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Como Buchecha percebeu que escalação de 'Nosso Sonho' estava 'errada'

De Splash, em São Paulo

25/09/2023 12h00

Quando Lucas Penteado e Juan Paiva foram escolhidos para estrelarem a cinebiografia de Claudinho e Buchecha, os planos eram que o resultado fosse o oposto do que chega aos cinemas nesta semana. Inicialmente, Lucas interpretaria Buchecha, e Juan seria Claudinho. Com o tempo, o diretor Eduardo Albergaria percebeu que era necessário inverter a ordem.

"A gente já tem uma dificuldade, que é fazer esses dois caras gigantes, né?", confessa Lucas, em entrevista a Splash. "E tem que fazer à altura de estar trabalhando com tanta gente incrível. Eu falei: 'Meu Deus do céu, será que a gente está pronto para isso?' E eu acredito que Deus escolha muito os momentos, ele honrou muito a mim e ao Juan. Era um sonho fazer uma cinebiografia, ainda mais dos dois maiores nomes, para mim, da música brasileira."

"Nosso Sonho" apresenta em primeiro plano a história de amizade de Claudinho e Buchecha, e mostra como eles foram alçados ao sucesso apesar da improbabilidade, diante das dificuldades financeiras e da ausência de contatos no meio musical. A escalação, aprovada pelo próprio Buchecha, levou em conta também a amizade pré-existente de Lucas e Juan, que trabalharam juntos em "Malhação: Viva a Diferença".

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"A amizade já existia, já estava dentro, então foi um detalhe pra gente", conta Juan. "A gente teve que se preocupar com outras coisas técnicas, câmera, luz e tal, uma vivência dos anos 80 e 90, a pesquisa de quem são esses dois caras e entender como eles viviam e como aquela realidade funcionava. Mas foi muito fácil termos a conexão, porque a gente já se entendia. Temos uma amizade que é muito sincera."

Um café da manhã que mudou tudo

Eduardo Albergaria, que tem em "Nosso Sonho" seu segundo trabalho de direção de um longa-metragem, é só elogios para a conexão de Lucas e Juan como Claudinho e Buchecha. Ele explica como foi decidido que era necessário inverter a escalação.

"Isso foi a melhor coisa que fiz no filme", escancara o diretor. "No processo de preparação do filme, eu sentia que o Juan fazia um esforço enorme para representar o Claudinho, e o mesmo se dava com o Lucas. Era um esforço quase de se aproximar de uma essência que não lhe é própria."

Segundo o diretor, ele e Buchecha perceberam que algo estava errado ao mesmo tempo. "Foi no dia que eu levei os dois para a casa do Buchecha. Ele abriu a casa dele, a gente tomou um café da manhã com a família e eu já com uma pulga atrás da orelha danada. Aí eu cutuquei e vi que o Buchecha estava sentindo a mesma coisa. Dois dias depois eu dei a notícia e foi como libertar os dois de um fardo."

A ideia, de fato, não poderia ter sido melhor. A irreverência de Lucas transparece e se mistura à personalidade de Claudinho, enquanto Juan cria um Buchecha mais reservado e tímido. "A essência do Lucas é muito Claudinho, porque ele chega chegando", conta Buchecha. "E o Claudinho era exatamente esse ser humano. O Juan tem muito isso de mim."

Histórias da periferia para o mundo

Falar de Claudinho e Buchecha hoje é, para além da nostalgia e da constatação de que a carreira da dupla foi composta por hit atrás de hit, entender que eles foram responsáveis por transformar o funk melódico em um fenômeno essencial para a desmitificação de um gênero musical que ainda vive na corda bamba entre a extrema popularidade e o preconceito.

"A galera tem uma visão sobre a própria favela que é muito distorcida", opina Juan, nascido e criado no Vidigal. "São pessoas que não vivenciam nada da favela. E o funk, pra mim, é o lugar da alegria, da união, de estar ali com o seu amigo no final de semana depois de ter trabalhado a semana inteira. O funk tem o poder de unir, e hoje não é diferente. Ele tem o poder de inspirar e revelar novos artistas, diamantes."

Lucas acredita que há uma importância política em filmes e histórias que falem de comunidades de periferia sem relacionar tudo a violência e tráfico.

"Reconhecendo que existem filmes vindo aí sobre artistas pretos e que vêm da periferia, e que foram muito bem contemplados, existe uma resposta para o mercado. Há uma mentira de que não tinha gente boa. 'Eu não pus preto porque não tinha um preto bom para ir. Não tem favelado porque não tinha um favelado bom'. Gente boa tinha, saca? Faltava essa vontade de correr atrás, porque não é mesmo fácil."

A visão sobre a periferia que as pessoas têm é aquilo que se vende. E se eu só vender violência sobre a periferia, só o que se fala sobre a periferia são coisas negativas. Precisamos construir a verdade cultural sobre a periferia em filmes, novela, música.
Lucas Penteado

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