Vítima de Kat Torres diz ter sido obrigada a se prostituir com ricaços
Colaboração para Splash, em São Paulo
29/10/2023 22h19
Desirrê Freitas, 27, que foi discípula da coach espiritual Katiuscia Torres Soares, 34, conhecida como Kat Torres, presa em novembro de 2022 acusada de tráfico humano, descreveu em um livro tudo que viveu ao lado da brasileira autodeclarada bruxa, que supostamente liderava uma "seita".
Em entrevista ao jornal O Globo, Freitas disse ter sido vítima de Torres e vivenciado uma rotina de exploração sexual, violência física e manipulação psicológica imposta pela coach. Segundo narra no livro "@searchingDesirrê - Minha Jornada pela Liberdade", ela foi "vítima de tráfico humano, abuso emocional, estupro, situação análoga à escravidão e uso de entorpecentes".
Relacionadas
A jovem explicou que começou a seguir Kat Torres nas redes sociais em 2016, à época com 20 anos, e teve a primeira consulta com ela em 2018. Desde então, mantiveram uma relação de proximidade até 2022. Desirrê chegou a deixar a Alemanha, onde morava, e viajou para os Estados Unidos para ajudar a líder espiritual, quando ela diz que passou a ser explorada.
"Eu cheguei lá e, num primeiro momento, tudo parecia normal. Depois ela conseguiu me influenciar, me manipular e me convencer a trabalhar nos clubes mediante ameaças. Comecei fazendo programas de até mil dólares, e depois surgiram clientes que pagavam até US$ 20 mil. Eram clientes poderosos, atletas famosos, empresários, políticos, produtores de Hollywood. Um deles, a Kat viu que era o que pagava melhor, e me convenceu a tirar o DIU para engravidar dele. Depois, ela mudou de ideia, mas eu já tinha tirado e não pude parar de trabalhar em nenhum momento. Por conta disso, peguei uma infecção, fiquei doente, tive que tomar antibiótico", declarou.
Desirrê Freitas afirmou que era "forçada a fazer tudo que os clientes queriam para arrecadar mais dinheiro", como, por exemplo, o uso de drogas. "Ela já sabia a influência que ela tinha na minha vida e das seguidoras. Sabia de toda a minha vida, conhecia todos os meus pontos fracos e fortes. Sabia que minha relação com meus pais, por mais que tivesse contato com eles, no passado não era das mais harmoniosas e usou isso para manipular. Falava que todos estavam contra nós, que só podíamos confiar nela e na 'Voz'. Obviamente, nada aconteceu do dia para a noite. Ela me manipulou por anos, me convenceu e eventualmente cortei contato com todo mundo. Quando tudo estourou na mídia ela dizia: "Olha o que fizeram com você, destruíram a sua vida". E eu não via na época que estavam me ajudando... pensava apenas que estava sendo exposta", explicou.
Freitas foi resgatada em 2022, quando voltou a morar com a família no Brasil. Hoje, ela afirma que seu livro é um "alerta" para que outras pessoas não passem pela mesma situação. "Escrevo meu livro como alerta. Não pude evitar o que aconteceu. Pessoas tentaram me alertar, e eu não conseguia ver os sinais. Eu me importava com ela, que tinha se tornado uma pessoa próxima a mim. Aceitar que ela foi capaz de fazer tudo isso foi o mais difícil".
Por fim, a jovem disse desejar que Kat Torres seja punida pela Justiça. Em nota ao O Globo, a defesa da coach espiritual negou as acusações de Desirrê, classificadas como "oportunismo midiático e a busca do sucesso a qualquer custo".
O caso
Kat foi presa em novembro de 2022 em Minas Gerais, após desembarcar de um voo vindo dos Estados Unidos, acusada de tráfico humano e de manter pessoas em situação análoga à escravidão.
Em abril deste ano, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou um pedido da defesa para que a coach deixasse a o presídio feminino de Bangu, no Rio de Janeiro, onde está presa. A defesa recorreu da decisão, mas a Corte ainda não analisou o pedido.
O MPF (Ministério Público Federal) e a Polícia Federal investigam se Kat Torres criou uma seita para atrair brasileiras aos EUA e explorá-las de várias formas. De acordo com o jornal O Globo, ela foi acusada de usar a espiritualidade para manipular dezenas de jovens.