Chuva, samba e fé: Zeca grava DVD como se estivesse no quintal de casa
Zeca Pagodinho espantou a forte chuva que caía no fim de tarde no Rio para comemorar seu aniversário de 65 da forma que mais gosta: cantando com amigos. Parecia que o cantor, que completa 40 anos de carreira, estava no quintal de casa em Xerém (RJ), porém com uma plateia de 35 mil pessoas.
Zeca Pagodinho faz 65 e reúne famílias inteiras em show: 'Só a mulherada'
Às 19h20, ele abriu o show com uma homenagem a diferentes sambistas, como Arlindo Cruz e Beth Carvalho, sua madrinha, com imagens no telão e "Camarão que Dorme a Onda Leva", música que mudou sua vida. A apresentação começou com 20 minutos de atraso —motivado pela chuva, diga-se de passagem, porque Zeca gosta de ser pontual.
"Interrompe a gravação um pouquinho para eu coçar o pé? Eu preciso pedir licença porque está sendo gravado. Oh coceira boa", disse ele logo nos primeiros dez minutos. A reclamação em relação ao sapato continuou até que ele trocasse por outro. O item foi um presente que não lhe coube muito bem.
Após 40 minutos de show, montou-se uma roda de samba com Jorge Aragão, Diogo Nogueira, Xande de Pilares e Pretinho da Serrinha. Ali, ele se soltou de vez e o show esquentou para valer.
Ao anunciar a canção "Mutirão de Amor" como composição dele e de Aragão, mas gravada por Alcione, começou a cantá-la com o parceiro de longa data, até interromper tudo. "Para! Alcione gravou essa?". Os dois começaram a debater quem havia gravado e quem, de fato, escreveu a letra. Os cinco riram e começaram a conversar sobre a falta de uma cervejinha naquela mesa.
Zeca não queria ficar engessado pelo script do DVD e da transmissão para o Multishow. Parecia aquele tio ou avô bacana que solta pérolas para a família. "Tá ao vivo, mas sou idoso e tomo remédio, preciso ir ao banheiro", disse.
Estava à vontade para retirar música durante o show porque não lembrava a letra de "Exaustino", faixa pouco conhecida do repertório. "A gente não cantava essa música havia 20 anos? 65 anos, não dá para lembrar de tudo", disse após interromper os primeiros versos.
Show também exaltou o subúrbio e as periferias do Rio, com imagens das belezas cotidianas dessas regiões no telão. A cenografia do palco, aliás, remontava a uma grande favela e suas casas coladas umas às outras. No topo, a imagem de São Jorge, de quem é devoto e pode simbolizar o sincretismo religioso do show apresentado, com menções a orixás e santos.
Ele também soube dar bronca. "Tá bom, não, tá reverberando [o som]", disse ao cantar "Casal Sem Vergonha", interrompendo a música duas vezes.
Zeca parecia estar no quintal de casa e até chamou a família para subir ao palco no bis e encerrar com "Bagaço da Laranja". Só faltou um churrasquinho para completar a vibe do domingo.
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Além de Jorge Aragão, Diogo Nogueira, Xande de Pilares e Pretinho da Serrinha, Zeca teve a companhia de um time luxuoso: Marcelo D2, Djonga, Seu Jorge, Alcione e IZA. Os dois primeiros mostraram a conexão do samba com rap e das canções de Zeca com a religião, mas as participações foram rápidas. Seu Jorge também cantou apenas uma faixa, mas mostrou mais sintonia com o anfitrião. Já Alcione — muito plaudida — e IZA tiveram mais tempo no palco.
Na plateia, Cissa Guimarães e Regina Casé marcaram presença e foram saudadas do palco pelo aniversariante. Mariana Ximenes, Rafa Kalimann e Juliana Knust também estavam nas primeiras fileiras.
Além de nomes famosos, 35 mil ingressos foram vendidos, segundo a produtora do show, a Opus Entretenimento. "Alô, povo brasileiro, uma canção para vocês", disse ele, antes de cantar os trechos "Descobri que te amo demais, descobri em você minha paz", da música "Verdade".
Alguns fãs usavam camisas com o rosto do sambista. Por trás das roupas, histórias com o ídolo. Priscila Marques, 35, trabalha como supervisora customer service em São Paulo e viajou ao Rio só para o show de Zeca, em um momento de redescobrir a si própria.
Fiz uma cirurgia em outubro e achei que ia perder meu útero. A pessoa que estava comigo soltou minha mão. Dia 4 [de dezembro] teve show do Zeca no 'Som Brasil', assisti de casa numa super fossa. Foi a primeira vez que bebi depois da cirurgia. Comprei o ingresso sem ter hospedagem e nada. Tô me redescobrindo. Conheci várias pessoas legais nessa viagem. Achei que tava vindo prestigiar o Zeca, mas ele que me deu um presente
O percussionista Carmo Junior, 35, ao lado da esposa, Stela Calafiori, 35, usou a camisa do grupo Samba de Primeira, que reverência ícones do samba no interior paulista, na cidade de "Sorriso", como Zeca Pagodinho. "Unidos pelo samba", diz o casal.
Veja mais fotos de tudo o que rolou no show de Zeca Pagodinho no Rio
Setlist
- Camarão que dorme a onda leva
- Pisa como eu pisei
- Ser humano
- Quando a gira girou
- Lama nas ruas (feat. Rildo Hora)
- Mais Feliz
- Vai vadiar
- Judia de mim
- Minha fé (feat. Marcelo D2)
- Patota de Cosme
- Ogum (Djonga)
- A voz do morro - instrumental (montagem da roda de samba)
- Mutirão de amor
- Minta meu sonho (Jorge Aragão)
- Não sou mais disso (Diogo Nogueira)
- Brincadeira tem hora (Xande de Pilares)
- Maneiras
- Saudade louca (feat. Seu Jorge)
- Ratatuia / Vacilão
- Maneiras
- Caviar
- Mutirão do Amor (feat Alcione)
- Sufoco (feat Alcione)
- Faixa amarela
- Cadê meu amor (feat IZA)
- Seu balancê (feat IZA)
- Samba pras moças
- Casal sem vergonha
- Coração em desalinho
- Deixa a vida me levar
- Verdade
- Bagaço da laranja (bis)
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