Ex-Fantástico desvendou facções criminosas e expôs sua relação com Estado
De Splash, no Rio
21/10/2023 13h16
O jornalista Carlos Roberto Amorim da Silva morreu hoje em São Paulo, aos 71 anos. Diretor do Fantástico (Globo) na década de 1990, o carioca deixa mulher e quatro filhos. Causa da morte não foi divulgada.
Também escritor, ele se debruçou sobre a história do crime organizado no Brasil, o que resultou em uma trilogia lançada pela editora Record — o que lhe rendeu o Prêmio Jabuti duas vezes.
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No primeiro livro, remontou a história da formação do Comando Vermelho (CV). No segundo, explicou como a facção carioca fez aliança com o Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo e como se deu a expansão das duas facções por países vizinhos. Por fim, em "Assalto ao poder", ele se dedicou a mostrar a infiltração do crime em instituições do Estado e do mercado.
Em 2017, em entrevista ao Valor Econômico, ele explicou a ligação entre o crime comum e a política e outras instituições. "A atuação das organizações criminosas em escala global movimenta, anualmente, de acordo com a ONU, algo entre US$ 3 trilhões e US$ 4 trilhões. É maior do que o PIB do Brasil... O crime organizado começa na favela e termina em Wall Street... É uma operação criminosa transnacional que envolve gente de todos os tipos, de todos os escalões sociais, e governos também."
Ele acreditava que o Brasil, depois do México, tinha o segundo caso mais grave da América Latina, depois do México, por ter um sistema prisional que fortalece as facções criminosas.
As condições carcerárias no país são tão péssimas que elas fomentam o surgimento de grupos organizados para resistir a essas condições. O fato de que o sujeito se organiza na cadeia é para sobreviver.
Carlos Amorim ao Valor Econômico
Carreira
Carlos Amorim atuou como diretor do Fantástico de 1991 até 1992. Ele conferiu uma linha editorial focada em problemas urbanos, e trabalhou em denúncias e investigações no programa.
Ele também foi fundador do Jornal da Manchete, da extinta TV Manchete. Lá, ele atuou como diretor da Divisão de Programas de jornalismo.
Amorim trabalhou 19 anos nas Organizações Globo. Cinco deles foram no jornal O Globo, como repórter especial, e 14 anos na TV Globo. Foi chefe de redação do Globo Repórter, editor-chefe do Jornal da Globo e do Jornal Hoje, diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo, e diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo.
Na Bandeirantes, trabalhou na rádio e televisão. Carlos foi o responsável por implantar o canal de notícias BandNews. Na Record, ele foi o criador do Domingo Espetacular.
O profissional venceu prêmios importantes da profissão. Em 1994, venceu o Jabuti com o livro "Comando Vermelho - A história do crime organizado", além dos prêmios Simon Bolivar e Vladimir Herzog.
Em 2006, como um dos diretores da linha de shows do SBT, ganhou o Prêmio Comunique-se de Melhor Talk Show do ano, com o programa Charme, apresentado por Adriane Galisteu.
Carlos Amorim escreveu, produziu e dirigiu mais de 50 documentários de televisão. Nos últimos anos, fez trabalhos independentes. Também mantinha seu próprio site, no qual compartilhava notícias, análises socio e geopolíticos e comentários