K-pop vs. pop: tirar o K do K-pop não vai acabar com xenofobia ocidental

Em entrevista recente para o jornal coreano Maeil Business, cujo foco são grandes negócios e investimentos, Bang SiHyuk, a mente por trás da atual gigante do k-pop Hybe, deu a seguinte declaração: "Atualmente costumo falar que precisamos remover o 'K' do K-pop. O K-pop precisa encontrar uma base maior de consumidores em um mercado mais amplo".

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Desde que as palavras do "pai" de BTS — e tantos outros grupos de sucesso — começaram a circular, muitos fãs da indústria se mostraram bastante incomodados, e com razão.

Temos um problema inicial que é o fato de K-pop não ser apenas um gênero musical, e sim uma grande indústria que combina tipos diferentes de músicas, conceitos audiovisuais, fanchants, lightsticks, cultura de fandoms e uma série de comportamentos que são uma experiência a parte — e que muitas vezes é o que conquista fãs de A-pop (american pop) para o mundinho K-pop.

Quem acompanha o pop coreano sabe das influências fortes do Ocidente, especialmente do R&B e do rap/hip hop, mas é justamente a reconfiguração desses gêneros dentro da realidade do K-pop, de uma cultura completamente distinta da nossa, que chama atenção. Poucas coisas são mais incríveis e poderosas do que estar em uma arena cheia de pessoas no Brasil cantando em coreano. Isso tem uma força enorme (o que chamamos de soft power, a influência de um país através de apelo cultural) e faz fãs se interessarem por um universo completamente distinto que envolve culinária, literatura, cinema e beleza.

Não é de hoje que artistas coreanos tentam fazer a carreira acontecer nos Estados Unidos. Antes do enorme sucesso de BTS, tivemos grupos como Wonder Girls e Girl's Generation investindo no mercado ocidental, além de colaborações de artistas como G-Dragon com gigantes como Missy Elliott.

Sempre houve essa vontade de hitar nos Estados Unidos — e no Japão — pois são os maiores mercados fonográficos e onde tanto empresa quanto artistas fazem mais dinheiro. Não é à toa que existem comebacks específicos japoneses e edições especiais em grandes lojas e supermercados americanos. K-pop é uma indústria, e seus investidores e CEOs querem enriquecer. Por isso não existe nenhuma surpresa quando vemos um número cada vez maior de produtores ocidentais mostrando interesse ($$$) em criar música para grupos coreanos.

Um dos mais novos grandes nomes do Ocidente em busca de um lugar no pop coreano é Ryan Tedder — famoso produtor de nomes como Adele, Taylor Swift e Lady Gaga - cujo link com a Hybe promete render vários trabalhos num futuro bem próximo ("Do It Like That" do TXT com os Jonas Brothers e "Back for More" com a Anitta são dele)'. O trabalho solo e de extremo sucesso do Jungkook é um bom exemplo dessa movimentação que SiHyuk comenta sobre esquecer o K do K-pop: Golden é todo em inglês e não tem nenhum produtor asiático. É um disco feito para rádios americanas. E parece estar funcionando. Além de uma série de programas de tv, JK deve embarcar em turnê pelo país, ao que tudo indica, assim como Yoongi (Suga do BTS) fez no início do ano.

Se por um lado existe uma preocupação com a descaracterização do K-pop como conhecemos em prol de uma aceitação maior no Ocidente, a recepção do público geral por aqui não parece ter evoluído tanto assim como os empresários coreanos gostariam. Premiações seguem segregando os asiáticos em categorias específicas para eles, entrevistadores continuam fazendo comentários desagradáveis sobre aparência e sexualidade, além de tratarem os artistas como robôs produzidos em série com perguntas rasas e de tom xenofóbico.

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As ideias iniciais da Hybe, lá no início ainda como Big Hit — quem lembra do Music & Artist for Healing? — foram bastante importantes e inovadoras nessa transição de gerações no pop coreano. SiHyuk trouxe conceitos e uma abertura entre ídolos e fãs que criou um fenômeno gigantesco, o que torna essa pasteurização ainda mais esquisita e descontextualizada. Estranho desejarem tanto um mercado Ocidental quando fãs ainda precisam traduzir conteúdos oficiais de empresas que valem bilhões de wons. O conteúdo, que antes era muito valorizado, parece dar lugar ao hit do momento, e os fãs se desdobram para justificar escolhas equivocadas enquanto promovem seus idols do jeito que conseguem. E os CEOs seguem enriquecendo.

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