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Guerra, Senna, tráfico humano: as maiores reportagens de Roberto Cabrini

O trabalho do jornalista Roberto Cabrini na cobertura da guerra entre Israel e o Hamas tem chamado a atenção do público — mas essa não é a primeira vez que o jornalista se coloca no centro de um conflito armado em prol da profissão.

Em 1996, quando o Talibã ascendeu ao poder no Afeganistão, ele era o único repórter brasileiro no local. Cabrini também foi correspondente internacional em conflitos no Camboja (1990), na Palestina (1967-1993), na Guerra dos Curdos (1991), na Caxemira (1999) e, no ano passado, na Ucrânia.

Em entrevista a Splash no ano passado, Cabrini contou que o maior desafio da cobertura na Ucrânia era a alimentação: "Nos últimos tempos, passou-se a adotar um toque de recolher de 35 horas, então era muito comum termos apenas o café da manhã. Você comia o que era possível e só se alimentava de novo no dia seguinte", relembrou.

Meu objetivo foi trazer o olhar brasileiro para a guerra e apesar de ser algo arriscado, sou privilegiado por poder trazer aos brasileiros a nossa visão. Assim, comprovamos alguns conceitos e desmistificamos outros. Roberto Cabrini

No entanto, o maior desafio de sua carreira não foi uma cobertura de guerra. Cabrini estava no Autódromo de Imola quando Ayrton Senna morreu, em maio de 1994. Em entrevista ao Memória Globo, ele afirmou: "Na minha carreira, tive a chance de cobrir cinco guerras que me desafiaram, testaram meu equilíbrio. Mas acho que nada foi mais desafiador, para mim, do que noticiar a morte de Ayrton Senna. Eu cobria todas as corridas de Fórmula 1 na época".

Em entrevista ao especial de 70 anos da Record, ele falou sobre a dificuldade de conciliar a emoção com o dever do trabalho: "Eu já tinha noção da gravidade, e quando cheguei ao hospital — fui um dos primeiros jornalistas a chegar — percebi, pelo comportamento dos médicos, que não tinha salvação. Eu sabia que iria anunciar a morte de Ayrton Senna. Eu estava abalado, do ponto de vista pessoal, mas eu também sabia que havia todo um país à espera das minhas informações".

A profissão também já rendeu frustrações. Em 1993, quando PC Farias estava foragido, Cabrini localizou o tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello em Barcelona. Ele chegou a entrevistá-lo, mas teve contratempos e não conseguiu finalizar a matéria a tempo do Jornal Nacional:

"Gravei a entrevista com ele e saí que nem um louco para gerar matéria. Peguei congestionamento, cheguei atrasado, não consegui gerar a tempo do Jornal Nacional. Eu tinha um furo de reportagem na mão, mas os editores do Rio resolveram guardar para o dia seguinte. Na mesma noite, a Folha de S. Paulo deu a matéria. Foi a maior frustração que tive na vida. Mas também foi a energia de que precisava para fazer o que veio depois", disse em entrevista ao Memória Globo.

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Seis meses depois, ele conseguiu localizar PC Farias em Londres, num furo ainda maior de reportagem. "Veiculamos a matéria no Jornal Nacional. A repercussão foi brutal, algo impressionante. Eu tive de ficar por três dias em endereço desconhecido porque as pessoas, como não conseguiam chegar até o PC, vinham atrás de mim", relembra Cabrini. PC Farias teve a prisão preventiva decretada pelo governo britânico, e foi detido um mês depois na Tailândia.

Uma reportagem de Cabrini já influenciou a ação da ONU. Em 1998, o jornalista era correspondente da Globo em Nova York e decidiu fazer uma reportagem sobre o tráfico de crianças no Sri Lanka: "Eu denunciei isso. Quase um ano depois, voltei lá e provei que continuava acontecendo. Muito em função dessa reportagem, exibida no Fantástico, a ONU tomou providências e conseguiu diminuir o tráfico de crianças", explicou ao Memória Globo.

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