'BlackBerry' conta 'história complicada de fracasso' do pai do smartphone
Em meio à onda de filmes sobre "coisas", como "AIR: A História Por Trás do Logo" e "Tetris", "BlackBerry" estreou na última quinta-feira (12) no Brasil.
O longa-metragem conta a história do primeiro smartphone com foco nas pessoas que fizeram tudo acontecer: Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Doug Fregin (Matt Johnson), os melhores amigos por trás da tecnologia, e Jim Balsillie (Glenn Howerton), o empresário durão que assume a parte dos negócios.
Foi o fator humano da história, aliás, que chamou a atenção de Matt Johnson, que além de interpretar um dos protagonistas, dirige a comédia dramática.
"Inicialmente, o que me inspirou foi a ideia de ser uma história famosa e complicada de fracasso no Canadá. Lá, todo mundo via o BlackBerry como um aparelho triste e malsucedido e eu não sabia nada sobre ele. Quando li o livro ["Losing the Signal", de Jacquie McNish], pensei: 'Ah, os caras que fizeram esse telefone são pessoas interessantes'. Pela primeira vez, parecia que havia uma grande história sobre uma tecnologia importante que ninguém conhecia, então pensei que talvez pudesse fazer algo com meu estilo", conta Johnson, em entrevista a Splash.
A trama frenética acompanha desde a concepção do aparelho, o sucesso do BlackBerry (que, de tão viciante, ganhou o apelido de "crackberry") ao início da queda, com a entrada do primeiro iPhone no mercado em 2007. O auge da companhia foi há 12 anos, em 2011, quando atingiu 85 milhões de usuários em todo o mundo. Hoje, a BlackBerry não produz mais celulares e se dedica apenas ao ramo da cibersegurança.
Para o diretor, a tentativa de "vencer" a Apple foi um dos motivos do fracasso da empresa.
"Eu acredito que se eles tivessem tentado fazer uma solução de baixa tecnologia, passando 'por baixo' do iPhone e fazendo um celular que só mandasse mensagens, e-mails e fizesse ligações, o mercado poderia ter achado isso legal", avalia.
Hoje, vejo tantas pessoas desejando ter um celular que fizesse menos. Poderia ser o BlackBerry. Matt Johnson, diretor de "BlackBerry"
Entre outros motivos que contribuíram para a derrocada do BlackBerry, o choque de personalidades entre Lazaridis, Fregin e Balsillie se destaca na produção. É nos conflitos entre o empresário agressivo e os nerds que estão os momentos mais divertidos do filme. Por isso, surpreende que Balsillie, retratado como um homem implacável, ambicioso e de humor volátil, tenha sido o único entre os "personagens" a aprovar o filme publicamente.
"Ele estava na estreia no Canadá e teve uma boa postura em relação ao filme. Ele estava bastante animado e foi bastante bajulado após a exibição. E ele é um cara enorme de musculoso. [...] Se eu soubesse disso, teria feito as coisas de forma diferente", brinca.
Howerton, aliás, brilha no papel de Balsillie. Quem já assistiu à comédia "It's Always Sunny in Philadelphia" (Star+) pode reconhecer algo dos ataques de raiva do ameaçador Dennis Reynolds no personagem, o que também influenciou Johnson na hora da escalação.
"Ele tem um talento sinistro para gritar e berrar a plenos pulmões enquanto mantém um ar de sanidade. Quando ele grita com as pessoas, eu acredito nele e simpatizo com ele. [...] Era esse ar de simpatia que eu queria que Jim Balsillie operasse no filme. Alguém que pudesse ficar irritado, mas de uma forma razoável. Alguém que nunca é malicioso e sádico, mas está sempre gritando. Isso me pareceu interessante", explica.
O diretor tem certa dificuldade para encontrar lições em "BlackBerry" para era da inteligência artificial (da qual ele diz "não ter medo"), mas espera que o filme sirva de alerta.
"Espero que a arrogância e o pensamento de que 'os fins justificam os meios' dos personagens de 'BlackBerry' seja um aviso para pessoas que acham que podem controlar totalmente a realidade e façam com que elas tenham pelo menos alguma humildade", finaliza.
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