"Dungeon Meshi", o anime que mistura RPG com Ana Maria Braga
Uma das facetas mais fascinantes do universo dos animes e mangás está na diversidade de obras e na quantidade de história fora da casinha. "Dungeon Meshi" destaca-se como uma dessas criações singulares ao apresentar a história de um grupo de aventureiros que cozinham em masmorras. No entanto, sua singularidade vai além desse conceito, e com a ampla distribuição da Netflix, existe a possibilidade deste anime transcender o público otaku e cativar também aqueles que estão fora desse universo.
A premissa de "Dungeon Meshi" mistura uma ambientação clássica de RPG "Dungeons and Dragons" com um elemento inesperado: a culinária. No começo da história, o aventureiro Laios testemunha sua irmã sendo devorada por um dragão. Com a ajuda de Chilchuck e da maga Marcille, agora ele explora a masmorra mágica em busca dessa criatura.
Entretanto, a única forma de sobreviver a esse lugar inóspito é carregando muitos suprimentos para se alimentar, mas Laios tem uma outra ideia. Com a ajuda do anão cozinheiro Senshi, seu plano é explorar a dungeon e transformar os próprios monstros em comida.
Cada episódio de "Dungeon Meshi" é composto por pequenas histórias do grupo chegando em uma nova área da masmorra e procurando monstros e criaturas para se alimentar. Senshi é experiente nessa área culinária, quase um Rodrigo Hilbert com meio metro de altura, e ensina quais criaturas podem ou não ser devoradas de maneira saudável. Falando assim parece até uma história boba, mas "Dungeon Meshi" é um anime cheio de personalidade. Muitos dos monstros têm equivalentes aos animais do nosso mundo, e mesmo os ingredientes mais fantásticos rendem pratos relacionáveis ao que temos no nosso mundo.
Inclusive um dos cuidados do diretor Yoshihiro Miyajima foi convocar artistas especializados na arte de "desenhar comida bonita". Além da belíssima animação do estúdio TRIGGER (de "Kill la Kill"), as imagens estáticas dos pratos são de dar água na boca. E assistir aos personagens degustando cada comida é uma sensação próxima à de ver uma Ana Maria Braga provando o melhor quitute que poderia ser feito.
"Dungeon Meshi" é uma criação de Ryoko Kui, que publica a versão original em quadrinhos na revista Harta, especializada em mangás para adultos. A revista é casa também de outros mangás mais "diferentões", como "Migi & Dali" (obra sobre dois gêmeos adotivos que fingem ser um único filho). Com o sucesso do mangá no mundo todo, era questão de tempo até se interessarem em produzir a versão animada.
Para a alegria dos fãs de anime, a Netflix cedeu ao formato do "simulcast". Em vez de lançar a temporada inteira de uma vez, como a plataforma faz com suas séries, "Dungeon Meshi" tem seus episódios lançados semanalmente às quintas-feiras. E, mais incrível ainda, já no lançamento está disponível a possibilidade de assistir com dublagem em português. Esse formato de "simulcast" já é comum em outras plataformas como Crunchyroll e Anime Onegai, mas a adoção dela por um streaming grande como a Netflix é uma vitória. Importante lembrar que, além do anime, os brasileiros em breve poderão ter contato com a versão original, pois a editora Panini já confirmou que lançará o mangá de "Dungeon Meshi" no Brasil.
Com tantas características únicas, "Dungeon Meshi" tem chances reais de "furar a bolha" otaku. Por mais que seja um universo fictício falando sobre ingredientes que não existem, é um anime sobre paixão por cozinhar. A comida não é apenas algo para reabastecer as energias, mas algo que serve como o cimento da relação entre aqueles indivíduos. O sinal de amor e companheirismo de cada um não é percebido nas lutas ou nas risadas, mas na forma carinhosa que se cozinha cada prato. E num país com tanta paixão por comida e por programas culinários, de "MasterChef Brasil" à culinária do "Mais Você", "Dungeon Meshi" pode atrair uma pessoa que estiver fuçando a Netflix em busca de algo leve para assistir. O resultado, no final, é um anime com muitas estrelas Michelin.
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