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Manoel Soares: 'Pela lógica, o negro teria que ganhar três vezes mais'

Manoel Soares, 44, em entrevista ao podcast Inteligência Limitada, apresentado por Rogério Vilela no YouTube:

Ex-apresentador do Encontro explicou por que considera ser preciso ter equiparação salarial mais justa entre profissionais negros e brancos. "O salário que você ganha [sendo negro] não é só seu. Se trabalho na Globo, ganho cachê de R$ 20 mil no comercial que fiz, mas tem uma tia minha cujo filho, meu primo, está preso, eu tenho que ajudar. E meu primo está preso por quê? Porque o cenário social condicionou essa situação. Se aquele negão ganha o mesmo salário que você, com todas as fragilidades estruturais nas quais o povo preto foi colocado, esse salário na vida dele vale 60% a menos. Então, pela lógica, ele tinha que ganhar três vezes o que você ganha."

Manoel diz acreditar que muitos brancos, ainda que em tese apoiadores da luta antirracista, poderiam se sentir prejudicados por tal premissa. "Essa lógica de equiparação é uma lógica que dói, porque tem uma galera [branca] que quer meter o papo de aliado, mas ninguém quer dividir o privilégio. E dividir o privilégio é dividir o dinheiro!"

Ele ressaltou que a herança do período escravocrata ainda impõe um grande abismo social entre negros e brancos, embora muitos se neguem a reconhecer. "Você, talvez, seja um branco que se esforça para não reproduzir os equívocos dos seus ancestrais — mas você é beneficiado pelo que eles fizeram. Não estou falando que você tem culpa, estou falando que você tem responsabilidade. Com certeza, o que eles fizeram te colocou onde você está, e eu sou prejudicado pelo que seus ancestrais fizeram. Seu filho, com seis anos, tem um universo de perspectiva na vida que o meu não tem. Às vezes, para entregar para o meu filho uma possibilidade melhor na vida, sou obrigado a virar para você e dizer: 'mano, vamos dividir esse bolo'."

Manoel ainda comentou sobre o que é preciso para reverter esse quadro permanente de desigualdade racial. "Parte do processo é a redistribuição de privilégios. Aí, parceiro, eu espero que seja pela paz — porque, senão, vai ser [como em] Burquina Fasso, as guerrilhas dos países africanos. Vai ser leão de Tsavo, vai ser a gente [negros] devorando, porque a gente está cansado de sofrer."

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