'Sociedade da Neve': a história oculta de um dos heróis da tragédia
O filme 'A Sociedade na Neve' se tornou um dos mais vistos na Netflix contando a história real da tragédia dos Andes, um acidente aéreo que aconteceu em 1972 na região da Cordilheira.
No entanto, uma narrativa não foi detalhada na produção do streaming: a de Sergio Catalán, um condutor de mulas chileno que foi a primeira pessoa a encontrar os sobreviventes.
Sergio Catalán viajou 120 km por ajuda
Primeiro a ver os sobreviventes, 72 dias após a tragédia. Sergio Catalán era condutor de mulas e estava trabalhando no dia 21 de dezembro quando viu os uruguaios Roberto Canessa e Fernando Parrado, e imaginou que os dois estavam passeando pela região.
Quando os vi, estava reunindo o gado, mas pensei que eram pessoas que estavam apenas passeando. Mais tarde, quando os vi correndo mais perto, quase a ponto de gritarem comigo, eles fizeram [sinais] com as mãos, mas não entendi o que diziam.
Sergio Catalán em entrevista à Televisión de Chile, em 1972, incluída no documentário El Arriero (2013)
Aproximação dos três não foi possível, já que Canessa e Parrado estavam do outro lado de um riacho. Apesar de não ser largo, a corrente era rápida e impedia a passagem. O condutor de mulas não conseguia ouvir o que os sobreviventes tentavam falar por causa do barulho do riacho.
Catalán buscou papel de caneta. Parrado não tinha papel ou lápis para escrever, segundo o condutor de mulas disse em uma entrevista em 2011. Foi quando ele providenciou as duas coisas e entregou a ele na outra borda do riacho, para entender o que estava acontecendo.
Venho de um avião que caiu nas montanhas, sou uruguaio, estamos caminhando há 10 dias, tenho um amigo ferido lá em cima [Canessa, que não desceu para a margem do riacho por um ferimento e por estar muito fraco.
Fernando Parrado, no bilhete
Sergio viajou 120 quilômetros a cavalo por ajuda. De acordo com a entrevista dada em 2011 ao canal do YouTube Contacto, o trajeto durou "o dia todo e uma noite" — cerca de 10 horas. Ele entregou o bilhete aos Carabineros da cidade de Puente Negro, no Chile.
Autoridades pensavam que ele estava bêbado. Porém, a existência do bilhete escrito por Fernando serviu como prova para que fossem atrás dos dois uruguaios. Os helicópteros chegaram ao local no dia 22 de dezembro, mas o resgate demorou dois dias por causa das más condições do tempo.
Catalán e os sobreviventes mantiveram contato. Em entrevista ao Informal Breakfasts, Canessa disse que, mesmo após anos depois da tragédia, o vínculo entre eles e o condutor de mulas se manteve. Outro sobrevivente, Carlos Páez, disse em entrevista à CNN Chile que Catalán "foi como um pai para todo o grupo". Sergio Catalán morreu em fevereiro de 2020, aos 91 anos.
Relembro o acidente
Roberto Canessa e Fernando Parrado são dois dos 16 sobreviventes do acidente aéreo que aconteceu em 13 de outubro de 1972, com um voo da Força Aérea do Uruguai. A aeronave tinha como destino Santiago, mas caiu na Cordilheira dos Andes com 45 pessoas a bordo. Os sobreviventes passaram dois meses nas montanhas nevadas e só resistiram ao tempo por organizarem uma "sociedade", que tinha como dieta o consumo de carne humana.
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