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OPINIÃO

Tinha o patriarcado e a força do ciclone no caminho para o Bikini Kill

Show da banda punk Bikini Kill, ontem (5), em São Paulo; grupo se apresenta novamente na cidade no dia 14/3 Imagem: Mila Maluhy/Divulgação

Bruna Monteiro de Barros

De Splash, em São Paulo

06/03/2024 12h00

Ramona* enfrentou o patriarcado nesta terça (5) para ver "A" banda punk feminista. Um ex-marido que decide a hora e o dia que quer para ser pai a fez atravessar a cidade com a chuva vinda de um ciclone extratropical na hora do rush, mas ela venceu.

Pegou o último acorde da última banda de abertura, às 21h10. O Audio ainda meio cheio. Deu para garantir um lugar no meio da pista, de onde dá para ouvir melhor o som. E lá ficou esperando o Bikini Kill fazer o que toda uma geração esperou por três décadas: colocar as garotas na frente.

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Não que hoje ainda precisasse, já que a plateia ali era maciçamente de meninas empoderadas, era o que Ramona estava pensando quando o coro começou no meio do show: "Girls to the front! Girls to the front!".

Kathleen Hanna, vocalista do Bikini Kill, chama as garotas para se posicionarem na frente do palco em show em São Paulo Imagem: Mila Maluhy/Divulgação

A vocalista Kathleen Hanna brada que estamos em 2024, pergunta se alguém tá sendo assediada e pede pras meninas se aproximarem. A massa é empurrada como se estivéssemos na plataforma da Sé, todas se apertam e começam a pogar.

A roda de pogo, aliás, não era uma só, eram várias e se formavam espalhadas pela pista o tempo todo. Cada uma com sua combustão espontânea, durando o que tinha que durar, acolhendo as minas que tinha que acolher.

Tobi Vail, baterista do Bikini Kill e pioneira do movimento riot grrrl, durante show na terça (5), em São Paulo Imagem: Mila Maluhy/Divulgação

Macho escroto? Sempre tem. Aqueles que ficam que nem um dois de paus com um bando de mina pulando em volta ou o babaca que para para fotografar no meio de uma roda bombando. Mas a raiva é canalizada no cotovelo depois que Kathleen observa que nós éramos um grupo de pessoas legais e devíamos nos conhecer e gostar umas das outras. Sim, os punks também amam.

A baixista Kathi Wilcox toca com o Bikini Kill durante show em São Paulo, na terça (5) Imagem: Mila Maluhy/Divulgação

O movimento Riot Grrrl não atingiu Ramona lá nos anos 1990. Ela era mais velha e não prestou atenção. Veio a conhecer melhor o Bikini Kill quando um jovem punk filhe de amigos apresentou após ter conhecido seguindo rastros da Siouxsie trazidos pela mãe. Mas o bichinho do punk já tinha impactado sua mente bem antes, nos anos 1980.

Luta do proletariado, contra crueldade animal, direito ao aborto, combate ao patriarcado, direitos dos refugiados, contra o genocídio palestino. As pautas da rebeldia vão mudando com o tempo. Mas, no fim das contas, sempre têm a ver com justiça social e direitos humanos básicos.

Sara Landeau empunha a guitarra do Bikini Kill em show em São Paulo, na terça (5); banda volta a São Paulo no dia 14/3 Imagem: Mila Maluhy/Divulgação

Quando Hanna pergunta quem já teve um relacionamento tóxico, quando pega um fanzine da plateia para divulgar, quando encerra o show às 23h20 lembrando que somos todas garotas rebeldes, elas nos une.

E o que nunca mudou na história do punk é a potência de extravasar seu ódio e revolta ao lado dos seus pares numa roda ao som de uma música com a qual você se identifica se sentindo livre e acolhida.

A vocalista do Bikini Kill, Kathleen Hanna, une garotas no show que fez no Audio Club, em São Paulo, na terça (5) Imagem: Mila Maluhy/Divulgação

Ramona acordou às 6h30 da manhã desta quarta (6) para fazer a lancheira dos filhos com o braço bem dolorido lembrando que tem que divulgar a próxima ação do Solidariedade Vegan (@solidariedadevegan), um bazar para manos de rua do centro de São Paulo.

E tudo continua punk para Ramona.

* nome trocado a pedido da entrevistada

Bikini Kill

Quando: 14/3, às 18h
Onde: Audio Club (av. Francisco Matarazzo, 694, São Paulo, SP)
Quanto: R$ 318 (pista, meia) e R$ 636 (pista, inteira)
Ingressos: disponíveis em Ticket360, na bilheteria do Audio Club (sem taxa), de segunda a sábado, das 13h às 20h, e na Associação Cultural Cecília (sem taxa), às terças, quintas, sextas e sábados, das 19h à 0h, e aos domingos, das 21h à 0h.
Shows de abertura: As Mercenárias, Punho de Mahin, Weedra e as DJs CamillaJaded & Erika

Errata: este conteúdo foi atualizado
A guitarrista Sara Landeau, que acompanha a banda em shows, foi erroneamente identificada na foto como a guitarrista anterior do Bikini Kill, Erica Dawn Lyle. A informação foi corrigida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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