Elza Soares: filme de último show traz áudios de Paulo Gustavo e Caetano

Durante o processo, no entanto, uma das primeiras mensagens com as quais ele se deu foi do humorista Paulo Gustavo, que morreu em 2021 em decorrência de complicações da covid-19. No áudio, o comediante dizia que era fã da cantora: "Quem está falando aqui é o Paulo Gustavo. O meu sonho dourado é gravar uma coisa com a Elza Soares".

Segundo relatou o diretor, o humorista planejava um programa de entrevistas no Multishow. A ideia era levar personalidades como Elza, Caetano e Maria Bethânia para uma casa, na região de Petrópolis. "É muito engraçado porque ele conta ali, vou dar um spoiler, ele fala que quando era jovem, ele foi a um baile, numa festa no Rio de Janeiro, e se declarou para a Elza, e falou que para ela dar alguma coisa para levar. Ela deu um beijo na boca dele."

Há também um áudio enviado por Caetano, logo após escutar o álbum "A Mulher do Fim do Mundo" (2015) — projeto aclamado pela crítica e vencedor do Grammy Latino em 2016. Trabalho em que a cantora mergulha nas próprias dores para dar voz a questões como violência contra as mulheres, racismo e a inevitável finitude da vida.

"Caetano mandou um áudio lindo, também emocionado, logo após ouvir o álbum 'A Mulher do Fim do Mundo'. O Chico Buarque mandou um vídeo no aniversário dela, que foi a Carol, esposa do Chico, que gravou", comentou Cassius Cordeiro.

Apenas dois áudios foram gravados após a morte da cantora: Jorge Aragão e Maria da Penha. "Eu queria um áudio dele, que eu achava muito importante dizer que a Elza foi a primeira cantora a gravar o Cacique de Ramos, o pessoal do Cacique de Ramos, aquela turma jovem que estava despontando, e ela não tem esse crédito. E eu peguei um depoimento que eu achei superimportante que foi o da Maria da Penha."

Elza no Municipal

A escolha do local não foi aleatória. O projeto, que a princípio daria forma a um DVD de "Planeta Fome" (2019), mudou de forma ao longo do processo por causa das restrições impostas pela pandemia de covid-19. O local foi escolhido, segundo Pedro Loureiro, empresário e diretor artístico da cantora, como uma forma de reparar uma injustiça do passado, quando Elza foi cortada de uma apresentação no teatro.

"Ela sentiu aquilo como um corte por motivos raciais e machistas. Essa foi a descrição dela. Ela falou comigo da seguinte forma: 'Pedro, eu era mulher demais, preta demais e pobre demais para cantar no Theatro Municipal de São Paulo.' E eu tomei isso para mim. E a partir daí comecei a desenhar internamente", lembra Loureiro.

Elza pediu que a apresentação contasse com um público formado por pessoas que nunca tiveram a oportunidade de pisar no Municipal. "A Elza teve uma ideia. Ela falou: 'Pedro, você vai conseguir uma coisa para mim: eu só vou te pedir isso. Eu preciso ter lá, que seja 50, 30 pessoas, mas eu quero naquela plateia o meu povo preto e o meu povo pobre. Se eu estou ocupando aqui, eu estou ocupando pela minha gente. Eu estou ocupando pelo meu povo'."

Ela estava se sentindo muito bem. Eu poucas vezes nesses sete, oito anos de convívio muito extremo com a Elza, porque eu era amigo dela anteriormente, poucas vezes eu vi a Elza ansiosa. Se eu vi a Elza ansiosa, tá? E a Elza estava ansiosa nessa semana. Ansiosa com a gravação Pedro Loureiro, empresário e diretor artístico

A produção mostra o último show da cantora, gravado no Theatro Municipal de São Paulo dois dias antes de morrer. O documentário, que também traz áudios e depoimentos inéditos de grandes nomes da cultura nacional, conta com 15 das mais emblemáticas faixas interpretadas por Elza ao longo da vida.