'Deus me preparou em secreto': cantora viraliza após 'denúncia de Marajó'
Ranieri Costa
Colaboração para Splash
28/02/2024 04h00
Ao participar de um reality show gospel, Aymeê Rocha, 28, cantou a música autoral "Evangelho de Fariseus" e viralizou na internet —passou de pouco mais de 2.000 seguidores para 1,9 milhões em menos de 10 dias.
A "cristã, brasileira e paraense", como ela se define, já escreveu mais de 200 músicas religiosas e faz parte de uma pequena igreja de cerca de 30 membros em Redenção (PA), onde é a única ministra de música da comunidade, que é pastoreada por seu padrasto e sua mãe.
Sobre a repercussão, Aymeê falou à reportagem de Splash:
Assustadora, confesso! Mas Deus me preparou e capacitou por anos em secreto para o que eu viveria no público. Eu já imaginava a proporção, mas não imaginei que seria em uma velocidade tão rápida
O que aconteceu:
Na semifinal da segunda temporada de "Dom Reality", ela cantou uma música que dividiu opiniões entre lideranças evangélicas. O programa, transmitido no YouTube no dia 15 de fevereiro, tem o objetivo escolher a nova voz gospel do Brasil.
Houve quem dissesse que a letra é lacração e quem comparasse a jovem a João Batista. A comparação com o primo de Jesus surgiu porque, segundo a Bíblia, ele confrontou os fariseus com pregação para que o povo se arrependesse de seus pecados.
Para Aymeê, a comparação "tem suas verdades". Ela afirma ter sido chamada por Deus para cantar "o seu amor, mas também, a sua indignação".
Letra remete ao caso Marajó
Na música, que fez os jurados do programa chorarem, ela denuncia a suposta existência de "muito tráfico de órgãos e pedofilia ao nível hard" em Marajó (PA). "Há um evangelho de fariseus, cada um escolhe os seus e se inflamam na bolha do sistema. Ah, enquanto isso, no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara. A Amazônia queima. Uma criança morre. Os animais se vão superaquecidos pelo ego dos irmãos", escreve.
As criancinhas saem em uma canoa 6, 7 anos e elas se prostituem por R$ 5"
Após a repercussão, a ex-ministra Damares Alves voltou a relacionar a ilha à pedofilia, e perfis bolsanaristas compartilharam vídeos manipulados em que crianças eram abusadas. O UOL já desmentiu a informação de que os vídeos seriam de Marajó —foram gravados no Uzbequistão e não tem nada a ver com o contexto. Também é falso que um vídeo em que um homem beija uma criança em um barco tenha sido gravado na região. A filmagem foi feita em Mato Grosso do Sul.
Grupos bolsonaristas divulgaram ainda falsas informações de que o governo Lula teria interrompido ações de proteção às crianças no Marajó. Silvio Almeida, atual ministro dos Direitos Humanos, afirmou em nota que não houve o cancelamento das ações do governo federal na região. O governo estadual do Pará, o Ministério Público e o governo federal não negaram a prática de abusos sexuais contra crianças e adolescentes, mas não há registro de tráfico de crianças, como sugerem posts com fake news.
O MPF já pediu R$ 5 milhões a Damares e União por fake news sobre abuso infantil.
Veja o que é verdade e o que é mentira sobre o caso de Marajó
O reality gospel
Paulo Alberto, um dos idealizadores do reality show e agora responsável pela carreira de Aymeê, disse que o programa é de entretenimento. A organização recebeu mais de 3.000 inscrições e selecionou 30 vozes na 2ª edição, cujo foco é "levantar e dar voz a novos artistas de todas as regiões".
Apesar de ser um reality musical, o público não participava da decisão de quem avançava ou era eliminado.
Todos os episódios foram gravados na Igreja Batista da Lagoinha em Niterói. De acordo com Paulo, a grande repercussão dessa edição fez com que canais de televisão e também streamings demonstrassem interesse em exibir a próxima temporada, que acontecerá em 2025.