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Fazer história? Pela 1ª vez Miss Universo pode ser uma mulher trans ou mãe

A noite deste sábado (18), em El Salvador, pode ser histórica para quem acompanha o Miss Universo: a final da 72ª edição pode eleger pela primeira vez em uma mesma noite uma mãe ou uma mulher trans após mudanças de regras desde a última década.

Por que é histórico?

"A possibilidade de eleger uma mãe ou uma mulher trans no Miss Universo deste ano seria um marco incrível. Representaria um passo significativo para a inclusão e diversidade no mundo miss, refletindo a evolução e aceitação de diferentes histórias e experiências de vida. Isso ampliaria as fronteiras da representatividade no cenário internacional", explica Aretha Procópio, coordenadora nacional do Miss Universo Brasil, que está em El Salvador, em entrevista a Splash.

Só a participação das duas mães e duas trans em uma mesma edição já representa uma marca importante para o presente, lembra Daniel Montañez, comunicador social e jornalista criador da página Missosology Colombia.

Essa nova geração demanda muitas transformações e mudanças positivas quando se fala de mais inclusão. Creio que compreender e entender que as mulheres trans, casadas ou com filhos estão em plena liberdade de poder representar um certame internacional como Miss Universo sendo elas as ganhadoras, [...] é sem dúvida uma transformação que impacta, sobretudo as jovens e as meninas, e na realidade toda juventude que está crescendo, compreendendo e vendo o mundo de uma perspectiva mais tolerante Daniel Montañez

Leila Schuster, Miss Brasil 1993 e semifinalista do Miss Universo no mesmo ano, diz que tal feito é uma transição gigantesca para uma era sem preconceitos, refletindo também na liberdade de expressão. No entanto, ela pondera: "Isso não significa que o concurso se torne mais interessante, ele apenas está mais amplo".

Miss Holanda 2023, Rikkie Kollé, 22 anos foi a primeira trans eleita para esta edição
Miss Holanda 2023, Rikkie Kollé, 22 anos foi a primeira trans eleita para esta edição Imagem: Divulgação/ Miss Universe Organization

Já os administradores da página Com Uma Coroa (@comumacoroa_ no Instagram), Luís Felipe e Samuel Torres, afirmam que a presença de mães e trans representa pluralidade, portas abertas a diversas causas e aceitações. "Portas essas que já deveriam ter sido abertas há muito tempo, quebrando paradigmas", ressaltam.

Quando é o Miss Universo 2023? A final será realizada hoje, 18 de novembro.

Onde é a sede? San Salvador, em El Salvador.

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Como assistir? O concurso não passará na TV paga ou aberta no Brasil, ao invés disso, ele será transmitido no canal do YouTube do Miss Universo, a partir das 22 horas no horário de Brasília.

São quantas candidatas? 84 países disputam o título (seriam 85, mas a Miss China, Jia Qi, não conseguiu aprovação do visto a tempo e vai disputar o Miss Universo 2024, segundo a Organização Miss China).

As proibições

Alterações recentes. Mulheres transgêneros passaram a ser aceitas no concurso em 2012 sob a gestão do então dono Donald Trump, mas apenas em 2018 uma candidata chegou na final, Angela Ponce, da Espanha, sem classificação. Já as mães tiveram a regra que restringia suas participações eliminada e passaram a competir novamente neste ano.

Sim, novamente! Apesar de ser a primeira vez que haverá duas mães no Miss Universo na era recente ao mesmo tempo — após a eliminação da regra que restringia mães e casadas —, o Miss Universo já teve mães na disputa, quando ser solteira ainda não era uma exigência específica do regulamento.

Miss Guatemala, Michelle Cohn, com os dois filhos; ela pode fazer história nesta noite
Miss Guatemala, Michelle Cohn, com os dois filhos; ela pode fazer história nesta noite Imagem: Reprodução/ Instagram @michellecohnb
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A primeira delas esteve no primeiro Miss Universo: Indrani Rahman, dançarina clássica indiana e Miss Índia 1952. Depois, somente Rosa Merello Catalán, Miss Chile, disputou o Miss Universo em 1955. A partir de então as misses deveriam ser solteiras e sem filhos.

