Com Leandro Hassum, 'B.O.' é uma 'Brooklyn 99' brasileira sem personalidade
A primeira série de Leandro Hassum para a Netflix, "B.O.", chega à plataforma de streaming hoje. É uma comédia de ambiente de trabalho, gênero pouco explorado no Brasil, mas já consagrado no exterior, a exemplo de "The Office", "Parks and Recreation" e, claro, "Brooklyn Nine-Nine".
O humorista, que é protagonista, dono da ideia original e diretor de um dos episódios, diz que a série estrelada por Andy Samberg foi uma "referência" e dispensa comparações com a produção americana. No entanto, é impossível falar de "B.O." sem falar de "Brooklyn Nine-Nine".
Quem assistir às duas comédias percebe que a brasileira bebe bastante da fonte de "B99". As similaridades vão além da delegacia: incluem transições de cena, personagens (Babu Carreira como Guerra lembra muito Chelsea Peretti como Gina, por exemplo) e recursos narrativos.
Para a cena dos suspeitos cantando "I Want It That Way" na produção gringa, há uma cena em que os investigadores fazem uma competição de covers de Sandy & Junior. Para quem gostava das reuniões zoneadas na salinha na delegacia, há cenas de sobra como essas em "B.O.". Assim como em "B99", o piloto de "B.O." trata da entrada de um novo chefe, mudando a dinâmica da delegacia, com a diferença de que Suzano é o protagonista e não um personagem secundário, como Holt (Andre Braugher).
Dito isso, se o telespectador conseguir superar a sensação de "versão brasileira", é possível encontrar alguma diversão lá pelo quarto episódio, que é quando a série começa a ganhar sua própria forma. Muito disso se deve mais ao elenco do que às piadas em si: os jogos de Jefferson Schroeder com a voz no papel do caipira Estevão são pontuais e certeiros. Outros destaques do elenco principal são Digão Ribeiro, como o "durão" Rabecão, e o veterano Taumaturgo Ferreira, na pele do "coroa enxuto" Pardal.
As participações especiais têm erros e acertos. Aline Borges, por exemplo, interpreta bem o papel da vaidosa delegada regional Ivone Cruz. Já Bruno Cabrerizo, que interpreta o ex-delegado bonitão Azevedo, parece deslocado na trama. A culpa não é do ator, mas a presença constante de seu personagem não se justifica, já que ele foi substituído por Suzano.
A comédia também anda em uma corda bamba. É divertido ver situações "brasileiríssimas" na tela, como um funcionário público interpretado por Leandro Ramos lutando de igual pra igual contra as burocracias impostas por funcionários da delegacia. Outras cenas, porém, parecem pender demais para o humor "Zorra Total", como as "tiradas" caricatas da copeira evangélica Zuleide (Josie Antello) ou algumas excentricidades excessivas e infantis de Suzano. Por aqui, não agradaram.
Leandro Hassum já afirmou que a principal preocupação na hora de escrever a série era de torná-la popular e acessível. Nessa tentativa de agradar a todos, pode ser que não agrade muito a ninguém. Para a segunda temporada ter fôlego, "B.O." precisa amadurecer, encontrar a própria personalidade e o humor que pretende fazer.
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