Depressão, lágrimas: estilo 'Custe o que Custar' causou traumas em ex-CQCs
Dono de humor ácido e coberturas pitorestas, o CQC (Custe o Que Custar) caiu nas graças do público brasileiro por misturar jornalismo e humor e ficou no ar na Band em oito temporadas (2008 - 2015).
A atração deixou saudade nos fãs que curtiam as críticas políticas, cobertura de shows e curiosidades da vida dos famosos, mas não é nem de perto lembrada por ex-membros que formaram o elenco do humorístico.
Queda de cabelo e burnout
Durante o festival do The Town, em São Paulo, Rafael Cortez, 46, contou em papo exclusivo com Splash que os integrantes do programa sofriam constantemente com problemas de saúde.
"Todo mundo que trabalhava como repórter e passou pela primeira fase do programa, entre 2008 e 2011, chegou a ter algum tipo de problema. Estafa, depressão, ansiedade. Era muito comum eu ter herpes em decorrência da imunidade baixa. Estávamos sempre gravando", disse.
Falando de si próprio, Cortez diz não guardar mágoas dos tempos em que foi repórter, mas também sofreu com transtorno de burnout.
Eu tive muitos momentos maravilhosos, mas acho que tive um burnout por trabalhar no CQC, especialmente no ano de 2010. Eu chegava a fazer oito matérias por semana. Em algum momento, fui para a Copa do Mundo da África do Sul cobrir futebol, que é um tema que eu não gosto.
Rafael Cortez
Ele também sofreu com queda de cabelo, mas não abandonou coberturas. "As minhas melhores matérias nasceram ali, na Copa do Mundo de 2010, em um contexto de que eu estava super mal. Mas entreguei todo o meu amor ali", completou.
"Chegava no hotel e ia chorar"
Monica Iozzi, 41, ficou nacionalmente conhecida ao integrar a equipe do CQC entre 2009 e 2013. Em entrevista a Splash, a atriz e apresentadora contou que teve crises de choro em algumas gravações do humorístico.
Primeira mulher do elenco, ela entrou após vencer um concurso para ganhar vaga. Seu trabalho era entrevistar políticos na capital federal para cobrar ações e questionar medidas polêmicas — incluindo o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), então deputado federal. Nem sempre era fácil.
Ela declarou que criou uma persona enquanto era repórter e apresentadora, possivelmente influenciada pela sua formação como atriz. Ela se portava como uma figura "um pouco caipira" de Ribeirão Preto que entrava no Congresso como uma "uma jovem mulher curiosa, sem filtro, com sangue nos olhos para fazer cobranças, mas que, ao mesmo tempo, estava pisando em ovos".
"Se você vir as minhas primeiras entrevistas no Congresso, no CQC, eu me coloco mais nesse lugar da jovem chegando... Mas consegui desenvolver uma segurança tão rapidamente que essa parte da personagem caipira insegura foi dando lugar para caipira com sangue nos olhos. A personagem do CQC foi se desenvolvendo", lembrou.
Mas ali é muito difícil trabalhar. Eu fazia aquelas matérias difíceis e, algumas vezes, chegava no hotel e ia chorar.
Monica Iozzi
Iozzi era a voz do programa para apontar incoerências ou escândalos de corrupção. "Mas eu, ser humaninho lidando muitas vezes com gente que não admiro, para dizer o mínimo, e lidando com gente que dá medo, eu tinha que ter uma certa carapaça, mas, certas vezes, quando chegava no hotel, aquilo se desfazia e eu desaguava para liberar a tensão do dia a dia", pontuou.
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Quero receber"Nunca ofereceu ajuda"
Demitido do CQC em 2014, Ronald Rios, 35, deixou a atração da Band com mágoas. Na época, ele publicou um vídeo em seu canal do Youtube se mostrando revoltado como foi desligado da emissora.
"Teve um dia que um dos meus chefes, um argentino, me chamou para conversar e confirmou que eu ia sair do programa. Você estranha um pouco no começo. Aí, eu falei pra ele: 'eu acho que vai ser uma coisa boa, vou ter tempo livre e tal..'. O cara se revoltou comigo e falou: 'Pra que você quer tempo livre?'", iniciou.
O repórter ressaltou um ponto interessante de sua conversa com o ex-chefe. "Só que teve uma coisa que ele falou, que me fez coçar a cabeça: 'Você vai embora do programa, Ronald, mas você sabe que você é muito inteligente, você tem uma noção muito boa da realidade. Uma noção melhor do que alguns que vão ficar'. Que m*** de elogio é esse, cara? Então, eu tinha que ser mais burro para manter meu emprego?", questionei.
No vídeo, ele relembrou alguns momentos de terror da experiência de gravar na Faixa de Gaza e revelou ter ficado com traumas com barulhos em razão das três matérias gravadas no Oriente Médio.
"Ninguém nunca perguntou como eu estava, nem ofereceu nenhum tipo de ajuda, até aí tudo bem, é uma emissora de TV, não é uma ONG do Bono Vox. Mas quando não reprisaram a matéria no especial, isso foi uma facada nas minhas costas. Estou falando de uma equipe de três pessoas que por pouco não voltaram para suas famílias. Não passar essa matéria no especial de fim de ano foi imperdoável", relatou.
"Nem implorando"
Marcelo Tas, 63, atuou como apresentador do CQC entre os anos 2008 e 2014 e deixou o projeto alegando que seu ciclo havia acabado, por entender que não havia mais como mexer no formato.
Pouco tempo depois, em entrevista ao também ex-CQC Rafael Cortez, o apresentador afirmou categoricamente que não se imaginava voltando a apresentar a atração de humor ácido na Band.
"Mas e se o programa volta e falam 'venha, Marcelo?'", instigou Cortez, ao que Tas respondeu: "Mas nem se você fosse implorando até minha mansão. Não preciso de dinheiro. Eu sempre fui muito rico", ironizou.
Na visão de Tas, que não detalhou o que o não deixaria voltar ao programa, o CQC cumpriu bem o seu papel de trazer humor e jornalismo ao público.
"O CQC continua totalmente na mente das pessoas, isso é incrível. Acho isso ótimo, foi um programa que não marcou só o humor, mas o jornalismo. Trouxe um novo jeito de abordar a política", refletiu.
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