Escolhas erradas marcam o rock do The Town; sorte que Foo Fighters salvou
Thales de Menezes
Colaboração para Splash
10/09/2023 01h26
Num sábado sacramentado antecipadamente como o dia do rock no festival The Town, o Foo Fighters fez o que todos esperavam: fechou a noite com um grande show de hits, a já manjada extrema simpatia do líder Dave Grohl e rocks furiosos, mas na medida para tocar nas rádios americanas. Nessa celebração de rock em seu estágio mais básico, mulheres acabaram esquentando o público para o Foo Fighters: Pitty, Shirley Manson e as meninas britânicas do Wet Leg.
Pitty abriu o palco principal, à tarde, com um show para comemorar os 20 anos de seu álbum de estreia, "Admirável Chip Novo". Tocou sete músicas desse disco na primeira metade do show, provando que é mesmo um trabalho com sucessos que moram na memória afetiva dos fãs, como "Teto de Vidro" e "Equalize". Depois passeou pelo repertório de seus outros quatro álbuns, para fechar com o mega hit "Me Adora". O lance diferente foi a participação da Nova Orquestra, um grupo sinfônico de gente bem jovem, que fez uma moldura até delicada para o peso habitual das canções de Pitty. E, incrível, funcionou.
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Outra garota que impôs respeito à plateia roqueira foi a escocesa Shirley Manson, desde os anos 1990 à frente da banda americana Garbage. O show foi bem estruturado no roteiro, que começou dando algum destaque às canções do último álbum, "No Gods, No Masters", reservando para a parte final os grandes sucessos, como "Vow", "Only Happy When It Rains" e "Push It", canções fundamentais para entender o rock dos anos 1990.
Mais mulheres de talento em seguida, com as vocalistas e guitarristas inglesas Rhian Teasdale e Hester Chambers, dupla que agrega mais três garotos no palco sob o nome Wet Leg. Com apenas um álbum e um hit pegajoso, "Chaise Longue", é uma banda em plena ascensão no cenário indie, com influência clara das americanas do Breeders.
Um show divertido e instigante de uma banda que deve ainda crescer muito, mas talvez não para o horário noturno de um festival com 100 mil pessoas no recinto. Aliás, a pergunta dos outros dias de The Town se repetiu: por que não escalar Pitty à noite, com seu repertório poderoso? Por que sempre os gringos no final?
E por falar em escalação errada, no palco Skyline, o maior do festival, o Yeah Yeah Yeahs substituiu o Queens of the Stone Age, que cancelou a vinda por problemas médicos. À frente do trio nova-iorquino, a figuraça Karen O. Com visual e gestual bem particulares, a cantora é um magneto para a atenção do público, que até acolheu o som da banda, que fica entre um climão denso nas mais lentas e um pulso eletrônico forte nas dançantes.
Mas, mesmo com as mais pesadas no final, o equívoco foi total. O Queens of the Stone Age, com seu rock rude de guitarras, old school, era um aquecimento perfeito para o Foo Fighters. O Yeah Yeah Yeahs não deu liga com o headliner.
E fora os shows constrangedores, como a galeria de clichês supostamente roqueiros do Detonautas, com convidado que nada acrescentou, Vitor Kley, e até uma participação do filho do vocalista Tico Santta Cruz, tocando guitarra. Outro momento deprimente foi o que restou do Barão Vermelho, com seu terceiro vocalista, Rodrigo Suricato, numa formação que mais parece banda cover. E o grupo agora apela até para o repertório solo de Cazuza, com "Exagerado" e "O Tempo Não Para", e de Roberto Frejat, "Amor pra Recomeçar", antigos vocalistas que lançaram essas músicas fora do Barão. Um exercício de cara de pau.