Destituição como punição. A mudança foi tão radical que em 1957 a Miss EUA, Mary Leona Gage, foi destituída em meio a um escândalo por mentir a idade, por ter filhos e por ter sido casada duas vezes aos 18 anos. A regra das mães e casadas só foi alterada em 2022 para as edições a partir deste ano.

Em meio a isso, neste ano foi anunciado a eliminação do limite de idade, que antes era de 28 anos. A regra passaria a valer a partir de 2024, mas neste ano já temos uma candidata com 30 anos, a Miss Bulgária, Yuliia Pavlikova. Com todas essas mudanças, é possível mais?

Miss Bulgária 2023, Yuliia Pavlikova, 30 anos
Miss Bulgária 2023, Yuliia Pavlikova, 30 anos Imagem: Reprodução/ Instagram @yuliiapavlikova

"Acredito que o primeiro [passo a fazer] é afirmar as mudanças que tem feito ao longo dos anos e fazer um trabalho de mudança de pensamento. Não adianta apenas termos ideias se não a pusermos em prática sempre. Mudar mentalidades é a maior barreira que precisamos superar no mundo Miss e no mundo em geral", afirma Letícia Silva, diretora do CNB Portugal, que detém a franquia Universo, em conjunto com Ricardo Monteverde.

"Os concursos de beleza nunca foram apenas de beleza, sempre houve um cunho cultural forte, turístico e também social. Talvez seja a hora de mostrar estas mulheres com a mão na massa, trabalhando realmente por causas de sustentabilidade e igualdade social. Mulheres reais, lindas, mas com todos os problemas que na vida real enfrentamos, mas que não são mostrados", complementa Leila Schuster.

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Destaques

Passada a competição preliminar na quarta-feira (15), fundamental para definir o quadro de classificadas no Top 20 neste sábado, alguns destaques se consolidam e outros decepcionam. A Miss Brasil e o grupo latino — incluindo a mãe Miss Colômbia — parecem estar fazendo um bom trabalho, segundo especialistas e fãs do mundo miss.

Maria Eduarda Brechane, Miss Universo Brasil 2023 -
Maria Eduarda Brechane, Miss Universo Brasil 2023 - Imagem: Reprodução/Instagram

"Finalmente temos uma brasileira que está se destacando nas etapas das competições. Não apenas nas aparições dos eventos em El Salvador, mas também em competições importantes como o desafio de 'Voice for Change' na qual ela [Maria Brechane] foi finalista — acredito que ela e as outras latinas são as favoritas dos fãs do concurso", pontua Lucas Sigarini, missólogo e dono da página Road To Miss USA (@roadtomissusa).

Essa é a mesma percepção de Natália Rosa Batista, administradora da página Miss Universo Brasil (@missuniversobrasil), que não se considera missóloga, mas fã de concursos.

Miss Nicarágua 2023, Sheynnis Palacios
Miss Nicarágua 2023, Sheynnis Palacios Imagem: Reprodução/ Instagram @sheynnispalacios_of

"Estou sentindo uma vibe diferente, vejo que a Maria Brechane, nossa representante está entregando muito. [...] As latinas em sua maioria são as que mais costumam se mostrar de forma positiva no confinamento, nesse ano vejo como potência a representante de Nicarágua, que é uma das favoritas de muitos missólogos", afirma.

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No confinamento, um grupo de países também chamou atenção nas redes sociais: "Brasil, Angola, Espanha e Portugal me pareceu sempre muito divertido e animado. Marina [a Miss Portugal] me partilhou que elas se dão muito bem e que foi incrível a energia que tiveram entre todas, e isso faz com que naturalmente se destaquem", declara Letícia, responsável pela portuguesa.

