Matthew Perry: famosos defenderam uso de droga que matou astro de 'Friends'
Matthew Perry, ator de "Friends", morreu em outubro de 2023 devido aos "efeitos agudos da cetamina", segundo relatório de autópsia divulgado pelo site do jornal The New York Times.
O que famosos disseram
Artistas defenderam uso da substância nos EUA. A apresentadora britânica Sharon Osbourne foi um dos nomes a exaltar uso da substância. Em entrevista ao jornal The Times em 2022, ela afirmou fazer uso da cetamina após enfrentar uma crise emocional. Medicamento a ajudou na luta contra a depressão, segundo a mulher de Ozzy Osbourne.
Se você é uma pessoa que reprime coisas, essa droga vai relaxar você. Mas você não pode abusar. É uma droga da verdade.
Sharon Osbourne ao The Times
Revista científica comprovou eficiência do medicamento. Segundo a New England Journal of Medicine, o anestésico é uma alternativa promissora à terapia eletroconvulsiva — muito utilizada em pacientes com depressão de difícil tratamento.
Ex-jogador de basquete diz que cetamina foi importante para superar vício em cocaína. Em entrevista ao programa de TV Good Morning America, Lamar Odom, astro da NBA, afirmou ter tentado uma clínica de reabilitação antes de descobrir a terapia com cetamina. Ele sobreviveu a uma overdose em 2015. Porém, não há comprovação científica de que a substância auxilia no combate a outras drogas.
Humorista usou cetamina por quatro anos antes de internação em clínica. O site Just Jared divulgou que, durante show de standup, Pete Davidson admitiu uso como droga recreativa — o que não é recomendado, segundo Thiago Gil, médico anestesista que conversou com Splash. Ele é fundador do Centro de Cetamina e membro da ASKP3, grupo americano formado por médicos que estudam a substância.
Chrissy Teigen admitiu uso publicamente. Em publicação no Instagram feita em dezembro de 2023, ela relatou alucinações após a realização de uma sessão de tratamento. "Vi o espaço, o tempo, o bebê Jack, alguns pinguins estranhos e depois chorei, chorei e chorei", disse a mulher do cantor John Legend.
Mathew Perry falou sobre uso da substância em tratamento. "'Eu pensava: 'É isso que acontece quando você morre'. Mas ainda assim eu continuava tomando essa merda porque era algo diferente, e qualquer coisa diferente é boa. Tomar 'K' é como ser atingido na cabeça por uma pá de felicidade gigantesca. Mas a ressaca era dura e superava essa pá. Cetamina não era para mim", disse em seu livro, "Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível".
O que dizem especialistas
Cetamina é um anestésico que passou a ser usado como terapia alternativa para ansiedade e depressão, segundo o New York Times. Porém, a agência FDA (Food and Drug Administration) divulgou em outubro um relatório que alerta sobre os perigos do tratamento, além da possibilidade de a substância causar transtornos psiquiátricos.
Morte de Matthew Perry mostra que tratamento exige cuidados. "Fazer a anestesia sozinho e autoadministrar doses nunca foi um bom negócio e nem a coisa certa", concluiu o médico anestesista Tiago Gil.
Substância deve ser aplicada por anestesistas e em ambiente hospitalar. "É preciso contar com um médico que tenha experiência com a substância, para que ele possa tomar decisões por quem não estiver em condições de tomá-las", seguiu especialista.
Cetamina distorce percepção e pode fazer uma pessoa se sentir "fora de controle", segundo a Administração de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA). "Isso faz com que os pacientes se sintam desconectados da dor e do ambiente", completou posicionamento divulgado pela BBC em dezembro.
Dissociação, náuseas e possível diminuição da frequência respiratória estão entre efeitos colaterais. Especialistas apontam que efeitos são causados pelo ato anestésico no uso de 50 a 60 miligramas por dose — o que não é considerado abusivo pelos médicos.
Em doses baixas, substância gera efeitos semelhantes aos do álcool. Consumo pode trazer dificuldades para falar ou andar. Cetamina também pode induzir estados de euforia que podem durar de 15 minutos a três horas, segundo Bruno García Mendive, especialista em anestesiologia e reanimação, em entrevista à BBC.
Especialista pontuou outros riscos. "Combinado ao álcool, pode causar depressão respiratória e parada cardíaca. Daí o perigo do seu uso livre e descontrolado, com grandes riscos de mortalidade se não houver meios de reanimação para essas complicações", completou Mendive.
Uso do medicamento não é frequente por longo período. Especialistas indicam seis sessões iniciais nas primeiras três semanas de tratamento e uma fase de manutenção que envolve frequência de, no máximo, uma sessão por mês. "Coisas muito diferentes disso podem mostrar que a pessoa está desatualizada ou agindo de má-fé", completou Tiago Gil.
Cetamina é usada como sedativo, anestésico e analgésico em humanos desde a década de 1970. Porém, substância também passou a ser usada para sedar animais. "Existe estigma de que é um anestésico de cavalo. Mas também é de gatos, cachorros, recém-nascidos e de qualquer mamífero", conclui Tiago Gil.