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'A Sociedade da Neve': como é o inóspito Vale das Lágrimas onde avião caiu

Elenco de "A Sociedade da Neve" Imagem: Netflix

De Splash, em São Paulo

08/01/2024 04h00

O filme "A Sociedade da Neve", lançado na quinta-feira (4) pela Netflix, mostra como 16 pessoas conseguiram sobreviver em um local inóspito na Cordilheira dos Andes em 1972 após um acidente aéreo. O local exato era o Valle de Las Lágrimas (Vale das Lágrimas, em tradução livre), um lugar de difícil acesso e que recebe até hoje aventureiros.

Como é o Vale das Lágrimas?

Está a quase 4 mil metros de altura. Ele está situado no alto da montanha El Sosneado e já se chamava Valle de Las Lágrimas antes mesmo do acidente.

O local está na província de Mendonza, na Argentina. O ponto onde ocorreu o acidente fica a aproximadamente 1,2 quilômetro da fronteira entre a Argentina e o Chile.

Cena de "A Sociedade da Neve", que representa a Espanha no Oscar de Melhor Filme Internacional 2024 Imagem: Divulgação / Netflix

Mesmo no verão as temperaturas podem ser baixíssimas. O guia Juan Isidro Ulloa Ramos, que faz travessias turísticas até o local onde ocorreu o acidente, diz que a temperatura pode ficar abaixo de zero.

Gustavo Zerbino, um dos sobreviventes, em viagem de volta ao Valle de las Lágrimas para homenagear os amigos mortos Imagem: Arquivo pessoal

No verão, as noites podem ser quentes, suaves, ou podem chegar a -10ºC, -12ºC, -18ºC. É imprevisível.
Juan Isidro Ulloa Ramos ao jornal uruguaio El Observador

A jornada até o Valle de Las lágrimas dura ao menos três dias de caminhada. "Um percurso que desafia fisicamente com as travessias de rios, subidas e caminhadas na neve", disse um avaliador no Tripadvisor.

No local há um memorial para as vítimas. A homenagem foi feita com a inscrição do nome dos mortos em placas e a colocação de uma cruz na montanha.

Como foi o acidente

Em 13 de outubro de 1972, um avião turboélice da Força Aérea Uruguaia carregando 45 pessoas caiu na Cordilheira dos Andes. Nele, estava uma equipe uruguaia de rúgbi acompanhada de familiares e amigos. O time jogaria uma partida no Chile.

Na queda, 12 pessoas morreram imediatamente e outras 17 morreram nas horas e dias seguintes. Além das mortes causadas por ferimentos, desnutrição e pelo frio intenso, uma avalanche matou oito pessoas no 17º dia após o acidente.

Os sobreviventes enfrentaram temperaturas de até -35 ºC e precisaram recorrer ao canibalismo para sobreviver. Apesar de conseguirem abrigo dentro da fuselagem do avião e usarem os bancos do avião para se cobrir, frio era intenso. As roupas congelavam, e eles socavam uns aos outros para melhorar a circulação. Era preciso derreter a neve para transformá-la em água para beber — quando comida, a neve queimava a boca e a garganta. Uma semana depois, acabados os suprimentos do avião e depois de tentarem comer até o couro dos assentos, os sobreviventes precisaram consumir a carne das vítimas, que ficou conservada na neve. Em dado momento, alguns deles "prometeram" a própria carne aos colegas, caso morressem.

No total, eles passaram 72 dias na neve até serem encontrados. As buscas foram paralisadas no 11º dia porque, na neve, era quase impossível enxergar a fuselagem branca do avião. Além disso, acreditava-se que ninguém sobreviveu ao acidente devido às condições climáticas do local. Eles só foram salvos porque dois sobreviventes decidiram deixar o local e procurar ajuda.

Sobreviventes do acidente dos Andes descansam ao lado dos destroços do avião Imagem: Sobrevivientes de los Andes/LatinContent/Getty Images

Como os sobreviventes foram salvos

No 61º dia, Antonio Vizintin, Fernando Parrado e Roberto Canessa deixaram a fuselagem para buscar ajuda. Eles vestiram três camadas de roupas, levaram um suprimento de carne para três dias, um saco de dormir feito com o assento dos aviões e um trenó improvisado com uma mala de viagem.

Eles demoraram três dias para escalar cerca de um quilômetro e chegar ao topo de uma montanha —e se decepcionaram ao ver que não havia nada além de montanhas até onde a vista alcançava. Fernando decidiu seguir em frente e, ao lado de Roberto, continuou em busca de ajuda enquanto Antonio voltou para a fuselagem.

Se eu morrer, se eu desabar, se doer, se eu sofrer, nada importa. [Naquela situação], você já está morto. Então se você ainda está respirando, é um bônus. Mas você atravessa o portal invisível da morte e nada importa. Fernando Parrado, ao jornal The Guardian

Em dez dias, Parredo e Canessa andaram por 60 quilômetros até encontrarem três vaqueiros do outro lado de um rio. Eles conseguiram se comunicar atirando um bilhete amarrado a uma pedra. Os homens jogaram pão para eles e depois, andaram de mula por dez horas até a delegacia mais próxima para pedir ajuda.

O resgate aconteceu no dia seguinte, mais de dois meses após o acidente. Parrado ajudou a equipe de resgate a encontrar a fuselagem do avião em meio à neve e foi o primeiro a abrir a porta do helicóptero. "Três dos meus amigos pularam em mim como cachorros, me beijando e gritando. Foi um momento muito surreal e emocionante", contou. Dezesseis sobreviventes foram salvos em dois dias de resgate, já que não cabiam todos juntos no helicóptero.

História já virou filme antes

A Tragédia (ou Milagre) dos Andes, como o acidente ficou conhecido, já foi contada no filme "Vivos", lançado em 1993. O longa é estrelado por Ethan Hawke, Josh Hamilton e John Haymes Newton.

"A Sociedade da Neve" foi feito com o apoio das famílias das vítimas e dos sobreviventes do acidente. Roberto Canessa conheceu o ator que o interpreta no filme, e os sobreviventes se reuniram com os outros atores para conversar sobre as vítimas. Além disso, parte do filme foi gravada na Cordilheira dos Andes.

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