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O que assusta o mestre do horror? Junji Ito como você nunca viu antes

Fábio Garcia

Colaboração para Splash, em São Paulo

08/12/2023 04h00

Junji Ito, autor de mangá especializado em histórias de horror, foi um dos convidados internacionais da CCXP 23. O mangaká se tornou um dos queridinhos das editoras de quadrinhos no Brasil, tendo dezenas de seus trabalhos lançados nos últimos anos por editoras como Pipoca & Nanquim, Devir e JBC.

Em entrevista exclusiva para Splash, o autor de personagens icônicos como Tomie e Soichi revelou algumas curiosidades, sua relação com animais de estimação e, claro, o que o assusta.

Inspirações e começo de carreira. Nascido em 1963, o autor se interessou pelo gênero de mangás de horror ainda criança. "No começo era só um passatempo, eu tinha 5 anos de idade. Gostava do Kazuo Umezo, mangaká mais representativo do horror e ele me inspirou", contou quando perguntado sobre sua introdução ao gênero.

Vale destacar que, até hoje, nenhum mangá de Kazuo Umezo foi publicado no Brasil. Porém, isso deve mudar em breve, pois a editora Devir já anunciou o clássico "Sala de Aula à Deriva" do autor.

Porém, se engana quem pensa que Junji tinha medo somente de assombrações quando criança: "Olha, eu tenho medo de fantasmas, mas o que me dava medo mesmo era a época da guerra, pois meus pais são da época da guerra, e homens iam para a guerra e morriam. Como sou homem também, eu ficava imaginando e com muito medo disso".

Foi também durante a juventude que o "maligno" começou a interessar Junji Ito. Perguntamos de onde vinham suas ideias, e ele revelou: "Quando estava no Ensino Médio mais ou menos, encontrei um livro chamado Introdução ao Humor Ácido e foi lá que comecei a aprender um pouco de humor, e isso que tenho tentado colocar nos meus trabalhos. Daí que aparece o maligno".

Sucesso no Brasil e medos atuais. A passagem pelo Brasil causou uma grande comoção. Cada painel de Junji Ito era disputado, e os brasileiros acolheram o mangaká com muito carinho. "Eu fiquei surpreso, é um negócio tão caloroso. Houve uma sessão de autógrafos há pouco e a torcida dos fãs foi uma grande surpresa", confessou Ito a respeito da efusividade brasileira.

Embora seja um especialista no horror, Junji Ito não sente muito medo de suas histórias. Quer dizer, há um conto em especial que mexe com ele: "Das minhas histórias não tenho muito medo não, mas lembro de um conto curto que fiz, A Teoria do Diabo, talvez esse", revelou.

Junji Ito veio ao Brasil Imagem: Divulgação

Junji Ito até lembrou de uma pergunta que Splash havia lhe feito em 2021, quando participou da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Havíamos questionado sobre um medo atual e ele havia respondido "ser comido por um tubarão". Ao ser confrontado novamente com essa resposta, Junji Ito detalhou de onde veio esse medo: "Na época do ensino fundamental eu assisti àquele filme do [diretor Steven] Spielberg, 'Tubarão', e foi um grande sucesso na época. E na verdade, depois disso comecei a pensar como deve ser a pior coisa que existe morrer comido por um tubarão".

Com trabalhos publicados no mundo inteiro, não é surpresa que suas obras ganhem adaptações para outras mídias. Embora poucos animes tenham adaptado suas histórias, e em breve teremos uma série animada de "Uzumaki", o autor já teve suas tramas indo parar no cinema. Sua personagem Tomie, por exemplo, rendeu uma franquia de nove filmes em live-action no Japão.

Porém, as adaptações o deixam um pouco nervoso: "Toda vez que há uma adaptação, fico pensando como o diretor vai trabalhar com isso, com a minha temática. Isso me deixa ansioso, sinceramente".

Cães e gatos. Em meio a muitas histórias malignas, com criaturas sobrenaturais e espirais que levam humanos à loucura, um mangá chama a atenção em sua carreira. Em "Diário dos Gatos: Yon & Mu" (publicado pela JBC), Junji Ito conta como é sua vida com seus mascotes. E se durante a entrevista ao Splash o tímido autor deu respostas direto ao ponto, quando perguntado sobre os gatinhos ele abriu um sorriso e detalhou sua vida atribulada com eles: "Para falar a verdade, tenho dois e eles não gostam muito de mim, sabe?".

Mas Junji Ito encontrou uma forma de barganhar o carinho de seus gatos, e isso veio através de um cãozinho. "Agora tenho um cachorrinho mais novo, porque minha filha mais nova quis. É pequenininho. Só que quando ele está comigo, os gatos não querem saber de mim. Quando o cachorro não está, só um deles vem perto e eu consigo acariciá-lo", revelou o autor como uma grande vitória.

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