Autor explica mudanças em 'Renascer': 'Temas sensíveis ressignificados'

Após o sucesso de "Pantanal", Bruno Luperi, 36, recebeu mais uma novela criada na década de 1990 pelo seu avô, Benedito Rui Barbosa, na década para adaptar. "Renascer" estreou na semana passada e seus primeiros capítulos anotam uma audiência maior que as duas antecessoras, "Terra e Paixão" e "Travessia".

Quero que o público sinta a novela. Tenho me dedicado a esse trabalho há muito tempo, desde o fim de "Pantanal", na verdade, assistindo, lendo, entrevistando as pessoas na região, fazendo todas as pesquisas que você pode imaginar para entregar uma adaptação à altura daquilo que foi a versão original, que mexe com a sociedade de uma maneira positiva.
Bruno Luperi

A história conta a saga de José Inocêncio (Humberto Carrão/Marcos Palmeira) pelo sul da Bahia, onde ele se transforma em um grande produtor de cacau. Na primeira fase, em exibição, ele encontra o primeiro grande amor, Maria Santa (Duda Santos), com quem tem quatro filhos. Já na segunda, maior momento da trama, ele se entrega à paixão por Mariana (Theresa Fonseca), quem também é a paixão de um dos filhos.

O ponto de partida é o mesmo, mas algumas mudanças já são notadas pelo público, porque "temas sensíveis foram ressignificados", explica Luperi em entrevista exclusiva a Splash. Debates sobre gênero, questões raciais e sincretismo religioso e de raça estão colocados na trama de maneira diferente ao que se viu há 30 anos, quando a sociedade refletia menos sobre pautas progressistas.

Esses 30 anos são colaboradores dessa releitura, porque o tempo avançou muito e muitas agendas estavam presentes naquela história, sejam questões de gênero, relação entre homens e mulheres, patriarcado, a maneira como se transmitia os valores, a cultura do cacau, a religiosidade. A ideia é conseguir acompanhar tudo isso e trazer uma novela que conte essa mesma saga do José Inocente, no sul da Bahia, construindo o Império dele através da cultura do cacau, mas que o contexto todo seja repaginado para dialogar com o nosso tempo.
Bruno Luperi a Splash

O que, de fato, mudou?

Na versão de 1993, a primeira fase da história tinha apenas sete capítulos. No remake, essa parte foi estendida a 13, permitindo a aparição de personagens que foram apenas mencionados na versão original, mas não apareciam, como Cândida (Maria Fernanda Cândido) e coronel Firmino (Enrique Diaz).

Bruno Luperi optou por mudar o gênero do filho de Jupará (Evaldo Macarrão na primeira fase): Zinho, que era um garoto em 1993, agora é uma menina, a Zinha (Samantha Jones). Grande amiga de João Pedro (Juan Paiva), a mudança na personagem permite maior debate sobre gênero e inclusão da mulher no campo.

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Sai o Padre Lívio de 1993 e entra o Pastor Lívio (Breno da Matta) em 2024. Ele é bastante amigo de Padre Santo (Chico Diaz), trazendo o sincretismo brasileiro à trama de Luperi. Tabém promete muitos diálogos interessantes com José Inocêncio (Marcos Palmeira) e com o Tião Galinha (Irandhir Santos). Na história atual, o personagem será pastor Lívio (Breno da Matta).

A polêmica Buba, uma pessoa intersexo em 1993, que era chamada de hermafrodita na época, agora é uma mulher trans. O primeiro papel de Maria Luisa Mendonça na TV agora será interpretado pela estreante Gabriela de Medeiros, uma atriz trans.

Em 2024, mais atores negros interpretam personagem diversos em "Renascer". Essa mudança dialoga com a tentativa da Globo de promover maior diversidade racial na sua programação. Para Luperi, é natural que haja mais atores que representem, de fato, como é o povo do sul da Bahia.

É uma exigência do nosso tempo muito natural. É óbvio que quando você fala sobre a Bahia, você tem que ter atores baianos, entender qual que é a etimologia e qual é a formação daquele lugar. Temos atores de origem indígena, negros, brancos, temos atores com diversidade sexual, muitos tipos de atores que representam um extrato do que se vê naquela região.
Bruno Luperi

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