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'Eu trabalho e estudo': como se organizam fãs que acampam para ver o RBD?

De Splash, no Rio e em São Paulo

07/11/2023 04h00

Eles são rebeldes, mas também passam perrengues! Fãs do grupo RBD acampam há meses em frente aos locais que realizarão os shows dos mexicanos no Rio e em São Paulo. Há diferenças entre os estados, mas também similaridades, histórias curiosas e muita ansiedade para receber Anahi, Dulce Maria, Maite Perroni, Christopher Uckermann e Christian Chávez.

O primeiro show no Brasil acontece no Rio, na próxima quinta-feira (9). Em frente ao estádio do Engenhão, existem sete barracas montadas. Os integrantes da B.1, como eles chamam cada barraca, chegaram por lá no dia 6 de setembro para uma "prova de sobrevivência" de mais de dois meses.

Diferentemente do que muitos podem imaginar, eles têm regras para manter o acampamento. Cada barraca tem cerca de 30 pessoas que se revezam em três turnos diários. Há a recomendação pelos "administradores" dos grupos para que todos façam o mesmo número de turnos.

Algumas barracas alugaram kitnets — por até R$ 2 mil — próximas ao estádio para ajudar na hora de ir ao banheiro e tomar banho. "Temos uma escala semanal. Temos local para tomar banho, comemos do outro lado da rua. Não é assim, ao deus-dará", explica Rick Martins, 33, profissional de Marketing.

A organização, porém, não livra os fãs de passarem por perrengues, sejam intempéries do tempo, ou xingamentos de pessoas que não entendem o amor dos fãs. Já teve fã arrastado pelo vento mesmo estando dentro da barraca e discussão com uma torcida organizada do Botafogo. Nesse caso, a polícia foi chamada e interveio. Inicialmente, havia uma viatura da polícia militar diariamente com eles, mas foi realocada para uma esquina próxima.

"É chuva, sol, xingamento, briga, ventania, barraca que quebra, barraca que voa... Já atacaram ovo na gente. Foi no final de tarde. Eu tinha ido à padaria. Quando voltei, os ovos já estavam no chão, mas contaram que passaram atacando os ovos e xingando. A gente nem viu direito, só viu as cascas dos ovos. Não acertou ninguém", completa Rick.

Dulce Maria, Christopher Uckermann, Maite Perroni, Christian Chávez e Anahi durante show do RBD na Colômbia Imagem: Reprodução/Instagram

"Vão para casa, desocupados" foi um grito que Splash ouviu enquanto passou uma tarde com os fãs no Engenhão, mas eles refutam essa percepção de algumas pessoas. A maioria diz que trabalha ou estuda — há quem concilie os dois.

Eu trabalho e estudo. Só tenho uma folga na semana. E no dia da minha folga que abdico da minha vida pessoal para estar aqui. Eu faço escala de 24 horas toda quarta-feira e, na quinta, saio daqui e vou ao trabalho.
Larissa Menezes, 27, gerente de uma pizzaria

Apesar de xingamentos, eles contam que aos poucos foram "abraçados" por moradores do bairro. Quem não alugou kitnet, recorre a uma padaria próxima para usar o banheiro. Quando não é possível, principalmente em períodos noturnos, eles recorrem a um baldinho.

Kitnet, alimentação, transporte... Você já percebeu que acampar gera um gasto para além do ingresso. Acampar por semanas pode custar mais de R$ 1 mil, valor acima do NFT vendido pela banda em maio. Os fãs que adquiriram esse NFT terão acesso prioritário nos dias dos shows.

Os fãs, no entanto, garantem que vale à pena. "As aventuras, as memórias, as amizades que a gente cria no acampamento, nada paga isso. Mesmo que a gente pare para pensar hoje sobre os valores que a gente está gastando, que daria para pagar um NFT, essa experiência de estar aqui, ninguém tira da gente. A gente vai levar pra vida toda", diz Luana Oliveira, 23, estudante de Biologia.

