Adiar beijo de Kelvin e Ramiro pela audiência é um tiro no pé da Globo

Em meio a todas as intrigas e crimes em "Terra e Paixão", um casal rouba todo o carinho (e o interesse) do público: Kelvin e Ramiro, interpretados por Diego Martins e Amaury Lorenzo, respectivamente.

Quer dizer, "casal" é forçar um pouco a barra. Já são mais de cem capítulos no ar, e nada do romance progredir. Entre apertões, uma sequência infinita de sonhos e um selinho acidental à la "A Dama e o Vagabundo", quem torce para a evolução do relacionamento já está perdendo a paciência.

A gente entende: a ideia é mostrar como a homofobia internalizada de Ramiro o impede de viver os próprios desejos e adia a felicidade do personagem. Mas adia até quando?

Pode ser que adiar o beijo seja uma forma de garantir a audiência da novela até o último capítulo. Se for o caso, é um belo tiro no pé. Quem gosta do (futuro) casal não quer ver só beijo: queremos beijo, pedido de namoro, brigas pela toalha molhada em cima da cama e tudo o que envolve a rotina de um casal.

Que tal encerrar "Terra e Paixão" com um casamento dos personagens que carregaram a novela nas costas?

E mais: por acaso a homofobia internalizada de Ramiro vai acabar no beijo? Se o objetivo é mostrar as dificuldades de ser um homem gay num contexto como o da novela, a trama poderia abordar também como isso afeta o relacionamento dos dois.

Ao adiar o tão esperado beijo, Walcyr Carrasco não só priva os fãs de todos esses arcos, como também os obriga a assistir ao que só pode ser descrito como encheção de linguiça. A novela está na mesma há mais de um mês: já teve sonho de casamento, sonho erótico, sonho na escola, sonho de virar patrão... Ninguém aguenta mais os sonhos de Ramiro!

Cada quase beijo e cada interação carinhosa só aumenta a expectativa dos fãs para o momento em que os dois vão, finalmente, se beijar. Essa expectativa precisará ser correspondida com um beijão que a Globo, com seu histórico de censura a beijos gays, talvez não seja capaz de entregar.

Aliás, capaz com certeza é. Talvez só não queira, mesmo. E não importa se não quer porque é homofóbica, ou porque não quer desagradar os homofóbicos. Em pleno 2023, com direitos básicos em risco, não existe diferença entre os dois.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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