Sabe quem são essas crianças? Conheça o 'berço' dessa banda em BH
Todo fim tem um início. Há 40 anos, na cidade de Belo Horizonte, a banda de heavy metal Sepultura foi criada. Formada na base da paixão por músicas pesadas, os irmãos Max e Iggor Cavalera —que tinham, respectivamente, 15 e 14 anos— iniciaram a banda em 1984.
Agora, em 2024, o Sepultura prepara para o fim do grupo com a turnê "Celebrating Life Through Death", e nada mais justo do que iniciar a despedida por BH, onde tudo começou. O show na capital mineira será hoje (1º), no Arena Hall, e os ingressos já se esgotaram.
Além de Belo Horizonte, o Sepultura irá se apresentar em Juiz de Fora (2 de março), Brasília (9 de março), Uberlândia (15 de março), Porto Alegre (21 de março), Curitiba (22 de março), Florianópolis (23 de março) e São Paulo (6 e 7 de setembro).
Apesar de conturbada, a saída do baterista Eloy Casagrande a poucos dias do início da turnê é mais uma turbulência nessas quatro décadas de história do Sepultura. Em 1996, o guitarrista e vocalista Max Cavalera decidiu sair da banda após conflitos com os outros membros. Em 2006, foi a vez do irmão e baterista, Iggor Cavalera, sair pelos mesmos motivos.
As desavenças, no entanto, são apenas detalhes quando comparados ao legado deixado pelo Sepultura na música nacional e internacional. Nos primeiros anos de banda, os irmãos Cavalera se juntaram ao baixista Paulo Xisto e ao guitarrista Jairo Guedez para gravar os discos "Bestial Devastation" (1985) - um EP split com a banda Overdose — e "Morbid Visions" (1986).
Em 1987, o guitarrista Andreas Kisser fez sua estreia no álbum "Schizophrenia", após Guedez sair do grupo. As três gravações foram feitas pela Cogumelo Records, uma gravadora independente de Belo Horizonte que viu desde cedo um grande potencial nos garotos do Sepultura. É o verdadeiro "berço" da banda!
João Eduardo de Faria Filho e Pat Pereira criaram a Cogumelo, uma loja de discos especializada em títulos de rock e metal, em 1980, para atender a um interesse crescente pelos gêneros nesta época.
A gravadora foi criada cinco anos depois, em meio a uma crise no preço do petróleo que aumentou o custo de produção dos vinis. Apesar do cenário desfavorável, a recém-fundada Cogumelo Records se mostrou disposta a lançar novos artistas, e o Sepultura foi uma das primeiras bandas escolhidas para integrar o catálogo.
Em entrevista a Splash, João Eduardo conta que o encontro com o Sepultura não foi ao acaso, já que os integrantes eram clientes da loja de discos e eram amigos de Vladimir Korg, que atualmente é muito conhecido por ser vocalista da banda de metal Chakal, mas na época trabalhava como gerente da Cogumelo.
"Esse encontro não foi casual, e a banda já tocava na época. Eles tinham um som mais primitivo, remetente ao death metal, que passamos a ter contato naquela hora e percebemos que tinha potencial", afirma.
Após o lançamento do EP "Bestial Devastation", já havia muita gente interessada em conhecer o som dos jovens do Sepultura. Um dos fatores atribuídos para essa "curiosidade" inicial é o sucesso do Rock in Rio de 1985. O festival contribuiu para a popularização do rock e metal para o público brasileiro, ao trazer grandes bandas internacionais do gênero, como Iron Maiden, Ozzy Osbourne e Queen, para o território nacional.
João Eduardo relata a surpresa e as dificuldades que vieram após esse sucesso repentino, durante os primeiros shows da divulgação do EP "Bestial Devastation".
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Quero receberO Sepultura começou a ter muita relevância, então fizemos um primeiro show, que foi uma 'pauleira', um investimento de um tamanho que não imaginamos. Pensamos que iam comparecer mil pessoas, mas na hora tinha quase 3 mil pessoas lá no ginásio e não tínhamos nenhuma estrutura, nem segurança. João Eduardo de Faria Filho, da Cogumelo Records
Daí para frente o Sepultura só ganhou mais fãs e reconhecimento no cenário nacional. O impacto foi o suficiente para que a banda chamasse a atenção da gravadora norte-americana Roadrunner Records, que assinou com o grupo para a gravação do LP "Beneath the Remains" (1989).
Esse contrato consolidou de vez a carreira internacional do Sepultura e, mesmo depois de 35 anos desde o lançamento, esse álbum ainda é lembrado como um dos títulos mais notórios da carreira do Sepultura e do gênero thrash metal.
Para pais e filhos
Foi logo após o lançamento do álbum seguinte, "Arise" (1991), que Raffa Fonseca ouviu o Sepultura pela primeira vez e logo se tornou um fã. Além de ser um fã de longa data, Raffa também é vocalista e guitarrista da banda cover Sepultura Legacy, criada em Belo Horizonte em 2021.
"Quando saiu o álbum "Arise", em 1991, um amigo meu tinha comprado e aí eu pedi para gravar o álbum inteiro para mim em fitas cassete. Quando eu cheguei em casa, peguei a fita e fiquei até as 4 horas da manhã ouvindo, porque senti que aquela música se comunicava comigo de uma forma que eu não conseguia explicar", relembra.
Anos depois, histórias de fãs como a de Raffa passaram a ser cada vez mais comuns. Através da banda cover Sepultura Legacy, ele conta que pôde ter contato nos shows e nas redes sociais com outras pessoas que também compartilham da mesma paixão que ele e os demais integrantes.
Além disso, o músico afirma perceber que, nas apresentações, o público está em constante renovação.
Uma das coisas legais é que não é só a galera das antigas que vai no show, mas a galera nova também vai. Há pais que levam os filhos, ou até filhos que levam os pais. Raffa Fonseca, vocalista da banda cover Sepultura Legacy
A turnê de despedida "Celebrating Life Through Death" vem em um momento propício para relembrar e comemorar junto dos fãs todo o legado iniciado por aqueles adolescentes metaleiros nos anos 1980.
A saída de Eloy Casagrande, apesar de ser uma das muitas adversidades na carreira do Sepultura, não diminui a importância nem a força que o grupo construiu nesses últimos 40 anos. Agora, cabe a Greyson Nekrutman se juntar a Andreas Kisser, Derrick Green e Paulo Jr. e encerrar de forma grandiosa esse capítulo tão importante da música brasileira.
Sepultura -- Celebrating Life Through Death
Quando: hoje, 1º/3 (esgotado), às 19h (abertura da casa)
Onde: Arena Hall (av. Nossa Sra. do Carmo, 230 - Savassi, Belo Horizonte, MG)
Quanto: pista premium - R$ 100 (meia-entrada legal) | R$ 120 (entrada social) | R$ 200 (inteira); arquibancada - R$ 75 (meia-entrada legal) | R$ 90 (entrada social) | R$ 150 (inteira); suítes - R$ 125 (meia-entrada legal) | R$ 150 (entrada social) | R$ 250 (inteira)
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