da polêmica, e disse ter respeito pela comunidade LGBTQIA+. "Eu tenho total respeito pelas causas. Eu sou muito cuidadosa com isso para que não seja um ponto negativo, que eu não descredibilize as bandeiras e as causas, real. Eu e Marina somos amigas, a gente já tem esse comportamento de se abraçar e se agarrar", disse ao portal BNews. "A intenção foi ser natural e respeitoso, como eu sempre fui em tudo o que eu fiz. Então, quando não se aplica, eu acho que não tem porque supervalorizar isso, sofrer com isso."

O que Manu Gavassi tem a ver com tudo isso?

A atriz e cantora disse no podcast Acessíveis Cast, de Mari Moon e Titi Müller, que ficou chateada com as semelhanças visuais, apontadas por fãs, entre "Gracinha" e "Quase Não Namoro".

"Quando vi a capa, eu fiquei, sim, chateada. Não tem como não prestar atenção ao que os outros profissionais da sua área estão fazendo em um mercado tão pequeno. Ser original dá trabalho, mas é legal", declarou.

Manu destacou, no entanto, que o descontentamento era com a equipe de Juliette, e não com a vencedora do BBB 21. "A Juliette é uma pessoa maravilhosa, eu amo muito a Ju. Ela me ligou antes de tudo sair, o que foi de uma decência, uma classe, uma elegância, de um caráter que poucas pessoas têm nesse meio", elogiou.