Banheira, Sushi Erótico, PCC: a guerra de audiência entre Faustão e Gugu
De Splash, em São Paulo
08/10/2023 04h00
João Guilherme Silva, filho do Faustão, e João Augusto Liberato, filho de Gugu, estarão na Batalha do Lip Sync, hoje, no Domingão com Huck (Globo). O quadro vai ao ar no mesmo dia da semana em que os dois comunicadores protagonizaram a maior guerra de audiência da TV brasileira, entre as décadas de 1990 e 2000.
Para entender a guerra dos domingos, no entanto, é preciso voltar uma casa. A disputa teve início aos sábados, enquanto Gugu comandava o Viva a Noite e Faustão, o Perdidos na Noite (TV Gazeta, Record e Bandeirantes, 1984-1988). A diferença era que, nessa época, a concorrência era considerada mais saudável, e o apresentador do SBT chegou a visitar o programa do colega.
Entretanto, em 1988, começou a se desenhar a rivalidade que mudaria a televisão nacional. A Globo, que havia perdido Gugu para Silvio Santos, contratou Fausto Silva para concorrer com o dono do SBT.
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O Domingão do Faustão, lançado em março de 1989, conseguiu desbancar o rei dos domingos e o cenário nunca mais foi o mesmo. Já o Domingo Legal estreou na programação do SBT anos depois, em janeiro de 1993.
Vale tudo. O período de maior concorrência, em especial no fim da década de 1990, foi marcado por um "vale tudo" em busca da atenção do público. De um lado, o Domingo Legal levava a nudez ao limite com a Banheira do Gugu. De outro, o Domingão exibia um Sushi Erótico servido sobre mulheres nuas em um restaurante japonês.
A disputa também impactava a agenda dos grandes nomes da música, principalmente a das duplas sertanejas, como Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo. Se uma dupla fosse no programa de Gugu, ela tinha que esperar um tempo até se apresentar no Faustão. E vice e versa.
Faustão se manteve à frente no ibope a maior parte do tempo, mas era constantemente ameaçado por Gugu, que muitas vezes superava a audiência da Globo em São Paulo — que ainda é considerado o maior mercado publicitário do Brasil.
Farsa do PCC
O cenário mudou significativamente após Gugu Liberato levar ao ar uma entrevista com falsos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), no dia 7 de setembro de 2003. O apresentador viu o prestígio e parte da audiência fugirem após a descoberta da farsa.
Dias depois, durante participação do Programa da Hebe, ele pediu desculpas às personalidades ameaçadas pelos supostos bandidos e afirmou não ter visto o material antes de ir ao ar.
À época, Hebe Camargo deu um conselho para o amigo. "Não sofra tanto por um negócio de audiência, meu amor. Você tem o seu programa há tantos anos, é tão querido. Quando um programa dá dois ou três pontos a menos, você tem uma audiência magnífica. Não tem que sofrer por causa de dois, três pontos que o Faustão ganha. De repente, no outro domingo, o público acha que o seu programa está melhor", disse.
As retaliações começaram no bolso. A Petrobras cancelou uma mega campanha publicitária com Gugu. O Domingo Legal, que faturava até R$ 750 mil, viu o montante cair para R$ 400 mil duas semanas após o escândalo do PCC.
O Ministério da Justiça advertiu o SBT, e o Tribunal de Justiça ordenou a saída do Domingo Legal do ar. Durante duas semanas, a emissora preencheu o horário com reprises do Programa do Ratinho, Grammy Latino e Troféu Imprensa.
Ao vivo
Uma campanha publicitária uniu Faustão e Gugu, ao vivo, em 2003. O sinal foi transmitido ao mesmo tempo por SBT e Globo e mostrou a interação dos dois apresentadores, algo extremamente raro naquela época.
"Ao contrário do que muita gente até gostaria, nós somos concorrentes, jamais fomos inimigos. Muito pelo contrário. Por isso, a gente tá muito feliz", comentou Faustão, após a imagem de Gugu surgir ao vivo nos telões do Domingão do Faustão. "Acho que o Brasil inteiro nunca imaginou um momento como esse", respondeu o então apresentador do SBT.
Em 2019, após Gugu morrer em decorrência de um acidente doméstico, Fausto Silva prestou homenagem ao apresentador. "Embora não tivéssemos amizade, sempre tivemos uma relação muito cordial e educada. Nós, que disputamos a audiência por muitos anos, fomos adversários, mas jamais inimigos. Aqui, da galera do Domingão, uma homenagem a Augusto Liberato, que foi uma das figuras mais importantes da história da televisão no Brasil."