Shangri-La Frontier: anime misturando RPG online com luta é pedida perfeita
Fábio Garcia
Colaboração para Splash, em São Paulo
10/11/2023 12h00
Para quem acredita ser impossível transmitir a sensação de jogar videogame para outras mídias, Shangri-La Frontier pode soar bem inesperado. Publicado originalmente como uma série de livros e depois adaptado para mangá nas páginas da Shonen Magazine, o anime da atual temporada não é somente uma história divertida e cheia de ação, mas é também uma reprodução fiel das sensações "videogamísticas" de ficar imerso num mundo online como em um Ragnarok Online ou Final Fantasy XIV.
A história de Shangri-La Frontier começa quando o adolescente Rakuro Hizutome termina mais um jogo terrível, Faeria Chronicle Online. Adepto do ódio recreativo, o rapaz tem prazer procurando os piores jogos já lançados pois enxerga os defeitos técnicos como uma dificuldade a mais a ser superada. Em busca de uma nova aventura ruim, Hizutome vai para sua loja de games favorita e ouve a vendedora fazendo propaganda do queridinho do momento, o tal Shangri-La Frontier. Hizutome se sente tentado pela curiosidade de jogar algo bom para variar e decide se jogar naquele mundo de fantasia com monstros, magias e guildas de guerreiros.
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Não se preocupe, Shangri-La Frontier pode até pegar a premissa de vários outros animes inspirados no universo dos jogos online (como Sword Art Online), mas já no começo ele se diferencia pela galhofa. Sunraku (o nome de jogador usado por Hizutome em todos os games) gosta de se colocar desafios extras, além das decisões estéticas bizarras como a ideia de vestir seu personagem apenas com uma bermudinha e uma cabeça de pássaro como capacete. O que ele gosta é de chamar a atenção.
O gamer ignora propositalmente a ordem natural do jogo e opta por fazer as coisas à sua maneira, o que o leva a experimentar eventos inéditos para outros jogadores. Após encontrar aleatoriamente Lycaon, um dos lendários monstros raros do universo de Shangri-La Frontier, Sunraku contrai uma maldição e vai parar em uma cidade escondida controlada por coelhos mafiosos (!). Mesmo sendo um cenário criado para personagens de nível mais alto, Sunraku consegue driblar todas as adversidades com muita sorte e habilidade adquirida em games ruins.
Uma das melhores características de Shangri-La Frontier é retratar situações comuns para quem experimentou qualquer RPG online. Katarina, responsável pela criação original da história, parece ser alguém com muita proximidade com jogos eletrônicos, pois tudo em sua obra é uma situação comum nessas comunidades online. Há um momento na trama no qual Sunraku ganha a companhia do coelho falante Emul, porém Shangri-La Frontier não é um jogo que permite mascotes além de cães e gatos.
Dessa forma, o NPC (personagem não jogável) chama atenção dos demais jogadores e prints do protagonista se espalham em fóruns online com pessoas querendo saber dicas para conseguir domar o tal coelhinho. Katarina também coloca muitas situações nas quais gamers tomam controle de jogos abandonados e criam comunidades com suas próprias regras, algo possível dentro do gênero de jogos coletivos.
Ao ser adaptada para quadrinhos, a história de Shangri-La Frontier ganhou um brilho extra. O autor Ryosuke Fuji tem um traço muito bonito e sabe desenhar boas cenas de ação que antes eram descritas apenas em palavras, isso sem falar no design cheio de personalidade de cada um dos "players". Além do próprio Sunraku e sua cabeça de pássaro, demais jogadores como Arthur Pencilgon e Psyger-0 transmitem suas personalidades só no olhar e vestuário, criando uma identificação imediata com o leitor.
Mas não parou só nos quadrinhos, pois pode-se dizer que o anime produzido pelo estúdio C2C (de Handyman Saitou in Another World) é uma adaptação das mais competentes. Acostumado com histórias de capa e espada desde os filmes Berserk, o diretor Toshiyuki Kubooka vem conseguindo explorar todos os aspectos positivos de Shangri-La Frontier. As cenas de ação são empolgantes, mas nada muito frenético a ponto de não entendermos o que está acontecendo, e o timing de humor também está no ponto certo, com todas as piadas causadas pela personalidade "espírito de porco" do protagonista Sunraku sendo ótimas na animação. E como um mimo aos fãs, todo final de episódio somos presenteados com uma esquete curtinha explorando momentos cômicos da aventura do dia.
Com tudo isso, Shangri-La Frontier é uma pedida perfeita para quem gosta de séries de ação e também de videogames. O anime está sendo lançado semanalmente no Brasil pela Crunchyroll, com legendas em português, e promete ter dois "cour" seguidos, ou seja, aproximadamente 24 episódios sendo transmitidos durante duas temporadas consecutivas. Já o mangá é publicado no Brasil pela editora Panini, e é fácil encontrar os primeiros volumes.