Miss Angola, Miss Brasil, Miss Espanha e Miss Portugal durante a noite em El Salvador
Miss Angola, Miss Brasil, Miss Espanha e Miss Portugal durante a noite em El Salvador Imagem: Reprodução/ Instagram @marinamachetereis

Aretha, que acompanha na medida do possível a Miss Brasil, conta sua experiência de estar lá na América Central: "Viver de perto o Miss Universo é uma experiência emocionante e ao mesmo tempo desafiadora. A cada etapa a expectativa de trazer a coroa para o Brasil aumenta. Estamos muito confiantes na competência e no potencial da Maria, que vem crescendo e se destacando cada dia mais na competição".

Há futuro para o Miss Universo?

Miss Portugal 2023, Marina Machete
Miss Portugal 2023, Marina Machete Imagem: Reprodução/ Instagram @marinamachetereis

As recentes mudanças indicam um caminho para a continuidade de um segmento do entretenimento global que dura há mais de 70 anos. Mas a sociedade está preparada para isso?

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Em Portugal, quando Marina Machete foi eleita em outubro, não faltaram mensagens de ódio após sua vitória. O motivo: ela ser uma mulher trans, que passou por todas etapas que uma candidata deve passar até ser escolhida pelo júri.

O nosso foco nunca foi dar palco para os haters, até porque as pessoas precisam ser esclarecidas quanto a este tema para poderem formar uma opinião assertiva. O nosso foco foi mesmo potenciar as três semanas de preparação que tínhamos para cumprir com o prazo dos requerimentos, preparar o guarda roupa e preparar a Marina no que fosse possível para chegar a El Salvador no seu melhor. Lidamos sempre [...] dando suporte psicológico e segurança emocional para que a Marina pudesse sempre abrir o seu coração conosco e sentir se acolhida Letícia Silva

Outro ponto importante se deve à participação de uma candidata fora do 'corpo padrão magro' que vemos nas misses. A Miss Nepal, Jane Dipika Garrett, quer ser a primeira Miss Universo plus-size eleita na noite de hoje. Ela não segue as famosas medidas 90-60-90, que não eram necessariamente obrigatórias, mas era o que se buscava quando os concursos anunciavam o busto, quadril e cintura das candidatas, principalmente nos anos 1990 e 2000.

Miss Nepal 2023, Jane Dipika Garrett
Miss Nepal 2023, Jane Dipika Garrett Imagem: Reprodução/ Instagram @jadedipika_

"Nem todas candidatas que ganharam tinham essas medidas, assim que me parece que Miss Nepal está sendo uma grande transformação nesse sentido. Porque [na preliminar] se sentia como se era aplaudida e apoiada pelo público, que viam nela uma candidata que, além de qualquer construção de beleza que as pessoas tenham em mente, [era também] uma mulher competitiva e com vontade de ir mais longe", observa o jornalista colombiano Daniel.

Levando em conta isso, será que o Miss Universo ainda precisa quebrar alguma barreira? "A principal barreira vai ser quebrada apenas quando tivermos como Miss Universo uma Miss fora do padrão, uma Miss Universo que se encaixe na categoria da inclusão, sendo ela, por exemplo, mais curvilínea, trans, ou mãe por exemplo", responde Natália Rosa.

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Splash pediu para alguns dos entrevistados falarem seu Top 3 do concurso ou seus destaques. Confira:

Leila Schuster: Top 3 - Brasil, Austrália e Tailândia. Também estão fortes Porto Rico e Nicarágua.

Lucas Sigarini: Top 3 - Austrália, Tailândia e Porto Rico. Com surpresas podendo vir de Brasil, Nicarágua e África do Sul.

Daniel Montañez: Top 3 - Austrália, Venezuela, Porto Rico. Gosta da Tailândia, e cita Nepal como surpresa pela popularidade. Líbano, Índia, Colômbia e Equador também se destacam.

Página Com Uma Coroa @comumacoroa_: Top 3 - Brasil, Tailândia e Nicarágua. Venezuela, Colômbia como destaques latinos.

Página Miss Universo Brasil @missuniversobrasil: Top 3 - Brasil, Tailândia e Porto Rico. Com Nicarágua e Austrália também se destacando.

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