Sem escolta e ao som de míssil, Cabrini revela desafios na guerra em Israel
Roberto Cabrini, 63, parece não ter medo de nada. O repórter da Record participou de diversas coberturas jornalísticas que podem ser consideradas perigosas: ele esteve no Afeganistão durante a tomada de poder pelo Talibã, em 1996, e foi até a Ucrânia, no ano passado, para mostrar a invasão russa. Agora, com a guerra em Israel, não poderia ser diferente.
O grupo extremista Hamas foi responsável por um ataque surpresa a Israel no dia 7 de outubro, levando este Estado a declarar guerra contra a organização. Um dos atos terroristas foi o massacre de 260 pessoas durante uma festa de música eletrônica que acontecia ao sul do país, próximo à Faixa de Gaza. O local ficou conhecido como um dos primeiros lugares a ser atacado durante a invasão e, por isso, uma das localidades escolhidas por Cabrini para realizar sua cobertura. As reportagens estão sendo veiculadas nos programas jornalísticos da TV Record
Direto de Jerusalém, em Israel, Roberto Cabrini concedeu uma entrevista exclusiva a Splash.
Foi uma missão muito arriscada [ir até o local] pelo fato da área ser um palco de guerra, mas imprescindível para a compreensão dos fatos que desencadearam o conflito.
Roberto Cabrini
A ida até o local não foi simples, pois não havia escolta militar para acompanhar a reportagem e não era possível utilizar o sistema de GPS, uma vez que Israel utiliza um mecanismo que interfere no funcionamento, justamente para dificultar a circulação na área. "Para conseguirmos chegar, foi necessário estudarmos bem o terreno."
Ao chegar na localização certa, a equipe precisou trabalhar em meio ao som de mísseis e foguetes que eram lançados pelo Hamas. "Quando estávamos lá, era preciso trabalhar com rapidez."
Conseguimos um documento importante e, mesmo com tudo o que aconteceu, compensou.
Roberto Cabrini
Roberto Cabrini conta que os desafios se iniciaram antes mesmo de começar a reportar a guerra. O jornalista entrou em território israelense na segunda-feira após os primeiros ataques, através da Jordânia, mas enfrentou momentos de tensão, pois todos os voos estavam sendo cancelados.
"Foi muito desgastante: eram filas enormes e não eram todas as pessoas que a fiscalização deixava passar. Tive que passar por diversas inspeções e demorei umas seis horas para conseguir cruzar a fronteira. Durante todo esse tempo, não tive certeza de que conseguiria entrar no país, porque a fronteira ficava abrindo e fechando."
Uma vez em Israel, foi preciso se acostumar com os estridentes alarmes que anunciam mísseis e pedem à população que se abrigue em local seguro. "Não há a opção [de não se acostumar]. Na cobertura de uma guerra, as sirenes fazem parte da rotina. Procuramos nos concentrar ao máximo na missão a ser realizada. Isso é determinante para controlar as emoções e agir sempre com racionalidade, mesmo em situações limite."
Ao ouvir o aviso sonoro, os civis devem ir a um "bunker", um abrigo subterrâneo antibombas. Segundo Cabrini, são "espaços apertados, com paredes de concreto duplo — embora também existam os mais confortáveis. Em uma guerra são lugares tão necessários quanto angustiantes."
No entanto, os abrigos não são novidades para o repórter: em 1995, ele esteve em Gaza para entrevistar Yasser Arafat, o líder palestino à época. "Trata-se de uma região pobre e superpopulosa. Agora, estamos percorrendo a fronteira, mas espero ainda documentar a Gaza atual do ponto de vista da população civil."
Em Israel há mais de uma semana, e sem data para retornar ao Brasil, Roberto Cabrini não tem conseguido dormir bem, primeiro em decorrência da diferença de fuso, mas também pela instabilidade do conflito. Quanto ao acesso à comida e à água, "está normal" em Israel, diferentemente de Gaza. "Está caótico. A população tem estocado comida. Teme-se uma guerra longa. Em Gaza, a situação já é crítica e, em determinadas áreas, falta tudo: água, comida e energia."
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Quero receber'Componente teológico'
Em 2022, o jornalista falou a Splash sobre a experiência de cobrir a invasão russa na Ucrânia, com toques de recolher e a população tentando viver uma certa "normalidade" dentro do possível. No atual conflito, ele percebe algumas diferenças, como a falta de um toque de recolher oficial, e a ligação religiosa que a população tem com a guerra, entre israelitas e islâmicos.
"Aqui existe um componente teológico importante que não encontramos na Ucrânia, além da guerra se desenvolver em uma área muito menor, alterando a logística da cobertura. Na Ucrânia, os deslocamentos eram mais difíceis e as armas mais potentes, mas aqui os ataques são muito mais imprevisíveis e envolvem radicalismo extremo."
A história mostra que nações não sucumbem quando têm sua população engajada na defesa de seus valores históricos e sociais. Não há aqui quem não esteja disposto a se sacrificar por aquilo que acredita.
O ponto em comum, no entanto, não passa despercebido: "é o fato de ser sempre a população civil quem paga o preço mais alto".
Repercussão
No Brasil, a notícia que Roberto Cabrini está em Israel tem gerado debate nas redes sociais, com alguns usuários perguntando se o repórter não sente medo ou arrependimento. "Trabalhamos em um ritmo muito intenso. Não dá tempo para se deixar dominar pelo medo."
Cobrir guerras são oportunidades de documentar rupturas e transições da história. E sempre estar atento às violações dos direitos da população. Essas coberturas definem seu grau de comprometimento para com a profissão e nunca pensei duas vezes.
Quanto às manifestações até mesmo "engraçadas" sobre a sua cobertura de guerra, como o apelido de "007 da notícia", Cabrini é modesto: "São manifestações de carinho que me tocam bastante, mas no final do dia, sou sim apenas um jornalista totalmente comprometido com meu ofício."
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