Protagonista de atrito na GloboNews: quem é o jornalista Demétrio Magnoli?
De Splash, em São Paulo
17/12/2023 11h37
Demétrio Magnoli, 65, protagonizou uma discussão com os colegas Guga Chacra e Mauro Paulino, da GloboNews, ao defender o presidente da Argentina, Javier Milei.
Magnoli falava das restrições do político às manifestações no país vizinho, afirmando que elas não proíbem a liberdade de expressão e sim proíbem os "piquetes", que, segundo ele, já não são permitidos em "democracias avançadas". A fala desagradou os outros comentaristas do canal, que deixaram claro que nunca mencionaram "proibição" mas que, sim, Milei restringe liberdades.
Marcado por polêmicas: quem é Demétrio Magnoli
Demétrio Martinelli Magnoli é jornalista, doutor em geografia humana, sociólogo e escritor. Ele nasceu em São Paulo, em 1958.
Chegou a ser perseguido pela ditadura quando era envolvido com o movimento estudantil. Demétrio estudava jornalismo na USP quando foi fichado, segundo a Comissão da Verdade da universidade.
À época, ele se dizia trotskista — uma corrente comunista — mas afirmou ter rompido com o movimento ainda nos anos 1980, em entrevista à UFF.
Publicou seu primeiro livro, "O que é Geopolítica?", em 1986. Em 1997, foi um dos finalistas do prêmio Jabuti, concorrendo com o livro "O Corpo da Pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil, 1808-1912".
Entre suas polêmicas, está a oposição às cotas raciais. Escreveu "Uma Gota de Sangue", livro lançado em 2019, no qual a tese central é de que "ações afirmativas e o movimento negro resultam de uma armação ideológica" (o multiculturalismo), que "conspira contra o princípio da igualdade perante a lei".
Magnoli já foi alvo de fake news sobre demissão ao vivo na GloboNews. Os boatos, de setembro deste ano, circularam depois que ele criticou a possível indicação de Flavio Dino ao STF. Nas redes sociais, circulava o vídeo do momento e um texto apontando seu desligamento do canal, negado pela Globo.
Críticas a protestos de estudantes na USP, onde estudou. Em 2021, fez críticas aos estudantes da USP que reagiram violentamente contra intervenções da Polícia Militar de São Paulo no campus. Magnoli também contestou a escolha de reitor da faculdade pelo voto direto.
Forte opositor, ele passou a figurar na lista de "personas non gratas" do PT, divulgada em 2014.
Sociólogo foi contra isolamento social na pandemia. Em fevereiro de 2020, Magnoli escreveu em artigo na Folha de S.Paulo afirmando que o isolamento social da província de Hubei, na China, era um ato de xenofobia ineficaz. Ele disse a atitude era apoiada pela OMS por interesses políticos e que o isolamento "representava ameaça maior que o agente biológico da doença".
O atrito com Chacra e Paulino
Jornalistas e comentaristas da GloboNews entraram em atrito durante o programa "Em Pauta", nesta sexta-feira (15), após comentarem uma decisão do presidente da Argentina, Javier Milei, de restringir manifestações em vias públicas contra decisões tomadas em sua primeira semana de governo.
O que aconteceu
Ariel Palacios, correspondente da GNews em Buenos Aires, falou sobre decisão de Milei de restringir protestos, com ameaça de processar os manifestantes que violarem a determinação.
Guga Chacra chamou a decisão de "tremenda hipocrisia" do presidente argentino, que durante a campanha pregou a liberdade, mas agora quer restringir atos contrários a ele.
Demétrio Magnoli afirmou "não ser verdade" que Milei proibiu manifestações, o que não havia sido dito pelos jornalistas. "Não é verdade que Milei proibiu manifestações de protesto. Isso não aconteceu. (...) O que foi proibido foram os piquetes, que na Argentina são um tipo de manifestação que visa barrar as cidades, se usa, inclusive, queima de pneus no meio das ruas. Nas democracias do mundo desenvolvido, não se pode fazer piquetes", disse, citando os Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra como exemplos.
Guga Chacha pediu a palavra e contrariou Magnoli, pedindo ao colega para "tomar cuidado" com o que diz. "Tem sempre que tomar cuidado, a gente é jornalista, o Demétrio está como jornalista no programa nesse momento, embora muitas vezes diga que não seja [jornalista], ninguém falou em proibição de manifestação, nem eu, nem o Ariel, a gente falou em restrição, e isso que aconteceu é restrição sim. (...) É sempre importante não acusar os demais".
Demétrio se defendeu e negou que tenha acusado alguém de falar que Milei proibiu manifestações: "Não estou aqui como jornalista, mas como sociólogo. Em segundo lugar, não disse que alguém disse aqui que foram proibidas as manifestações, o que eu disse é que foi restringido um tipo específico de manifestação, que é proibido em todas as democracias avançadas". Ele afirmou ainda que proibir a ação de piqueteiros "não é proibição à liberdade de manifestação", mas uma "regulamentação social dos limites da manifestação".
Em seguida, o sociólogo Mauro Paulino alfinetou Magnoli e cobrou "compromisso com a verdade". "No meio da discussão, o Demétrio falou que está aqui como sociólogo e não como jornalista. Eu também sou sociólogo, mas estou num programa jornalístico, numa emissora jornalística, e preciso ter compromisso sempre com a verdade jornalística. Só queria fazer essa observação".
A apresentadora do "Em Pauta", Leilane Neubarth tentou amenizar o atrito entre os colegas. "O que eu achei muito interessante e vou dizer para vocês: veja como isso mexeu com a gente aqui, com os nossos comentaristas. Imagina como isso está mexendo com a Argentina".