Bebê-Diabo, que bombou em 1975, aterroriza redação em 'Notícias Populares'
A série "Notícias Populares", que ficcionaliza a história do jornal de mesmo nome, estreou na sexta-feira (29) no Canal Brasil e no Globoplay.
A obra reproduz o clima da redação da publicação e resgata manchetes que fizeram sucesso, como a do Bando do Palhaço e a do Bebê-Diabo, a mais memorável do "NP". O personagem é o foco do quinto episódio da série, que foca nas repercussões da história para os jornalistas.
"Notícias Populares" se passa no início dos anos 90, com o jornal em crise, sofrendo críticas pelo teor sensacionalista. A experiente Paloma (Luciana Paes) é contratada para chefiar os repórteres e modernizar o "NP". Para tanto, ela terá que driblar seus métodos e preconceitos para cobrir as notícias espetaculares do jornal.
Na série, o Bebê-Diabo é representado por uma criatura de olhos vermelhos e voz de ET Bilu. Em suas aparições, o bebê boca-suja deixa uma mulher "siririqueira" catatônica e xinga um taxista após pedir uma carona para o cemitério. A produção investe em cenas toscas e cafonas para dar o tom das publicações bizarras do jornal.
A redação fictícia vira um caos com o sucesso da história: pessoas surgem no jornal para darem seus relatos do Bebê-Diabo, uma freira aparece para "abençoar" o lugar e tudo fica com um clima de exorcismo.
Paloma (Luciana Paes) também vive um conflito interno com a história, dividindo-se entre a popularidade do Bebê-Diabo e a credibilidade da publicação. "Abraça o diabo", sugere um de seus colegas.
Veja a série com a mesma desconfiança que você teria lendo o jornal.
Marcelo Caetano, um dos criadores de "Notícias Populares" em coletiva de imprensa
"Sobre o Bebê-Diabo, temos muitas versões da história, então apurei, entrevistei pessoas envolvidas com a história e tinha muita informação conflitante. Criei a partir de algumas histórias o que teria acontecido, mas foquei bastante nas repercussões do Bebê-Diabo em si do que na descoberta. A gente tinha que adequar anos e décadas do jornal ao tempo em que a série se passa. [...] São fusões", explica Caetano.
O caso do Bebê-Diabo
"Nasceu o Bebê-Diabo em São Paulo", anunciava a capa do "Notícias Populares" em 1975. "Uma senhora deu luz num hospital de São Bernardo do Campo a uma estranha criatura, com aparência sobrenatural, que tem todas as características do diabo, em carne e osso. O bebezinho, que já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios", dizia a matéria.
A edição alavancou as vendas do jornal. Segundo a Folha de S.Paulo, o NP tinha uma tiragem média de 70 mil exemplares por dia. Durante a "saga" do Bebê-Diabo, esse número subiu para 150 mil exemplares.
A história rendeu outras 21 edições, com manchetes como "Viu o Bebê-Diabo e ficou louca", "Bebê-Diabo nos telhados das casas do ABC" e "Bebê-Diabo parou táxi na avenida".
O Bebê-Diabo era mais um exemplo do sensacionalismo do "NP", segundo o livro "Espreme Que Sai Sangue: Um Estudo do Sensacionalismo na Imprensa". Conforme o autor Danilo Angrimani, a história real era que, de fato, um bebê nasceu na maternidade de São Bernardo do Campo com pequenas saliências na testa e um prolongamento do cóccix, provavelmente causado por uma doença chamada mielomeningocele. Mas o "NP" decidiu dar um tom sobrenatural à história e alimentou a lenda urbana.
Os sete episódios de "Notícias Populares" vão ao ar no Canal Brasil às sextas, às 22h30, e estão disponíveis no Globoplay + Canais.