Narjara Turetta faz desabafo: 'Nem todos os atores ganham rios de dinheiro'
Narjara Turetta, 57, cresceu nos sets de gravação ao participar de programas televisivos e novelas desde os quatro anos. Sua estreia aconteceu em um quadro de calouros na Record em 1971, mas o reconhecimento nacional chegou nove anos depois ao estrelar "Malu Mulher" (1979), série sobre emancipação feminina exibida pela Globo.
Na década seguinte, emendou um trabalho atrás do outro — como "Baila Comigo" (1981), "Direito de Amar" (1987), "O Salvador da Pátria" (1989) e "Gente Fina" (1990). No século 21, porém, o trabalho nas telinhas ficou mais escasso e a atriz precisou recorrer a outros meios de sustento, como vender água de coco na Praia de Copacabana, com a mãe, Maria Antonia, que faleceu em 2018.
Ela parou de vender água de coco na praia em 2010, mas até hoje é lembrada por esse período. Nessa década, voltou a ter bons trabalhos na TV e teve papéis marcantes — como "Morde & Assopra" (2011) e "Salve Jorge" (2012). Seus últimos papéis fixos na TV foram "O Outro Lado do Paraíso" (2017) e "Jezabel" (2019), que está sendo reprisada pela Record. Também participou de "Maldivas" (2020) da Netflix.
Apaixonada pelas novelas, por que Narjara está longe delas há quase cinco anos? "Boa pergunta, sempre me pergunto", responde ela, com bom humor, ao falar sobre a falta de convites a Splash na sala do apartamento em que vive há mais de 20 anos em Copacabana.
Estou sempre me movimentando com os diretores de elenco. Agora, há pouco tempo, arrumei um agente, porque eu não tinha um agente. Hoje em dia, facilita, né? É um filme aqui, é uma série acolá. É uma minissérie não sei lá onde. Estou tendo trabalhos. Então, se Deus quiser voltar, espero [voltar à TV] porque eu estou com muita saudade... Em 2024, quero voltar a fazer novelas e séries.
Narjara Turetta
O nome de Narjara voltou aos holofotes recentemente quando a atriz abriu uma vaquinha na internet. O objetivo é angariar verba para fazer um monólogo sobre a própria vida. A ideia é contar esses altos e baixos que ela viveu. "É legal você também pedir ajuda das pessoas que gostam de você, né? Nada de mais."
Ela rebate os comentários que dizem que ela gastou um grande patrimônio que recebeu por trabalhar na Globo por quase 20 anos. Ela diz ser uma "grande ilusão" acreditar que todo ator é rico. Por isso, não teve condições de comprar o apartamento em que vive de aluguel.
Nem todos os atores ganham rios de dinheiro. A minha mãe e eu sempre poupávamos o dinheiro que eu ganhava porque a gente tinha uma épocazinha de vacas magras. Eu não fiquei ininterruptamente 19 anos [na Globo]. Tinha um contrato de um ano, acabava esse contrato e às vezes um ano [sem trabalhar]. Aí vinha um contrato de dois anos... Como você vai assumir uma [despesa de] renda fixa, como um imóvel, sem ter um contrato fixo? É complicado.
Narjara Turetta
Ela ainda completa: "Naquela época, a gente não tinha tanta facilidade quanto se tem hoje para se fazer um bom comercial de televisão. Eu não tive essa oportunidade. Então assim, eu adoraria ter comprado um apartamento, mas não deu. Não saí gastando tudo que eu ganhei, porque eu realmente não ganhei muito. Eu ganhava o suficiente para sobreviver e levar uma vidinha legal, mas nada de excessos."
Narjara aproveita o momento para reivindicar o reconhecimento dos direitos conexos — que seria o pagamento para aqueles que ajudam a tornar uma obra autoral acessível ao público, como atores que trabalham em uma novela. "A gente tá lutando muito por isso. Se a gente tivesse esses direitos reconhecidos, eu e outros atores também receberíamos esse 'salário'. Nós, atores, somos coautores. Assim, quando a gente ficasse sem trabalho, nós receberíamos esse dinheiro.'".
A vida hoje
Sem contrato fixo com a Globo, Narjara se vira nos 30 para manter a vida, mas não lhe falta trabalho, garante ela. Atualmente, tem trabalhado bastante como dubladora — e paga as contas. É um trabalho que realiza desde 2006.
"Me dá muito prazer. Para ser dublador, tem que ser ator. Mas é uma técnica específica. Nem todo ator consegue dublar. Não é fácil. Eu mesma fiz aulas. É um exercício muito bacana da profissão. Você, de certa forma, interfere no trabalho que já está feito daquele ator. Eu já fui dublada. É muito engraçado. Já me vi dublada em alemão [na novela] 'Direito de Amar'".
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Quero receberAlém da dublagem, também faz peças de teatro, participa de filmes e dá palestras e mentorias sobre atuação. "Fiz duas peças esse ano. 'Circuncisão em Nova York' ficou quase um ano em cartaz, uma experiência bacana essa comédia do João Bittencourt. Fiz 'A Casa da Sogra' também, que é uma comédia mais rasgada. Tem um filme com o Hsu [Chien, diretor], que deve ser lançado ano que vem. Teve o 'Desapega' com a Glória Pires, também dirigido pelo Hsu. Andei pelo cinema. Foi legal, mas eu gosto da telinha."
Solteira, Narjara vive com seus três gatos no apartamento e não gosta de rótulos. "Por que eu tenho que me casar? Nunca me casei porque não encontrei a pessoa certa. Se você for ver nas fotos, tive algumas paqueras. Às vezes, saio com minha amiga Cida e as pessoas ficam olhando como se fôssemos um casal. Não teria problema se fôssemos, mas não somos, gosto de homem."
Também não gosta do rótulo de "ex-atriz da Globo". É "atriz" e ponto, mas reforça: tem gratidão pela emissora e pelo ex-diretor Boni. "É um pensamento comum das pessoas. Por estar fora da Globo, você é 'ex-atriz da Globo'. Misericórdia."
Monólogo
Quem incentivou Narjara a criar um monólogo autobiográfico foi a atriz e amiga de longa data Glória Pires — que deve dirigir a produção ao lado do roteirista Aloisio de Abreu. O título "O que terá acontecido a Narjara Turetta?" faz alusão ao filme "O que terá acontecido a Baby Jane?", do diretor Robert Aldrich, e vai contar os altos e baixos da vida, misturando histórias reais e um pouco de ficção.
Glorinha acha que a minha história é bacana, é de superação. Ela sempre pegava no meu pé, no bom sentido, pra que eu levasse isso aos palcos.
Narjara Turetta
O projeto já está quase pronto e deve estrear em meados de 2024 no Rio, antes de seguir para outros estados. Além da vaquinha online, Narjara também vai submeter o monólogo às leis de incentivo — como a Rouanet e a Paulo Gustavo.
"Tem quela velha história: 'mamar na lei'. Gente, não é bem assim. Vamos nos informar, por favor? Eu vou me escrever num edital. Não vou ganhar esse dinheiro do governo. Ainda vou ter que bater na portinha das empresas e dizer: 'olha, eu tenho uma carta de que eu estou apta a pegar tanto, você quer colaborar com a minha peça?' A gente ainda vai bater na porta e passar o chapéu. É assim que a cultura é financiada pelas grandes empresas."
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