Prejuízo de R$ 1.200: golpistas enganam fãs da Taylor Swift sem ingressos
Tiago Minervino
Colaboração para Splash
17/11/2023 12h00Atualizada em 17/11/2023 17h41
Na iminência de ser dada a largada para os shows de Taylor Swift no Brasil, muitos fãs que não conseguiram garantir seus ingressos continuam desesperados em busca do bilhete para ver a cantora nos estádios do Engenhão, no Rio de Janeiro, e no Allianz Parque, em São Paulo, e assistir de perto às três horas do concerto.
Mas, atenção, "You Need to Calm Down" para que seus "Wildest Dreams" não virem um pesadelo. Cientes da alta demanda por ingressos para o espetáculo, golpistas estão à espreita com falsos ingressos, vendidos a preços inflados.
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Os fãs que não conseguiram comprar pelo site da T4F têm recorrido a outros sites e grupos em redes sociais como Facebook e WhatsApp. E é aí que mora o perigo.
Comprar ingressos por canais não oficiais sempre tem um risco de golpe. Splash entrou em grupos de venda de ingressos para a turnê da Swift e detectou dezenas de usuários reclamando de golpistas — alguns conseguiram perceber a tempo se tratar de uma fraude, enquanto outros saíram no prejuízo.
Prejuízo de R$ 1.200
João* caiu no golpe. A Splash, ele explicou que comprou dois ingressos pista comum, meia entrada estudante para show no Rio, ao preço de R$ 600 cada, e, só depois de efetuar o pagamento, percebeu que foi enganado — o valor na TF4 desse mesmo setor, meia, custava R$ 325. No final, o prejuízo foi de R$ 1.200.
Comprei dois ingressos. A pessoa me passou todos os dados e comprovações, mas mesmo assim eram falsos. Quando fui reclamar, ela ainda teve a coragem de debochar da minha cara.
Bruna* também foi ludibriada. Ela contou que a pessoa parecia "ser de muita confiança", aceitou formas alternativas de pagamento, que não o Pix — esse tipo de transferência é mais difícil de ser rastreado e é o preferido dos criminosos — mas, mesmo assim, levou um golpe.
"Eu, infelizmente, caí", disse. A fã explicou que a mulher estava oferecendo dois ingressos, e ela adquiriu um. Fez todas as conferências para ver autenticidade, acreditou e efetuou o pagamento. Posteriormente, pediu para que a irmã contatasse a mesma mulher e questionasse se ainda tinha ingresso, e a golpista disse que possuía dois. Agora, ela luta para reaver o dinheiro.
Bem, é isso. Não tem muito o que dizer. Estou devastada, claro que também pelo dinheiro, mas mais porque queria muito ver a minha loirinha. Sou fã da [Taylor] desde criança.
Caline* conseguiu desmascarar o criminoso. Ela disse que entrou em contato com uma pessoa e demorou a perceber o golpe porque o ingresso falso era muito parecido com o original, mas, mesmo assim, percebeu as diferenças.
Acho que ela deve ter conseguido aplicar o golpe para quem não conhece o original e na afobação atrás de ingresso não consegue perceber as diferenças, que são bem sutis. A fonte do original é diferente, fora que a marca d'água está estranha e tem taxa de entrega e no dela tava zerado o valor. Foram esses pequenos detalhes que me fizeram perceber que era um golpe.
Ela também deu dicas de como se certificar que não está falando com golpista. "Na verdade, acho que tudo se baseia muito em desconfiança e de querer saber tudo sobre a pessoa, motivo de venda, essas coisas. Mas tem um padrão dos golpistas que é querer que a pessoa transfira logo o dinheiro, não querer fazer chamada de vídeo, ou algo para comprovar a veracidade dos ingressos ou que a pessoa é ela mesma em vez de um perfil fake. Tem que checar todos os detalhes possíveis, mesmo porque falsificações dos ingressos é muito fácil, mas às vezes deixam passar detalhes que denunciam tudo".
Como se proteger?
