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OPINIÃO

Com mensagens políticas e som ruim, Sepultura faz show histórico em BH

Telão exibe a clássica bandeira do Brasil do Sepultura na primeira noite da turnê de despedida da banda mineira, em Belo Horizonte Imagem: @pridiabr/Divulgação

João Renato Faria

Colaboração para Splash, em Belo Horizonte

02/03/2024 12h00

Várias expectativas foram criadas para o show do Sepultura em Belo Horizonte nesta sexta-feira (1º), no Arena Hall. Primeiro, por ser o início da turnê "Celebrating Live Through Death", que marca a despedida do grupo dos palcos e tem previsão para durar 18 meses, com datas em mais sete cidades brasileiras e outros 20 países além do Brasil.

Segundo, por BH ter sido onde a banda surgiu, há 40 anos, para se tornar a banda brasileira de rock mais bem sucedida da história. Por fim, pela presença do baterista norte-americano Greyson Nekrutman, de apenas 21 anos, que encarou a árdua missão de substituir Eloy Casagrande, que teve sua saída anunciada do quarteto às vésperas do show.

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Todos os olhos estavam voltados para Greyson Nekrutman, o novo baterista do Sepultura Imagem: @pridiabr/Divulgação

Pois o público — que esgotou os ingressos para a apresentação — certamente teve várias dessas expectativas atendidas no show. Junto do novo membro, o guitarrista Andreas Kisser, o baixista Paulo Jr. e o vocalista Derrick Green subiram ao palco para provar que entendem muito bem o impacto que a "morte consciente e planejada" da banda, anunciada no fim do ano passado, causa nos fãs.

Ao longo de quase duas horas, o grupo deu provas de que sabe muito bem o seu tamanho na música brasileira e mundial e que seu legado não só seguirá vivo, como ainda se mantém atual.

Público aplaude o Sepultura no primeiro show da turnê 'Celebrating Life Through Death', em Belo Horizonte Imagem: @pridiabr/Divulgação

A prova disso é que o Sepultura abriu seu show em um claro recado criticando o atual confronto entre Israel e Hamas, com três canções do clássico "Chaos AD", de 1993: "Refuse/Resist", "Territory" (que teve clipe gravado na Palestina) e "Slave New World". Completava a mensagem — mais clara, impossível — a camisa de Paulo, que trazia estampada a expressão "Stop Wars".

Derrick Green, vocalista do Sepultura, na estreia da turnê de despedida da banda, na sexta (1º/3), em Belo Horizonte Imagem: @pridiabr/Divulgação

A sequência também foi um teste de fogo para o novato Greyson, já que "Chaos AD" marca o início da percussão tribal que se tornaria marca registrada da banda no disco seguinte, "Roots" (1996). Mesmo visivelmente nervoso com a estreia e com uma configuração de bateria econômica, com um bumbo só, o novo instrumentista deu conta do recado, conseguiu imprimir personalidade própria nas músicas da banda — apesar de uma derrapada no fim do show — e chegou a ser ovacionado diversas vezes pelo público, que também proferia, em um tom entre verdade e brincadeira, ofensas ressentidas contra Eloy Casagrande.

O baterista americano Greyson Nekrutman brilha na sua estreia no Sepultura, substituindo Eloy Casagrande, que deixou a banda no mês passado Imagem: @pridiabr/Divulgação

À medida que o setlist avançava, ficava claro que o Sepultura pretendia passar a carreira a limpo. Foram sendo alternados clássicos como "Atittude", "Kaiowas" e "Cut-Throat" com faixas que andavam sumidas das apresentações, como "Choke" e "Mind War", além de novidades do último disco, "Quadra", de 2020, como a excelente "Guardians of Earth", com uma mensagem de alerta contra as mudanças climáticas e com Andreas Kisser, um dos grandes guitarristas do mundo, esbanjando virtuosismo no violão.

O guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, faz o show de despedida em Belo Horizonte, cidade onde a banda foi formada 40 anos atrás, na sexta (1º/3) Imagem: @pridiabr/Divulgação

Nem todos os álbuns da banda, porém, foram privilegiados no setlist. Acabaram ficando totalmente de fora músicas dos clássicos "Bestial Devastation" (1985) e "Beneath the Remains" (1988) — que contém o hit "Innerself", um dos preferidos dos fãs —, e os mais atuais "A-Lex" (2009) e "The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart" (2013). No total, das 22 faixas apresentadas, metade foi da fase com Max Cavalera, e a outra metade da fase com Derrick Green, que substituiu o fundador da banda nos vocais em 1997.

Historicamente ruim, o som da casa de shows foi um ponto negativo e chegou a arriscar o sucesso da apresentação. No geral, o volume de tudo estava baixo — principalmente o microfone de Derrick —, e várias músicas chegaram a ficar "emboladas", principalmente nos momentos mais rápidos. Em faixas um pouco mais trabalhadas, isso chegou a ser um problema, principalmente para quem estava nas arquibancadas e nos fundos do Arena Hall.

O baixista Paulo Jr., do Sepultura, durante show na noite de sexta (1º/3), em Belo Horizonte Imagem: @pridiabr/Divulgação

Mas como o Sepultura jogava em casa, o quarteto sabia que tinha o público na mão. O som ruim e as ausências no repertório (músicas como "Desperate Cry" e "Propaganda" também ficaram de fora) não foram problema para os fãs, que cantaram boa parte do repertório em uníssono, pularam, agitaram e entregaram de volta para a banda uma energia apoteótica, que se transformou em lágrimas — principalmente de Derrick e de Andreas. Normalmente tímido no palco, o baixista Paulo Jr. — único mineiro remanescente no grupo — mostrava uma empolgação imensa.

Fã vibra com estreia da turnê de despedida do Sepultura em Belo Horizonte Imagem: @prodiabr/Divulgação

Como BH é a cidade natal da banda, existia ainda o desejo do público de um show nos moldes das apresentações de despedida recentes de outros gigantes mineiros da música, MIlton Nascimento e Skank, que tiveram setlists enormes e a presença de convidados. Antes do início da apresentação, falava-se entre o público de participações especiais de amigos que marcaram a história do Sepultura, como Silvio "Bibika" Gomes, espécie de quinto membro do grupo, ou de Vladimir Korg (Chakal, The Mist), responsável por indicar a banda à gravadora Cogumelo.

Mas não houve nem a tradicional presença do ex-guitarrista Jairo Guedez — que gravou os dois primeiros discos do grupo — tocando a clássica "Troops of Doom", ficando mesmo a cargo de Andreas, Derrick, Paulo e Greyson a missão de celebrar e encerrar juntos a trajetória de 40 anos.

O início da turnê "Celebrating Live Through Death", que marca a despedida do Sepultura dos palcos Imagem: @pridiabr/Divulgação

No fim, após a sequência dos clássicos absolutos "Ratamahatta" (em que Greyson se atrapalhou e confundiu o tempo da música) e "Roots Bloody Roots" (que fez o chão do ginásio literalmente tremer), o público saiu com sorriso no rosto, deixando claro o saldo positivo, e com a sensação de ter presenciado uma apresentação histórica, com o início do fim da trajetória da banda sendo marcado na cidade onde ela nasceu.

Show do Sepultura em Belo Horizonte não é para os fracos Imagem: @pridiabr/Divulgação

Mas eles também saíram com uma dúvida: será que o Sepultura ainda volta, ao fim da turnê, para uma despedida com convidados, setlist maior e tudo que os fãs têm direito? Em no máximo 18 meses, os metaleiros mineiros terão suas respostas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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