Cleber Coelho, 18, está na barraca 1 do acampamento, enquanto Larissa Menezes, 27, está na quinta Imagem: Filipe Pavão/UOL

Acampamento virtual em SP?

Os shows em São Paulo só acontecem a partir do dia 12, mas os fãs já estão pelo menos desde julho nos arredores Allianz Parque. Eles afirmam que foram impedidos de montar barracas pelos moradores da região e pelos funcionários do estádio, portanto, esse não é um acampamento de fãs tradicional.

Impossibilitados de montar barracas, eles não pernoitam em uma praça atrás do Allianz Parque e saem de lá quando chove. Na terça-feira (31), Splash esteve no local e a praça estava vazia enquanto chovia. Funcionários confirmaram que os fãs estavam lá minutos antes, mas saíram quando começou a chover. Cerca de uma hora após a chuva parar, um grupo de aproximadamente 15 fãs voltou ao local.

A única coisa ruim é que a gente não pode pôr barraca. Então, a gente fica ao relento. Chove e a gente tem que correr para algum lugar em que a gente fique sem pegar chuva. Banheiro dá para ir ao shopping.
Thamires Galvão

Em conversa com Splash, funcionários do estádio confirmaram que costumam impedir que os fãs se instalem na frente da arena. Em nota, o Allianz Parque reforçou que desencoraja a formação de filas em vias públicas para os eventos na arena, "prezando pela segurança de quem transita pelo local, dos moradores da região e para que os fãs não fiquem expostos."

Assim como no Rio, eles também se dividem em grupos de cerca de 30 pessoas e falam em "barracas", apesar de elas não estarem montadas. Até agora, há sete "barracas", totalizando mais de 200 fãs participando do esquema.

Cada uma tem seus "administradores", que ditam regras para os outros participantes. Uma delas é a proibição de conceder entrevistas para a imprensa. Por isso, apenas uma das fãs que estava na praça aceitou dar entrevista a Splash. Outros afirmaram que seguem a regra de não dar entrevistas e demonstraram receio de ataques e críticas.

Eles se organizam por meio de planilhas, fazem escalas e têm até banco de horas. Em uma das barracas, cada integrante deve ir pelo menos uma vez por semana à praça e somar no mínimo 20 horas de acampamento para continuar fazendo parte do grupo. A prioridade na fila dessa barraca também é ordenada de acordo com quem ficou mais horas no local.

Capa do último disco do RBD, "Para Olvidarte de Mí" (2009) Imagem: Divulgação

Nesse esquema, diferente do Rio, os fãs também conseguem voltar para casa para tomar banho e se alimentar, além de trabalhar. "Só conheci uma pessoa desempregada até agora", disse uma fã. A média de idade no acampamento é de 30 anos, segundo eles.

Thamires, 30, é psicóloga e organiza o horário de seus atendimentos de modo a conseguir cumprir suas horas no acampamento. Ela gastou cerca de R$ 10 mil entre todos os shows no Brasil e dois no México, para onde vai em dezembro. "As pessoas acham que a gente fica aqui sem fazer nada, que não temos vida. Temos, sim. A gente trabalha, consegue ir para casa, tomar banho. Não precisa vir todo dia da semana. Tem gente que vem uma vez por semana, tem gente que vem duas."

Há problemas de segurança, como relatos de assaltos e furtos, além da presença de usuários de drogas na praça. Na última semana, alguns fãs foram ameaçados por um homem armado com uma faca. "Fica todo mundo junto, num lugar que a gente consiga ficar atento ao que está acontecendo", explica Thamires.

Alguns dos fãs se conheceram nas filas para comprar ingressos, onde também acamparam por até duas semanas, e pelas redes sociais. Segundo relatos, os integrantes das barracas são respeitosos em relação à ordem da fila, mas acontecem algumas brigas. "É como um BBB", conta um dos fãs acampados no local.

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