Ditadura, hemofilia, Aids e luta contra fome: a vida de Betinho em série
Referência no combate às injustiças sociais e à fome no Brasil, a vida do sociólogo Hebert de Souza, o Betinho (1935-1997), é destrinchada em série de oito episódios no Globoplay, que estreia hoje. Quem recebeu a missão de interpretar o homenageado é o ator Julio Andrade.
"Betinho: No Fio da Navalha" conta como o sociólogo tinha pressa em transformar o país, ainda que apresentasse muitas fragilidades. Ele era hemofílico - tinha distúrbio genético e hereditário que afeta a coagulação do sangue - e tinha Aids - contraída em uma transfusão de sangue. Foi submetido a diversas cirurgias durante a vida.
Fragilidade e força de vontade em mudar o mundo. Como aquele corpo tão frágil poderia ter um espírito tão forte?
Erick Bretas
Articulado politicamente desde muito jovem, Betinho foi perseguido pela ditadura por ser comunista e precisou fugir do país. Viveu 15 anos na clandestinidade e oito anos exilado em países como Chile e México. Depois do exílio, a luta de Betinho por suas bandeiras foram ainda maiores. Ele criou a Ação da Cidadania e inspirou outros movimentos, como o AfroReggae, projeto idealizado há três décadas por José Junior, criador da série.
"É a história de um brasileiro que tinha uma utopia de um Brasil mais justo, solidário. O Betinho é uma pessoa que tinha uma saúde frágil, mas que era um samurai, que lutou muito para um país mais justo. Viver o Betinho foi uma das maiores emoções da minha vida", disse Julio Andrade, que também integra a equipe de direção, em conversa com jornalistas para divulgar o lançamento da produção.
Não é raro que as pessoas envolvidas na série chamem Betinho de herói. Julio Andrade é um deles. "A gente é um país sem memória, que tende a não trazer os nossos heróis", diz ele, que ainda reitera que o sociólogo foi um herói de carne e osso, com falhas e fraquezas, mas, sobretudo, força para fazer o bem.
O Betinho, acima de tudo, é um ser humano que erra. Já no primeiro episódio você vê: ele deixa a família, vai viver um outro amor, é um cara que nem a gente. O herói não precisa vestir uma cueca por cima da calça pra ser herói. Esses são heróis de mentira. Quanto mais humanidade, mais herói ele é. Betinho está nesse lugar de herói.
Julio Andrade
A série apresenta Betinho como figura pública, mas faz isso a partir de sua vida privada, algo pouco conhecido até então. Leandra Leal e Julia Shimura interpretam as esposas do sociólogo. Leandra é Irles Carvalho, primeira mulher e mãe de Daniel; Julia é Maria Nakano, sua companheira até o fim da vida e mãe de seu segundo filho, Henrique.
"É a história de um brasileiro comum que transformou a vida de muita gente. Eu ouvi muito Betinho falar quando era adolescente, começando a minha vida estudantil. Então, pra mim, é muito emocionante contar essa história e perpetuar esse legado... Se a gente dominasse nossa história, se a gente tivesse pertencimento da nossa história, muita coisa recente não teria acontecido", pontua Leandra.
Irmão na vida real e na série
Julio Andrade contracena com o irmão Ravel, que vive Chico Mario, um dos irmãos do sociólogo. Para ele, a parceria com o irmão caçula foi "muito fácil" de fazer. "A primeira cena que a gente estava junto diante de uma câmera, foi um momento muito forte, porque você vê uma vida inteira, né? A gente é irmão de verdade, a gente tá sempre junto, divide tudo. Foi um delírio."
Quem completa o trio de irmãos é o ator Humberto Carrão. Ele interpreta o Henfil, o cartunista, quadrinista, jornalista e escritor brasileiro que se destacou na luta contra a ditadura. "Tratei o personagem como antena do mundo. O humor do Henfil estava diretamente ligado à ira contra a miséria e a injustiça, uma luta contra a ditadura, mas, ao mesmo tempo, é importante dizer que tudo isso não tinha nada de underground. O Henfil era uma figura pop."
Andréia Horta, Filipe Bragança, Michel Gomes, Antonio Haddad, Silvia Buarque, Elen Clarice, Mouhamed Harfouch, Pretinho da Serrinha e Ed Moraes completam o elenco da obra.
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