Conteúdo publicado há 9 meses

Letícia Sabatella fala sobre autismo aos 52: 'Reconhecida como maluca'

Letícia Sabatella, 52, em entrevista ao Fantástico (Globo), sobre o seu diagnóstico de autismo na fase adulta:

Rejeição na escola. "Quando eu tinha 9 anos, todas as meninas do colégio pararam de falar comigo, pelo meu jeito. Eu não entendia o porquê."

Mundo imaginário. "Eu tinha um mundo imaginário muito rico. Eu ficava apaixonada pelas coisas. Um prego tinha vida."

Reação a muito barulho. "Tem horas que sigo a passar mal. Parece uma agressão. Gosto muito do toque, mas se alguém fica fazendo assim [alisando], dá vontade de pedir para parar."

Reação ao diagnóstico. "A sensação foi libertadora. Estou nesse flerte de buscar a melhor compreensão sem desespero algum em relação a isso."

Hipersensibilidade e reações. "Todo mundo me vê. Sou uma pessoa muito sensível. A hipersensibilidade é uma característica. Todas as vezes que isso aconteceu [explosões], sempre teve gatilhos fortes, cansaço, ansiedade. Mas minha vontade era de não ter reagido daquela maneira."

Estudo. "Eu estava sempre estudando e sempre me formando em alguma coisa. Pra dizer que eu tinha que acrescentar e me construir".

Ganhou rótulos. "Sempre fui reconhecida como pisciana, artista, sonhadora, romântica, idealista. Até em algumas situações mais abusivas como maluca."

Aprendizado sobre autismo. "Estou aprendendo sobre esse assunto. Não sei sobre ele. Eu sei sobre mim, muito intuitivamente. Essa é o valor de um bom diagnóstico para margear o caminho. Uma pessoa que não se conhece fica mais suscetível a ser oprimida."

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Declarações

Após revelar seu diagnóstico, Letícia já havia comentado o assunto nas redes sociais.

Nas redes sociais, ela deu detalhes sobre a aceitação do autismo: "Quantas vezes eu perdia a amizade ou as pessoas ficavam magoadas comigo porque eu não conseguia sair de casa. Eu não conseguia ir ao cinema, porque é uma experiência sensorial muito forte, como se eu tivesse tendo um sonho premonitório que iria definir a minha vida, de tão sensível."

Para Sabatella, ter sido diagnosticada, mesmo tardiamente, foi libertador: "Há um tempo atrás eu estava fazendo algumas perguntas, pedindo uma luz. Porque eu sempre me senti, desde criança, que às vezes eu despertava acordada para uma consciência que me pegava de uma hora para outra."

Vida pós-diagnóstico

Recebimento de um diagnóstico tardio: "Por um lado, receber um diagnóstico tardio, faz entender que [nada na vida até aqui] foi limitante. Pra Clara [filha de Letícia, de 30 anos] também. Ela já fez muitas coisas que se ela fosse se atentar a um tipo de olhar, ou um tipo de compreensão do diagnóstico, ela não ia achar que poderia ser capaz de fazer".

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Confiança afetada desde a infância. "O cuidado é: o diagnóstico aliviaria muitas tensões, talvez traria muito mais inclusão em escola, em ambientes de demanda ou protege também, me protegeria de algumas roubadas, de algumas crenças, medos, insegurança, de autoestima prejudicada", destacou Sabatella, sobre como poderia ter sido receber um diagnóstico quando criança.

Ela fala por que é positivo receber o diagnóstico: "Eu comecei a achar muito interessante o diagnóstico por conviver com pessoas e compreender as pessoas que lidam com isso e que percebem o alívio que isso traz. O diagnóstico é menos estigmatizante do que os adjetivos, que podem vir reducionistas. Esses sim que podem tachar".

Autismo em adultos

Apesar de ser uma condição identificada na maioria das vezes ainda na infância, o autismo vem sendo diagnosticado com cada vez mais frequência em adultos. O TEA (transtorno do espectro autista) apresenta vários graus, e sua identificação pode passar despercebida se não for dada a devida atenção.

O diagnóstico tardio de autismo é frequentemente causado pela falta de acesso a informações, ao sistema de saúde e por dificuldades emocionais ou financeiras dos pais.

Geralmente, os diagnósticos tardios estão relacionados a casos de autismo em que as pessoas conseguem levar uma vida autônoma e funcional.

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Após o diagnóstico, o paciente é encaminhado a especialistas que podem auxiliá-lo na superação de suas limitações. Sem o suporte apropriado, essas limitações podem se tornar mais inflexíveis, resultando em um processo mais lento de melhoria dos sintomas em adultos.

A ausência de um diagnóstico de autismo e a falta de suporte adequado podem levar a dificuldades sociais e acadêmicas, frequentemente desencadeando outros transtornos, como ansiedade e depressão, devido à sensação de ser diferente ou sofrer bullying.

Quais sinais indicam autismo?

Os sintomas típicos do autismo em adultos incluem:

  • Dificuldade em reconhecer emoções;
  • Desafios na interação social;
  • Alta sensibilidade sensorial;
  • Rigidez mental e dificuldade em compreender pistas sociais;
  • Adultos autistas frequentemente enfrentam problemas na socialização e na interpretação de comunicações não verbais;
  • Hiperfoco no trabalho;
  • Aversão a mudanças na rotina;
  • Hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como ruídos altos, também são sinais comuns.

Além desses indícios, o autismo em adultos é frequentemente associado a comorbidades psicológicas, como ansiedade, depressão, TDAH, TOC e irritabilidade emocional, bem como a problemas fisiológicos, como distúrbios gastrointestinais, distúrbios do sono e dificuldades motoras.

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