Julia Quinn: É mais fácil ter representatividade em séries que nos livros

Julia Quinn, autora da saga "Os Bridgertons", é conhecida por escrever romances históricos que sempre terminam com um final feliz, mas já foi alvo de questionamentos por não colocar personagens não brancos na sua literatura.

É certo que quando começou a escrever a saga há mais de 20 anos, com "O Duque e Eu" (2001), pouco se falava de representatividade. Diferentemente do momento em que a Netflix decidiu adaptar a saga para o streaming. A plataforma foi elogiada ao escalar atores negros e asiáticos em "Bridgerton" (2020), série que alcançou fama em todo o globo, incluindo o Brasil.

Em bate-papo com Splash, nos bastidores da Bienal do Livro do Rio, a autora disse acreditar ser mais fácil trazer narrativas com representatividade em séries que nos livros, porque a TV "é visual e colaborativa".

Além de ser visual, tem muitas pessoas trabalhando nisso. Você pode ter pessoas de diferentes backgrounds trazendo suas próprias perspectivas. Faz ser mais fácil. Com o livro, sou só eu. São coisas que nem sempre o autor conhece.
Julia Quinn

Ela ainda cita um exemplo prático da diferente entre literatura e audiovisual. "Se estou escrevendo uma cena em que dois personagens estão caminhando na rua, eu não vou descrever todos os que passam por eles. Mas, em uma série inteligente, você pode colocar pessoas de diferentes etnias e, talvez, pessoas que estão em cadeira de rodas ou algo assim. Você pode criar um mundo visual que é um pouco mais difícil de se fazer em um livro"

Julia elogia a decisão da adaptação da Netflix em colocar atores mais diversos e representar mais pessoas de uma forma que talvez a autora não "entendesse o quão importante era antes". Hoje, ela entende o poder da representatividade na TV, nos livros e em qualquer espaço.

"É uma série alegre, com pessoas não brancas, sejam negras ou asiáticas, sendo felizes? Por exemplo, eu conheço muitas mulheres de traços indígenas que achavam que nunca se veriam em personagens com aquelas roupas lindas, mas quando viram a Kate e a Edwina... E eu percebi que isso era poderoso."

Agora, o que autora quer é usar a posição de destaque que tem para dar luz a novos autores não brancos. "Toda semana, na minha página no Facebook, recomendo um romance histórico.e busco encontrar aqueles que apresentem personagens negros e de autores negros, pois nem sempre eles recebem muita atenção das lojas".

Como mulher branca, não se considera o nome ideal para escrever algumas histórias, afinal, não quer "histórias cheias de estereótipos" de situações que ela não viveu. "Quando escrevi um protagonista meio-indiano, foi emocionante, mas trabalhei com outros autores indianos para olhar e pensar 'ok, vamos colocar algumas coisas para que ele não seja apenas um cara branco com tinta'".

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O último livro de Julia paga essa "dívida" da cobrança por representatividade. Escrito a quatro mãos, ao lado da autora Shonda Rhimes, a protagonista de "Rainha Charlotte" é uma mulher preta. "Funcionou muito bem, porque eu escrevi com Shonda. Ela estava lá para ajudar a validar coisas que talvez eu não conheça, eu podia perguntar a ela. Eu queria fazer algo em que pudesse incluir pequenos detalhes como a rotina de skin care de uma mulher negra".

Referência

Hoje, Julia Quinn é uma referência para jovens escritoras de romances históricos e leitoras pelo mundo. A "Jane Austen do século 21" já tem mais de três milhões de livros vendidos só no Brasil. Como ela lida com isso?

"Eu só tento me comportar bem e fazer coisas que eu possa me orgulhar. Tento 'advocar' por coisas boas. Por exemplo, depois do Brasil, eu vou falar em dois lugares da Flórida. Estou muito chateada pela atual política da Flórida contra pessoas LGBTQ+... Como estou sendo paga para falar na Flórida, vou pegar o dinheiro e doar para um grupo de direitos dos gays."

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