'É meu sustento': como Valesca vai do proibidão ao funk para família?
Valesca Popozuda despontou como integrante da Gaiola das Popozudas no início dos anos 2000. Esteve à frente do grupo conhecido por letras explícitas durante 12 anos, até decidir seguir carreira solo e lançar "Beijinho no Ombro", em 2013 — hit que representa uma virada de chave na carreira da menina de Irajá, no subúrbio do Rio.
Nos dez anos de carreira solo, Valesca alterna entre o proibidão, com letras explícitas que agradam os fãs da época da Gaiola das Popozudas, e o "funk light", com versos que conquistam principalmente quem conheceu a artista na última década. Seu mais recente single, "Mó Negoção", em parceria com Kevin O Chris, se encaixa na segunda categoria. Ele enaltece o "popozão" de Valesca e resgata a batida do tamborzão, tão característico do funk nos anos 2000.
Em conversa com Splash, a funkeira contou que precisa alimentar os dois tipos de públicos.
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"Tenho um público grande que vem desde a Gaiola, e eu amo cantar proibidão, mas também tenho um público muito familiar, que conheceu a Valesca pela TV ou por um reality, que virou fã depois de 'Beijinho no Ombro'. Hoje, tenho um público de A a Z... Muita criança curte o meu trabalho. Fico impressionada porque nunca fiz um trabalho voltado para eles. Isso vem da referência da família, da mãe, pai ou tia que escuta em casa e acaba entrando no ouvido das crianças."
Valesca não esconde que ama cantar funk e comemora o espaço que o gênero tem ganhado mundo afora. Lamenta quem ainda torce o nariz, em especial, para o proibidão. Seu último EP lançado, o "De Volta Pra Gaiola" (2019), relembrou o início da carreira com letras explícitas atualizadas, mais focadas no prazer feminino.
As letras de funk, para Valesca, refletem o que é vivido pelas pessoas. "Quando a gente canta um proibidão, as pessoas torcem o nariz, 'ai, cantando palavrão'. Eu penso e falo: 'se você não gosta, você não é obrigada a dar play. Ouvir para quê? Para macetar e criticar nosso movimento. Tem que respeitar a nossa arte. É trabalho, gera empregos. É meu sustento e de minha família. Um trabalho digno como qualquer outro."
Fulano me crítica porque falo que 'ia sentar não sei aonde' ou porque tô botando minha bunda para o alto.... Porr*, será que ninguém transa nessa vida? Será que ninguém faz sexo, ninguém geme? A gente luta pra cada vez mais pessoas respeitarem nossa arte.
Valesca Popozuda
Considerada precursora do funk carioca, assim como Tati Quebra-Barraco e Deise Tigrona, Valesca credita ao gênero ter realizado sonhos e transformado a vida de sua família. A cantora usou a música para superar a infância humilde no Rio e realizar sonhos como aposentar a mãe, dona Regina Célia, ex-empregada doméstica.
"Eu saí de casa muito nova, com 15 anos. Larguei minha mãe e fui em busca de dar uma vida de rainha para ela. Por todo o sofrimento que eu a vi passar. Ela trabalhava em casa de família e chegava em casa chorando. Às vezes, a patroa era mais grossa, o que acontece com muita gente até hoje. Eu olhava aquilo e falava assim: 'esse cenário vai mudar'".
A realidade começou a mudar quando entrou na Gaiola das Popozudas em 2000. "Hoje, graças a Deus, minha mãe tem o tetinho dela. Trabalha se quiser. Adora costurar, tem todas as máquinas possíveis que você pode pensar. Se quiser costurar na casa dela pra alguém, ela costura... O funk me trouxe a realização de sonhos. O que eu quero é viver bem e sustentar minha família... E sou rica de saúde, também é importante (risos)".
"Mó Negoção"
Valesca Popozuda entrou na onda de reverenciar os anos 2000 ao lançar "Mó Negoção", em parceria com Kevin O Chris, recentemente. A faixa viaja à atmosfera do início da carreira de Valesca ou fortalecer o som do tamborzão — o que nunca saiu de moda, segundo Valesca.
"O funk 2000 tá voltando com tudo. Mas o batidão sempre esteve presente... Se você pegar os lançamentos do Kevin, sempre tem esse tamborzão raiz. Costumo dizer que o Kevin, ele lança moda, ele não é modinha, além de ser um cara incrível e que se joga mesmo. Ele sabe fazer o 'mó negoção' direito... E eu gosto de viajar por becos e vielas. Gosto de me jogar em tudo."
Na música, ela canta sobre a liberdade da solteirice e as delícias da individualidade. Em um dos versos, diz que está "off para o romance". Isso reflete a vida real?
"A Valesca tá amando muito. Eu mesma. (risos) Off pra romance total. Cachorrona na pista. Estou solteira há seis anos. Tô feliz, me amando e me curtindo cada vez mais. Tô muito focada no meu trabalho. Às vezes, até gosto de ter alguém, mas quando eu penso, gente, é muito trabalho. Nunca fui de dar satisfação, mas quando você tá num relacionamento, você tem que estar ali junto a dois, né? Não, eu quero curtir, sair, se eu tiver que beijar cinco ou dez na noite, eu vou beijar."
Ainda neste mês, Valesca lançará uma música em parceria com Dennis DJ. Em novembro, ela sobe ao palco do festival Rock The Mountain, em Petrópolis (RJ), ao lado de Tati Quebra-Barraco para show que reverência a carreira das artistas. E já pensa no Carnaval de 2024: ela retomará o projeto Carnavalesca e desfilará como musa da Unidos do Porto da Pedra, agremiação de São Gonçalo que retorna à elite do carnaval carioca.