Teatro Oficina protesta contra Grupo Silvio Santos após fechamento de arcos
O Teatro Oficina escolheu a "delicadeza" e a "magia teatral" como respostas ao Grupo Silvio Santos, que mandou fechar os Arcos do Beco e arrancou uma escada metálica que ligava o espaço cênico à área externa — propriedade do dono do SBT.
O que aconteceu
Companhia realizou um ato contra a decisão, nesta terça-feira (6), na sede da instituição, localizada no Bixiga, em São Paulo. O protesto, que começou por volta das 13h, contou com a participação de integrantes do grupo teatral e apoiadores do espaço.
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Oficina convidou manifestantes para o que chamou de "magia teatral". Folhas e ervas foram entregues aos presentes para que eles pudessem mergulhar as mãos em uma infusão de ervas e tocar "com delicadeza" os tijolos erguidos pelo Grupo SS.
Marcelo Drummond, viúvo do dramaturgo Zé Celso, chamou a decisão empresarial de truculenta, mas ressaltou que o Oficina não responderia na mesma moeda. "Muita gente quer vir quebrar a parede, mas não é isso que nós vamos fazer."
Marília Piraju, 39, arquiteta cênica do Teatro Oficina, destacou que os Arcos são tombados e estão diretamente relacionados com a linguagem de criação da companhia. "Para nós não é só um tombamento de pedra e cal. Tem um valor imaterial muito forte."
Essa intervenção pode parecer um gesto quase singelo para quem olha essa obra de arte, mas para nós ela significa o emparedamento de uma luta que vem sendo travada há 40 anos. Marília Piraju, arquiteta cênica do Teatro Oficina
Procurado por Splash, o Grupo Silvio Santos não respondeu se pretende recuar da decisão. A assessoria encaminhou o mesmo comunicado encaminhado na segunda-feira (5). "O GSS só buscou reparar o estado original de nosso imóvel após longa e exaustiva discussão Jurídica que reconheceu ,nos autos do processo, que a referida escada nunca havia sido parte do tombamento do Teatro Oficina."
Teatro diz que foi surpreendido por ação
Oficina disse que "foi surpreendido por uma ação truculenta", enquanto está em curso uma ação de reintegração de posse da escada metálica. O Grupo Silvio Santos teve parecer favorável do MP para a retirada do item, mas "se antecipou à ação judicial, cometendo a retirada precipitada da escada, antes que a juíza expedisse o parecer final da reintegração de posse".
Já o advogado do teatro, Juca Novaes, afirmou que o teatro, na semana passada, requereu a suspensão da retirada da escada e do emparedamento dos arcos por 90 dias, devido ao aparecimento de novos fatos. "Em dezembro de 2023, num acordo celebrado entre Ministério Público e a Prefeitura de São Paulo, se decidiu que parte dos recursos que integram ajuste judicial feito com a UnInove, seriam destinados à construção do tão desejado Parque do Rio Bixiga, exatamente na área do entorno do teatro, ou seja, exatamente a área onde se localiza a escada."
Teatro vai recorrer à Justiça contra o GSS por possível violação a um patrimônio tombado. O posicionamento do MP em relação ao fechamento dos arcos é o de que se aguarde a autorização prévia dos órgãos responsáveis pelo tombamento.
Leandro Gras, presidente do Iphan-SP, em rede social, disse que o instituto responsável por proteger e promover o Patrimônio Cultural Brasileiro já foi acionado. "Será feita uma vistoria técnica e procederemos com as medidas determinadas pelas normas de preservação do patrimônio."
Briga por terreno
Silvio e Zé se reuniram em agosto de 2017, na sede do SBT, para tentar um acordo, mas sem sucesso. O Teatro Oficina divulgou o vídeo com imagens da reunião nas redes sociais, o que teria deixado o comunicador incomodado. A insatisfação levou Silvio a tratar o assunto apenas na Justiça.
O dramaturgo queria concluir o projeto criado por Lina Bo Bardi, que visava construir um parque cultural e público no entorno do teatro. Entre as décadas de 1980 e 1990, a famosa arquiteta comandou uma reforma no interior do teatro.
Como Silvio Santos é dono dos terrenos em volta do local, não era possível desenvolver a obra do parque. No entanto, a partir do tombamento do local em 1981, ele ficou impossibilitado de construir em volta do teatro. O dono do SBT não desistiu e, em 2017, conseguiu reverter na Justiça a decisão do Condephaat.
Zé Celso morreu sem ver uma resolução para o caso. A morte aconteceu no dia 6 de julho, após o diretor não resistir aos ferimentos provocados por um incêndio no apartamento em que morava em São Paulo.