Cancelamentos, clima e mais problemas que desafiam o festival Lolla BR
Um festival do tamanho do Lollapalooza vem acompanhado de um festival proporcional de problemas. Concorrência com outros shows, cancelamentos de atrações em cima da hora, condições climáticas extremas, questões trabalhistas e reclamações do público são só alguns deles.
Fazendo papel daquele artista circense que precisa manter os pratos girando equilibrados em varas sem quebrar nenhum, estão as mentes por trás do Lollapalooza Brasil, a sua diretora, Leca Guimarães, e o seu curador, Marcelo Beraldo, ambos da C3 Presents, produtora de shows sediada em Austin, no Texas. São eles que seguram a bucha.
Em entrevista a Splash, eles responderam a questões relacionadas a tudo o que pode fugir dos planos da organização. Leia a seguir trechos da conversa:
Como vocês lidam com a concorrência de outros festivais?
Estamos no Lolla desde o primeiro. Independentemente da concorrência, o Lolla sempre se guiou pelo que acreditava e foi um dos grandes influenciadores de as pessoas curtirem um festival durante o dia. No começo, o festival só enchia às 19h, hoje em dia, às 15h, você já tem mais de 70% do público. Leca Guimarães
A concorrência não é só com outros festivais, mas com shows em grandes estádios também. O bolso é o mesmo da molecada. Quem foi ao show do The Weeknd vai ficar dois três meses sem ir a nada. E a gente não disputa apenas o público [com outros festivais], mas também as atrações. E muitas delas pensam que vão ganhar mais dinheiro fazendo um show próprio do que dentro de um festival com outras bandas. Por isso a gente não consegue um The Weeknd ou um Coldplay. Marcelo Beraldo
O importante é oferecer uma experiência bacana, em que o moleque vai lá e passa o dia inteiro, vê várias bandas, muitas novas. Se comparar a gente com os concorrentes mais diretos, o Lolla traz mais bandas, mais palcos, mais shows, mais coisas acontecendo. Beraldo
Como se preparar para as condições climáticas, como calor e chuva intensos?
Por conta do calor, a gente liberou garrafa pet, mas as pessoas atiravam a garrafa cheia; se acertar alguém, pode machucar. Então a gente sempre distribui água. Mas vimos que não podemos jogar água no corpo, porque a pessoa desidrata. A gente tem sombras no festival, a gente distribui água, a gente chegou a oferecer pizza para quem fica na barricada e não sai de lá de jeito nenhum. Pode entrar com copo de água. Leca Guimarães
A gente usa os telões para dar avisos de 'fique hidratado', porque no hemisfério norte a gente já vive esses problemas extremos. Mas, uma vez que abrem os portões, você depende muito do comportamento do fã no festival para a gente conseguir ter sucesso. Leca
Sobre a chuva de março, mês que acontece o Lolla, a gente tem que casar as agendas com todos os festivais e turnês grandes. Então, o que sobra para a gente são as águas de março. Leca
Por que o ingresso é tão caro?
A gente monitora todos os preços de festivais e de shows em estádio, então a gente sabe que oferecemos um festival internacional, com quase 80 bandas. Ainda assim, é mais barato que Taylor Swift ou The Weeknd e a gente entrega muito mais. Não tem muito para onde correr, a gente fica monitorando a concorrência. Eu arrisco em dizer que os festivais grandes estão nivelados pelo mesmo preço. Marcelo Beraldo
O line-up mais forte ou menos forte também influencia no preço, assim como a economia do país. A gente paga o artista em uma moeda e vendemos os ingressos em outra. Leca Guimarães
Existe também o sensacionalismo. Você vê um título num site: 'Ingressos a mil e quatrocentos reais!'; mas se esquecem de dizer que mais 98% da venda dos ingressos é meia-entrada e entrada-social. Ninguém paga esse ingresso inteiro. Beraldo
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Quero receberQuando a gente criou a entrada-social a gente foi processado por ter dado 50% de desconto, o mesmo que dava para estudante. Então tivemos que dar o desconto de 45%. Ou seja, mesmo quem tem o benefício reclama de outro ter também. E tem a regra de como você faz carteirinha de estudante. O preço de face ninguém paga. Quem não falsifica paga o dobro. Leca
Muitas vezes o preço que sai lá na manchete não é o que as pessoas realmente pagam. Até onde eu sei, aqui é o único país do mundo que tem essa meia-entrada. Alguns países têm alguma meia-entrada, mas é o governo que paga a outra metade ou subsidia parte do ingresso. Aqui se faz caridade com o dinheiro dos outros. Beraldo
Se derrubassem a carteirinha o preço cheio cairia pela metade. Nosso interesse é vender ingresso, o orçamento não muda por causa da meia-entrada, o cachê das bandas não muda por causa da meia-entrada. Leca
Como evitar casos como os do ano passado, em que trabalhadores terceirizados foram encontrados em condições análogas às de escravizados?
A gente faz de tudo para evitar esses casos. A gente criou um manual com regras no ano passado junto com o Ministério do Trabalho para passar para os nossos fornecedores. Mas o problema é muito maior do que as pessoas tentam entender. Leca Guimarães
Há até pessoas que ganham uma diária alta, mas optam por dormir no festival. Então a gente trabalha junto com os fornecedores para evitar esse tipo de coisa. Mas, na hora que você fala de uma equipe de milhares, não há nenhuma cidade com um sistema de acomodação para tantos funcionários assim. Quando há sindicatos mais fortes, eles tentam ajudar essas pessoas, como em Berlim ou Paris. Nos EUA, a segurança é feita pela polícia local. Cada país tem suas políticas. Leca
Blink-182, Paramore, Drake... por que artistas cancelam a vinda para o Lolla?
É um processo, não é do dia para a noite que você consegue alguém. A gente nunca imagina que alguém vai cancelar, então é sempre um susto. Leca Guimarães
O aumento no cancelamento de festivais é um fenômeno que tem acontecido no mundo todo. Muito em parte pelo aumento dos custos de viagem, muito em parte por causa de doenças, a saúde mental desses caras. Ficou mais complicado viajar e orçar. No Brasil passamos por uma infeliz série de cancelamentos. Dependendo do prazo, dá para fazer alguma coisa, mas com menos de 48h, 24h, não há prazo para vir com uma solução milagrosa. Marcelo Beraldo
Nenhum artista assina cláusula de cancelamento. Não existe isso. Eles devolvem o dinheiro e pronto. É a prática do mercado. Mas a gente não fica expondo nossas dificuldades. Na hora que cancela, por exemplo, o Paramore, é um processo muito mais frustrante do que um Drake. A gente tem Chile e Argentina antes, então a gente percebe a atitude do artista como vem vindo. Se a gente ficou surpreso quando o Drake falou não vou mais? Não. Mas com o Taylor Hawkins a gente ficou arrasado, porque tínhamos uma relação muito forte do Foo Fighters com o Lolla, sempre fomos parceiros, participaram do primeiro Lolla. Já um Paramore, podem ser N razões, mas a banda não quis se manifestar. E a três, quatro meses do festival não é qualquer banda grande que está disponível. Leca
O Lollapalooza Brasil 2024 acontece nos dias 22, 23 e 24 de março no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Entre as atrações principais desta 11ª edição estão Titãs, Blink-182, Arcade Fire, Limp Bizkit, SZA, Gilberto Gil e Sam Smith. Os ingressos estão à venda na página do festival na Ticketmaster.
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