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OPINIÃO

Polêmica de 'Som da Liberdade' faz filme ser maior do que ele realmente é

'Som da Liberdade' chega esta semana aos cinemas Imagem: Divulgação/Paris Filmes

De Splash, em São Paulo

20/09/2023 04h00

"Som da Liberdade" chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira (21) e, desde que foi lançado nos Estados Unidos, em 4 de julho deste ano, vem criando polêmica. O burburinho e as acusações de "ser de extrema direita" em torno da produção fizeram até mesmo com que um boicote começasse nas redes sociais.

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O filme é estrelado por Jim Caviezel, conhecido por ter vivido Jesus em "A Paixão de Cristo", e conta a história real de Tim Ballard, um ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos que deixou o serviço público para criar a organização Operation Underground Railroad (OUR), focada em combater o tráfico sexual de menores.

A produção acompanha a comovente história de dois irmãos hondurenhos sequestrados por traficantes e enviados para diferentes lugares. Sem revelar muito mais, "Som da Liberdade" então mostra os desafios de Tim Ballard para conseguir salvar as crianças. Entre suas aventuras, ele arma um esquema de dimensões cinematográficas em uma ilha paradisíaca e também enfrenta integrantes da FARC.

Toda essa narrativa torna o filme muito parecido com uma produção de super-herói. O protagonista tem crises internas e morais, mas sente que precisa seguir o "caminho do bem" para poder salvar o maior número de crianças possível.

O longa é protagonizado por Jim Caviezel, intérprete de Jesus em "A Paixão de Cristo" Imagem: Divulgação

Além de cenas de ação e tramas engenhosas com planos mirabolantes, "Som da Liberdade" usa e abusa da melodramaticidade, com trilha sonora dramática e frases de efeito previsíveis. Até aqui, nada de mais.

Confesso que, com tanta polêmica online sobre o longa, fui assistir esperando um posicionamento político escancarado. Desde o seu lançamento, a produção tem sido atrelada a discursos da extrema direita e a pessoas ligadas aos teóricos da conspiração do QAnon. No entanto, absolutamente nada no filme faz menção a algo remotamente próximo a isso.

Há também questões levantadas por veículos de mídia norte-americanos sobre a veracidade dos fatos apresentados, apontando que a Operation Underground Railroad teria salvo menos crianças do que eles dizem e que seus feitos são fantasiosos. Até agora, a mentira não foi provada, apenas há a questão no ar a ser desvendada.

Entenda, caro leitor, não estou aqui para dizer se os apontamentos são verdadeiros ou não, ou para defender "Som da Liberdade". Inclusive, a Vice publicou recentemente que Tim Ballard está envolvido em casos de abusos sexuais, o que espero que seja investigado e, caso ele seja culpado, seja punido.

Tim Ballard, que inspirou "Som da Liberdade", é acusado de má conduta sexual Imagem: Fred Hayes/Getty Images for Angel Studios

No entanto, é quase impossível não dizer que a tentativa de boicote deu errado. "Som da Liberdade" é um sucesso de bilheterias, com US$ 210 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão), um marco para uma produção de baixo orçamento — US$ 14,5 milhões (cerca de R$ 70 milhões).

Se este barulho não fosse feito, o longa chegaria aos cinemas e talvez passasse batido, sem ninguém perceber. Mas a tentativa de silenciar o longa fez com que a curiosidade aumentasse cada vez mais e levasse multidões aos cinemas.

Sejamos sinceros, "Som da Liberdade" é um filme medíocre. Ele não é ruim, mas é esquecível. Conta com cenas pesadas, daquelas de embolar o estômago apenas com o poder da sugestão e com atuações afiadas dos atores mirins, mas não passa disso.

'Som da Liberdade' acompanha dois irmãos que foram sequestrados por traficantes Imagem: Divulgação

Por outro lado, o discurso contra o filme pode se tornar problemático, afinal qual seria o problema em uma narrativa que luta contra o tráfico infantil?

Das acusações que ele vem recebendo, o que é possível dizer é que, sim, é uma produção católica. Deus é citado algumas vezes durante o filme e é tido como principal motivo para não se estuprar uma criança. É possível "acusar" o longa também de ter agradado o ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Ele chegou a promover uma sessão do longa em sua casa, com a presença de Jim Caviezel, Tim Ballard e do produtor Eduardo Verástegui.

"Som da Liberdade" tinha tudo para ser apenas mais um lançamento no cinema, que se perderia em meio às estreias. Mas, toda a polêmica e as tentativas de boicote fizeram com que ele fosse muito maior do que o filme realmente é.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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