'Avatar' é um anime? Resposta pode ser mais complexa do que parece

"Avatar: A Lenda de Aang" é uma série animada que se parece muito com um anime. Os personagens têm olhos grandes e expressivos, às vezes eles repetem gestos e expressões comuns às animações japonesas e apresenta uma história com começo, meio e fim. Infelizmente, nada disso é o bastante para chamar "Avatar" de anime, mas a discussão a respeito disso é interessante.

Anime é uma produção animada feita no Japão, criada e desenvolvida por uma equipe japonesa. Na verdade, a palavra "anime" no Japão é usada como abreviação de "animation". Um filme da Disney é chamado de "anime" no Japão também, porém o termo usado hoje se refere exclusivamente a produções feitas no Japão, tendo "cara de anime" ou não. "A Concierge Pokémon", por exemplo, é uma série em stop-motion e entra nessa classificação por ser produzida em um estúdio japonês.

Existem explicações para "Avatar" da Nickelodeon ter pego emprestado um estilo anime das produções japonesas. A série nasceu em 2005, em um período um pouco complicado para as animações norte-americanas. Desde o sucesso de "Pokémon" e "Dragon Ball Z", nos EUA, no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, os animes japoneses se tornaram os queridinhos do público por apresentarem histórias bem diferentes que a animação local oferecia.

As tramas tinham um desenvolvimento maior e havia um ponto final para as histórias, algo inimaginável em "desenhos eternos" como um "O Laboratório de Dexter" ou "Scooby-Doo".

Cena de Os Jovens Titãs
Cena de Os Jovens Titãs Imagem: Reprodução/Warner Bros

Com o sucesso dos animes, o "estilo otaku" se tornou uma estética de prestígio que todos queriam seguir. Não só isso, mas os produtores norte-americanos viram seu reinado ameaçado pelos desenhos estrangeiros e começaram a "imitar" algumas características estéticas de animes em suas próprias séries.

As animações "Os Jovens Titãs" (2003) e "Megas XLR" (2004) apostaram em visuais estilizados, gotinhas escorrendo pela cabeça em momentos de vergonha e sorrisos ocupando metade da boca. Séries como "The Boondocks" (2005), "Samurai Jack" (2001) e "As Aventuras de Jackie Chan" (2000) eram ainda mais explícitas na inspiração, e eram praticamente vendidas como "animes americanos".

Cena da animação Transformers
Cena da animação Transformers Imagem: Reprodução/Hasbro

Esse movimento não é um efeito exclusivo do começo dos anos 2000. Nas décadas anteriores, o sucesso de "Speed Racer" e "Voltron" levou os estúdios a produzirem animações que bebiam dos animes, como "Transformers" e "X-Men: The Animated Series". No caso da série dos mutantes ainda rendeu um caso curioso: para a exibição japonesa, a Toei Animation criou uma abertura ao estilo anime para agradar o público japonês.

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Curiosamente, os animes contribuíram de forma direta na animação ocidental. Alguns estúdios de anime renomados no Japão já trabalharam em desenhos americanos de sucesso. "X-Men Evolution", por exemplo, teve episódios animados pelo estúdio Madhouse, o mesmo de "Sakura Card Captor".

Quem também trabalhou com animações americanas foi a TMS Entertainment (de "Dr. STONE"), que tem em seu currículo vários episódios do desenho animado "Animaniacs" e o clássico "Batman: A Série Animada". Mesmo com o trabalho de animadores asiáticos, não se pode chamar essas séries de anime porque não são obras de concepção 100% japonesa, eles apenas seguiam o que os storyboards americanos haviam pedido.

No caso de "Avatar", Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko já reconheceram a inspiração em animes. Em uma entrevista dada à IGN norte-americana em 2007, DiMartino explicou que torcia para os fãs de anime gostarem de "Avatar" porque muito da produção veio da cultura asiática. Konietzko, por sua vez, contou que a animação americana tem essa tradição de correr atrás das tendências de outros países.

"Avatar: A Lenda de Aang" não é um anime por não ter sido uma produção totalmente criada no Japão. No entanto, a série tem elementos de anime em sua cultura e estética, tornando uma produção que "parece anime", ou um "anime americano". Por sorte isso não é um demérito, e o público pode curtir as aventuras de Aang mesmo que não seja um anime.

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