Tinha o patriarcado e a força do ciclone no caminho para o Bikini Kill
Ramona* enfrentou o patriarcado nesta terça (5) para ver "A" banda punk feminista. Um ex-marido que decide a hora e o dia que quer para ser pai a fez atravessar a cidade com a chuva vinda de um ciclone extratropical na hora do rush, mas ela venceu.
Pegou o último acorde da última banda de abertura, às 21h10. O Audio ainda meio cheio. Deu para garantir um lugar no meio da pista, de onde dá para ouvir melhor o som. E lá ficou esperando o Bikini Kill fazer o que toda uma geração esperou por três décadas: colocar as garotas na frente.
Não que hoje ainda precisasse, já que a plateia ali era maciçamente de meninas empoderadas, era o que Ramona estava pensando quando o coro começou no meio do show: "Girls to the front! Girls to the front!".
A vocalista Kathleen Hanna brada que estamos em 2024, pergunta se alguém tá sendo assediada e pede pras meninas se aproximarem. A massa é empurrada como se estivéssemos na plataforma da Sé, todas se apertam e começam a pogar.
A roda de pogo, aliás, não era uma só, eram várias e se formavam espalhadas pela pista o tempo todo. Cada uma com sua combustão espontânea, durando o que tinha que durar, acolhendo as minas que tinha que acolher.
Macho escroto? Sempre tem. Aqueles que ficam que nem um dois de paus com um bando de mina pulando em volta ou o babaca que para para fotografar no meio de uma roda bombando. Mas a raiva é canalizada no cotovelo depois que Kathleen observa que nós éramos um grupo de pessoas legais e devíamos nos conhecer e gostar umas das outras. Sim, os punks também amam.
O movimento Riot Grrrl não atingiu Ramona lá nos anos 1990. Ela era mais velha e não prestou atenção. Veio a conhecer melhor o Bikini Kill quando um jovem punk filhe de amigos apresentou após ter conhecido seguindo rastros da Siouxsie trazidos pela mãe. Mas o bichinho do punk já tinha impactado sua mente bem antes, nos anos 1980.
Luta do proletariado, contra crueldade animal, direito ao aborto, combate ao patriarcado, direitos dos refugiados, contra o genocídio palestino. As pautas da rebeldia vão mudando com o tempo. Mas, no fim das contas, sempre têm a ver com justiça social e direitos humanos básicos.
Quando Hanna pergunta quem já teve um relacionamento tóxico, quando pega um fanzine da plateia para divulgar, quando encerra o show às 23h20 lembrando que somos todas garotas rebeldes, elas nos une.
E o que nunca mudou na história do punk é a potência de extravasar seu ódio e revolta ao lado dos seus pares numa roda ao som de uma música com a qual você se identifica se sentindo livre e acolhida.
Newsletter
O QUE FAZER EM SP
Qual a boa do fim de semana? Receba dicas de atrações, passeios, shows, filmes e eventos para você se planejar. Toda sexta.
Quero receberRamona acordou às 6h30 da manhã desta quarta (6) para fazer a lancheira dos filhos com o braço bem dolorido lembrando que tem que divulgar a próxima ação do Solidariedade Vegan (@solidariedadevegan), um bazar para manos de rua do centro de São Paulo.
E tudo continua punk para Ramona.
* nome trocado a pedido da entrevistada
Bikini Kill
Quando: 14/3, às 18h
Onde: Audio Club (av. Francisco Matarazzo, 694, São Paulo, SP)
Quanto: R$ 318 (pista, meia) e R$ 636 (pista, inteira)
Ingressos: disponíveis em Ticket360, na bilheteria do Audio Club (sem taxa), de segunda a sábado, das 13h às 20h, e na Associação Cultural Cecília (sem taxa), às terças, quintas, sextas e sábados, das 19h à 0h, e aos domingos, das 21h à 0h.
Shows de abertura: As Mercenárias, Punho de Mahin, Weedra e as DJs CamillaJaded & Erika
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.