A Splash, Rogério Morais, da Proofpoint, empresa especializada em segurança digital, explicou que eventos com alta demanda, como as turnês do RBD e da Taylor Swift no Brasil, são propícios para golpistas. E o prejuízo pode ser bem superior ao valor pago pelo ingresso fake.
O especialista explicou que os criminosos podem usar eventuais informações pessoais, como números de documentos, para aplicar golpes como clonar cartões de banco e fazer empréstimos junto a instituições financeiras.
"O timing correto é algo fundamental para esse tipo de crime. Iscas que estão relacionadas a eventos atuais e que precisam da tomada de decisão urgente podem fazer com que as vítimas deixem a segurança de lado. Turnês de grandes bilheterias, como as que estão acontecendo agora, são o cenário perfeito para hackers que se aproveitam do desespero dos fãs por ingressos", alertou.
Morais salientou que, se for para comprar ingresso de última hora, o ideal é comprar de fornecedor autorizado e que garanta a autenticidade do ingresso. "Se [os fãs] acabarem caindo em um golpe, é possível perder muito mais do que valor pago no ingresso."
Algumas dicas para se proteger incluem jamais compartilhar informações pessoais ou financeiras se for alguém que você não conhece. Ficar atento a links suspeitos com supostas vendas de ingressos de remetentes desconhecidos, seja por e-mail, SMS, WhatsApp ou redes sociais.
Outros detalhes são importantes para captar golpes. Ficar atento a erros ortográficos e gramaticais, pois eles podem sugerir que aquela mensagem é uma farsa. Os cibercriminosos sabem muito bem que você está ansioso e animado e podem tentar tirar vantagem disso. Comunique-se com a organização do evento apenas através dos canais oficiais encontrados nos sites da empresa, não responda diretamente aos e-mails nem clique nos links fornecidos.
Verificar as redes sociais do vendedor. Pedir para fazer videochamada, que mostre o ingresso impresso, peça ao vendedor que entre no site da empresa com os próprios dados e acesse o ingresso. Se morarem na mesma cidade, marquem um encontro presencialmente em algum espaço aberto. Contudo, mesmo se seguir às riscas as dicas de segurança, o risco de se tratar de um golpe sempre vai existir.
O que diz a T4F:
Em nota a Splash, a T4F afirmou que a prioridade da empresa "é garantir a melhor experiência para os fãs, realizando vendas exclusivamente através dos canais oficiais online e bilheteria física", jamais em grupos nas redes sociais ou cambistas nas portas onde o evento será realizado.
A empresa também ressaltou que "alterações de titularidade [do ingresso] não são permitidas, visando a segurança do comprador, que pode indicar no momento da compra o portador do ingresso".
A T4F não tem gerência, recomendação e nem responsabilidade por ingressos vendidos fora dos canais oficiais.
— T4F sobre a venda de ingressos em grupos de internet e por cambistas
Splash procurou as Secretarias de Segurança Pública do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde os shows serão realizados, para questionar se foram registrados boletins de ocorrência de pessoas que sofreram esse tipo de golpe. A reportagem também questionou o Procon se foram feitas reclamações nesse sentido, mas não houve resposta. Caso as manifestações sejam enviadas, esta matéria será atualizada. Segue a manifestação da SSP do estado de São Paulo.
"A Polícia Civil informa que no município de São Paulo foram registradas 133 ocorrências relacionadas a golpes aplicados na compra de ingressos. Os casos são registrados como estelionato, cujo a natureza cabe representação criminal feita pela vítima sendo um requisito essencial para prosseguimento das investigações, conforme estabelecido pela Lei 13.964/19, em vigor desde 23/01/2020. Esta condição processual e procedimental enfatiza a importância da participação ativa da vítima no processo legal, garantindo que as investigações sejam conduzidas de acordo com a legislação vigente. A representação pode ser realizada em qualquer distrito policial do Estado, independente da área onde o fato ocorreu. Em relação ao caso citado, a ocorrência foi registrada pela Delegacia Eletrônica e encaminhada ao 50º DP, responsável pela área."
*Nome alterado a pedido para preservar identidade