Machismo, pressão estética e brigas: Juju Salimeni 'critica' Pânico

Juju Salimeni, 37, integrou o extinto Pânico na TV (RedeTV!) no auge do programa. Ela era uma das panicats, as assistentes de palco que, mais tarde, passaram a fazer reportagens e a cumprir desafios físicos. Em entrevista para Splash, ela relembra sua passagem pelo programa, que completou 20 anos de sua estreia em setembro deste ano.

Pânico refletia humor e machismo da época

Juju quase não integrou o elenco do programa por ser "muito musculosa". Ela conta que foi descoberta pelo produtor Alan Rapp em uma feira de automóveis após fazer um ensaio sensual, e que Rapp pediu para ela emagrecer e se encaixar no padrão das outras assistentes. "Eu falei: 'Não. Esse é meu estilo de vida, eu treino pesado, faço musculação'." Quatro meses depois, ela foi procurada novamente para participar do programa como um "teste" e acabou trabalhando lá de 2008 a 2011.

A ex-panicat diz que o humor do Pânico não caberia mais atualmente, mas era aceitável na época da transmissão. "As coisas mudaram muito, muito, muito. Os limites são outros. Mas, na época, era normal, divertido, as pessoas gostavam, riam. [...] Era o que o povo gostava e dava audiência. Foi bom para aquela época e ponto."

Juju conta que as panicats eram cobradas pela produção do programa e cobravam de si mesmas um padrão estético. "Pessoas falavam para a gente: 'Você está inchada. Você está com uma espinha'. Só que cada uma lidava de uma forma. Algumas meninas ficavam mal, choravam. Eu sempre fui mais 'brutona', não me importava. [...] Era uma época muito machista. [...] O machismo era absurdo. [...] Não era só ali no Pânico, mas no mundo inteiro, no Brasil inteiro. E todo mundo assistia e via como era."

A influenciadora enfrentou ansiedade e depressão na época, mas por não ser um assunto muito debatido, não compartilhou a doença com os colegas. "Eles não chegaram a saber que eu estava com algum tipo de problema. Por isso, não recebi apoio, porque eu não expus para ninguém. Era um assunto muito pessoal."

Ela diz que se arrepende de ter brigado com Nicole Bahls, o que culminou com sua saída do programa. "Tenho certeza que ela se arrepende de coisas que ela falou, assim como eu também. Hoje, eu como mulher e ela também, a gente chamaria a outra e conversaria. [...] Mas não tivemos maturidade e não teve pessoas dispostas a ajudar. A nossa briga foi muito inflamada, eles usaram isso para aumentar a audiência. E é uma pena, porque as duas eram muito importantes ali. Fiquei muito triste, porque eu amava trabalhar lá, não queria sair."

Juju diz que sofria "assédio ao contrário" nos bastidores

Salimeni afirma que nunca viu episódios de assédio sexual ou moral por trás das câmeras do Pânico, apesar das denúncias de outras panicats. "Trocou tanto o elenco quanto a produção, mudou tudo. [...] Eu acredito no que elas falaram. Se elas passaram por isso, provavelmente deve ter acontecido. Mas eu e as meninas com quem trabalhei, a gente nunca passou por nada disso."

Ela diz que, na verdade, sofria "assédio ao contrário" porque, segundo ela, não era considerada a mais bonita. "As pessoas olhavam torto. Não achavam [meu corpo] tão bonito. 'Ai, porque é muito masculino. Ai, porque parece homem.' [...] A maioria das pessoas que trabalhavam lá não achava bonito. Nunca sofri com pessoas querendo me assediar ou querendo se aproveitar de alguma forma. Na verdade, era o contrário."

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Juju diz também que, nas ruas, era mais tietada por mulheres que homens, e ainda se lembra da primeira vez em que, cercada de fãs, mal conseguiu andar pela Rua 25 de Março. "O legal é que a maioria das minhas fãs eram mulheres. [...] Muitas entraram na onda do fitness, do treino, de dieta. [...] Claro, tinham muitos homens também e só era mais complicado quando a gente gravava em lugares como estádio, com torcida, festa, em que o público está alterado, torcendo, bebendo. Mas a gente sempre ia com seguranças e nunca aconteceu nada."

Para a ex-panicat, o Pânico deixou um legado de sucesso, mas de questionamentos sobre o humor. "Fez história na TV, ultrapassou todos os limites em uma época em que era tudo aceito. Mas também trouxe questionamentos. Abriu espaço para que as pessoas começassem a ver que não era tudo que dava para aceitar, não é tudo que é legal, não é qualquer coisa que você pode zoar.

Sou a Juliana Salimeni, mas sempre vou ser a Juju do Pânico. Sempre vou ter orgulho disso e vou levar para o resto da vida. Juju Salimeni

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