Abel Neto revela que foi cuspido duas vezes em reportagens na Globo
Colaboração para Splash, em São Paulo
08/11/2023 19h05
Abel Neto, 53, relatou algumas das situações desagradáveis que enfrentou ao longo da carreira como repórter esportivo.
O jornalista abordou o assunto no podcast Flow News. Neto citou dois exemplos em que levou cusparada de torcedores, na época em que trabalhava na Globo. A primeira vez, contou, foi em Santos, no litoral de São Paulo, e a segunda em Buenos Aires, na Argentina.
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"Eu levei cuspida duas vezes na minha vida em estádio de futebol. Uma vez eu levei cuspida de um torcedor do Santos, na Vila Belmiro, porque eu estava entrevistando um técnico do Goiás, que tinha acabado de eliminar o Santos, como a Vila é pequena, o alambrado fica próximo, eu tava ali entrevistando, o cara veio e me deu uma cuspida. Foi a única vez que eu larguei uma entrevista no meio, larguei o microfone porque eu queria subir no alambrado para bater no cara. Obviamente não consegui, ainda bem", iniciou.
"E a outra foi no estádio do Boca Juniors, em Buenos Aires, também a torcida fica muito próxima, eu estava andando por trás do gol, o alambrado ali é pertinho, os cuspiram me cuspiram. Você levar uma cuspida, ser xingado, é deprimente", continuou.
Abel Neto também relatou episódios de racismo sofrido ao longo de sua carreira, e citou alguns casos que mais lhe machucaram. "Já vivi episódios de racismo em vários lugares. Em Curitiba tanto no estádio do Coritiba quando do Athletico Paranaense".
Acho que a pior experiência de racismo que tive em estádio foi em Caxias do Sul, no estádio do Juventude, a torcida fica muito próxima, lembro que estava eu e o Fernandinho Fernandes, repórter da Band até hoje, meu amigaço, a gente estava lado a lado, eles [os torcedores] ficam ali xingando a gente o tempo inteiro. Xingaram o Fernandinho também, mas como ele é branco os xingamentos para ele são outros 'fdp, paulista, babaca, vai tomar no c*', e comigo era 'macaco, seu preto de merda, seu lixo', e a gente estava com fone, tinha que ficar focado na transmissão, eu fingia que não ouvia, mas é difícil. Eu passei algumas vezes isso. Ainda bem que a maioria das vezes não, mas as poucas vezes te marcam, machucam.
— Abel Neto
O repórter também destacou um episódio mais recente, ocorrido em 2018, quando já estava na Fox Sports e foi cobrir um jogo na Argentina, em que também foi alvo de racismo pelos argentinos.
A sensação é muito ruim, até difícil de descrever, porque quando as pessoas te insultam é como se elas quisessem te diminuir, ou dizer que você é um ser inferior por causa da sua origem, da sua cor de pele, do seu cabelo, dos seus traços, a pessoa está te ofendendo, te agredindo.
— Abel Neto
Neto ponderou que hoje faria diferente, gravaria as ofensas para expor, mas que na época tinha receio. "Eu pensava 'vou fazer e não vai dar em nada'. Eu tinha medo... [Pensava] 'se bobear vai vir o estádio inteiro contra mim, a torcida, dizer que estou inventando, então vou focar no meu trabalho, fingir que não estou ouvindo', mas é muito desegradável.
Por fim, ele destacou que o racismo é um problema estrutural. "Isso acontece em todos os lugares, mas alguns lugares acontece mais, por exemplo, lá no Sul, porque eu sei que não foi só comigo. Mas em São Paulo tem porque o racismo [está em todo lugar]. O racismo, o machismo, a homofobia no futebol é um reflexo, uma continuidade do que acontece na sociedade".
Abel Neto foi repórter da Globo de 1998 a 2018. Posteriormente, ele migrou para o Fox Sports e atualmente é contratado da ESPN Sports e do Star+.