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Empresa processa 'coach do Campari' e pede que YouTube penhore pagamentos

De Splash, em São Paulo

09/11/2023 04h00

Thiago Schutz, influenciador digital que se tornou conhecido como "coach do Campari" por falas misóginas, pode perder sua monetização no YouTube. Ele, que será julgado hoje por supostas ameaças contra a atriz Livia La Gatto, também enfrenta uma execução de dívida antiga na Justiça. A equipe do influenciador afirmou a Splash que está "negociando todos os processos" contra o empresário.

Uma gráfica entrou na Justiça contra o influencer em junho de 2017. Thiago Shulz reconheceu oficialmente dever R$ 18,5 mil para a empresa e aceitou realizar um acordo. Splash teve acesso ao documento registrado no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Qual foi o acordo? O influenciador pagaria uma entrada de R$ 2,6 mil e outras 6 parcelas consecutivas do mesmo valor. Porém, do valor total, Thiago arcou com apenas R$ 4,9 mil, descumprindo o acordo judicial com a gráfica.

Com a soma dos juros e encargos, a dívida chega a R$ 14,5 mil. Um dos meios encontrados pela gráfica para executar o pagamento é um pedido para serem penhorados os ganhos de Thiago em seu canal oficial no YouTube.

"O canal de Thiago Schutz na plataforma está devidamente ativo, possuindo diversos vídeos, a maioria com mais de 1.000 visualizações por publicação", diz um trecho da solicitação registrada na ação.

Desta maneira, em função do exposto, vem a executada requerer a expedição de ofício para a Google Brasil Internet Ltda, detentora dos direitos do YouTube no Brasil, para proceder o bloqueio dos valores decorrentes da monetização oriunda pelas publicações do devedor, proprietário da conta, ficando assim os valores devidamente penhorados até a devida satisfação da dívida.
Solicita o processo contra Thiago Schutz

Defesa de Thiago Schutz se manifestou sobre o caso. "O juiz ainda não autorizou o bloqueio. Foi somente um pedido. Estamos negociando todos os processos, realizando parcelamentos. Tudo será resolvido. [...] O processo é de uma empresa antiga. É um caso comum para empresários", disse Ricardo Marinho, advogado do influencer.

O pedido ainda será avaliado pela Justiça. A Google Brasil Internet Ltda só receberá a solicitação caso o juiz entenda que as contas de Thiago precisam ser bloqueadas na plataforma.

Splash entrou em contato com a gráfica que processou Thiago Schutz, mas não obteve retorno. O espaço permanece disponível caso a empresa se manifeste sobre o caso.

Julgamento após suposta ameaça

O coach Thiago Schutz, também conhecido como Red Pill, que virou meme por seus discursos misóginos, ameaçou atirar na atriz Lívia La Gatto.

Por meio dos stories de seu perfil no Instagram, La Gatto compartilhou o print de uma mensagem enviada por Schutz no privado, em que ele exige que a atriz e roteirista apague o vídeo em que ironiza o corte de um podcast visitado por Schutz.

No trecho, viralizado nas redes sociais, o coach criticava uma suposta mulher que ofereceu uma cerveja enquanto ele bebia Campari.

"Você tem 24 horas para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso processo ou bala. Você escolhe", disse Schutz na mensagem a ela.

Ao denunciar a ameaça sofrida, Lívia Lagatto legendou: "Tchurma, o guerreiro campa me ameaçou. Devo me preocupar?".

Thiago Schutz também postou prints em seu perfil de ligações feitas para a atriz para que eles possam "trocar uma ideia". Posteriormente, a artista rebateu o coach: "O curioso caso do macho que ameaça uma mulher de morte e não sabe por que ela não atende".

Em março, o Ministério Público de São Paulo denunciou Schutz por ameaça contra as duas mulheres. À época, por meio de nota, a promotora Juliana Carosini disse que "não bastasse, ele também efetuou uma postagem em suas redes sociais, a fim de que seus seguidores fizessem o mesmo, causando dano emocional e psicológico às vítimas, para controlar suas ações".

A audiência está marcada para começar às 16h30 e poderá ser realizada por videoconferência. Ou seja, as partes não vão precisar comparecer presencialmente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

Quem é Thiago Schutz?

Autodenominado escritor, palestrante e apresentador, o coach ganhou notoriedade por discursos machistas e chega a cobrar até R$ 2.500 por uma consultoria.

Schutz faz parte dos aconselhadores "red pill", grupo de homens misóginos que deturpam o conceito do filme Matrix (1999). Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores no governo Jair Bolsonaro (PL), se define como um "redpillado".

O que são os 'redpillados'?

Hoje, pílulas vermelhas e azuis, da trilogia Matrix, fazem parte do vocabulário da direita e da extrema-direita em todo o mundo. "Red pill" é termo onipresente em grupos masculinistas.

No filme, o protagonista Neo (vivido por Keanu Reeves) ganha duas pílulas e tem de escolher qual tomar: a azul, que lhe permite seguir vivendo em um mundo de ilusões; ou a vermelha, para adquirir consciência sobre a realidade que o cerca.

No vocabulário masculinista, os "red pills" seriam homens que se opõem ao "sistema que favorece as mulheres", por terem alcançado um conhecimento privilegiado sobre isso. Já os "blue pills" continuariam vivendo em ilusão e, portanto, seriam usados pelas mulheres.

Há ainda uma categoria que não existe no filme: os "black pills", homens que concordam com red pills e acham que já não podem mudar nada no "sistema", assumindo uma postura mais niilista.

Entre pílulas de várias cores, um detalhe irônico: as duas diretoras de "Matrix", as irmãs Wachowski, são mulheres trans. Uma delas, Lilly, chegou a confrontar figuras públicas como Ivanka Trump, Elon Musk e até Abraham Weintraub pelo uso do termo "red pill" em apologia à extrema-direita.

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