Como filme de tráfico sexual de menores se envolveu com a extrema-direita?
Baseado em uma história real, "Som da Liberdade" tem atraído a atenção do público norte-americano ao abordar casos reais de tráfico humano e pedofilia. O filme, porém, caiu nas graças da extrema-direita dos EUA e foi acusado de inflar fatos.
Produzido por Mel Gibson, o longa é protagonizado por Jim Caviezel, intérprete de Jesus em "A Paixão de Cristo". O filme superou a estimava e abocanhou mundialmente US$ 210 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão), um marco para uma produção de baixo orçamento —US$ 14,5 milhões (cerca de R$ 70 milhões). No Brasil, o longa estreia na próxima quinta (21).
Além da premissa e alta arrecadação, diversas controvérsias apareceram. Splash te explica quais são as questões que tornam este um dos filmes mais falados do ano.
Qual é a história de 'Som da Liberdade'?
Dirigido e escrito por Alejandro Monteverde, de "Little Boy - Além do Impossível", o longa conta a história real de Tim Ballard, um ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos.
Após prender um pedófilo responsável por uma rede de tráfico de crianças, o policial resolve renunciar seu trabalho oficial e se envolve em uma longa caçada para salvar a vida de crianças.
Como foi a produção?
Filmado em 2018, o filme foi financiado por um grupo mexicano não identificado.
Depois, teve seus direitos de distribuição comprados pela 20th Century Fox. No entanto, quando a Disney comprou o estúdio, em 2019, não teve mais interesse em lançar a produção.
O produtor Eduardo Verástegui conseguiu reaver os direitos e os entregou à Angel Studios, produtora cristã responsável pela série "The Chosen", que comprou "Som da Liberdade". Assim, o longa ganhou distribuição mundial.
O longa é protagonizado por Jim Caviezel, conhecido por viver Jesus em "A Paixão de Cristo". Mel Gibson é produtor.
Quais os fatos?
Uma das primeiras polêmicas surgiu ao mostrar a narrativa do longa como verdadeira. É real e comprovado que o roteiro tem como personagem principal Tim Ballard, o ex-agente que existe. Ele fundou a Operation Underground Railroad (OUR), uma organização sem fins lucrativos que atua na luta anti-tráfico de pessoas.
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Quero receberNo entanto, diversos veículos internacionais contestam os relatos de Ballard e da OUR, o que implica na veracidade das ações retratadas no longa. A imprensa norte-americana avalia que a entidade descreve as ações como muito heroicas, quase que fora da realidade.
Ballard afirmou diversas vezes que a OUR desempenhou um papel importante em um grande caso de combate ao tráfico humano no estado de Nova York [EUA], e insinuou que ajudou a resgatar uma vítima neste caso, quando, na verdade, segundo transcrições judiciais e outros registros analisados pela VICE World News, a vítima escapou do seu traficante por conta própria.
Artigo da VICE News
O ex-agente se defendeu. "Algumas coisas são definitivamente exageradas. [Como o fato de Jim Caviezel] me fazer parecer muito mais legal do que sou, por exemplo", disse em entrevista a The Victory Channel
Extrema-direita
O protagonista, Jim Caviezel, gerou polêmica nos últimos anos. Em 2021, o ator apoiou afirmações feitas pela teoria da conspiração conhecida como QAnon.
A teoria apoiada pela extrema-direita nasceu de alguém que disse ter acesso a documentos confidenciais do governo norte-americano. Criada em 2017, ela alega que pedófilos adoradores do diabo trabalham para o governo dos Estados Unidos. Os apoiadores foram responsáveis pelo Ataque ao Capitólio em 2021, e acreditam existir uma rede de tráfico sexual de crianças que conspirou contra Donald Trump.
Tim Ballard negou qualquer ligação do filme com QAnon e já disse que as teorias compartilhadas pelos apoiadores são infundadas. A Angel Studios também negou que o filme apoia teorias da conspiração.
A OUR também soltou um comunicado ao The Independent no qual rechaça ligações com o QAnon. "A Operation Underground Railroad concentra-se nos problemas de tráfico humano que sabemos que existem, e não tolera teorias. Não somos afiliados a nenhum grupo conspiratório, incluindo QAnon, de forma alguma. Informações precisas sobre a exploração infantil e o tráfico de seres humanos são necessárias para enfrentar de maneira eficaz estas questões."
No entanto, Caviezel foi a uma conferência afiliada ao QAnon em 2021 e, durante sua participação, disse que Ballard estava "salvando crianças" da "adrenochroming", uma teoria da conspiração que afirma que os traficantes drenam o sangue das crianças para colher uma substância que melhora a qualidade de vida.
Ingressos
Assim como aconteceu no Brasil com o filme "Nada a Perder", muitos ingressos foram comprados previamente para que o longa pudesse ser visto por um número maior de pessoas. E, da mesma maneira como aconteceu com o título sobre a vida de Edir Macedo, muitas salas estavam vazias.
Os apoiadores de "Som da Liberdade" apontam que a AMC, uma das maiores redes de cinema dos Estados Unidos, estaria exibindo o longa com o ar-condicionado desligado, o que faria o público a sair da sessão.
O CEO da empresa, então, foi a público responder às acusações. "Infelizmente, os teóricos da conspiração são tão prevalentes nos Estados Unidos. Tanta informação errônea é espalhada. Mais de UM MILHÃO de pessoas assistiram a Sound of Freedom nos cinemas da AMC. Mais do que em qualquer outra cadeia de cinemas do planeta. No entanto, as pessoas afirmam falsamente o contrário. É tão bizarro".
Sadly, conspiracy theorists are so prevalent in America. So much garbage information is spread. More than ONE MILLION people have watched Sound of Freedom at AMC Theatres. More than at any other theatre chain on the planet. Yet people falsely claim otherwise. It is so bizarre.
? Adam Aron (@CEOAdam) July 12, 2023
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