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Maior que o Miss Universo, 'conservador', 112 países: conheça o Miss Mundo

Leticia Frota, Miss Brasil Mundo 2023 no embarque para o Miss Mundo 2024 na Índia; Brasil venceu concurso só em 1971, com Lucia Petterle Imagem: Reprodução/ Instagram @letticiafrota

Colaboração para Splash, em São Paulo

07/03/2024 04h00Atualizada em 09/03/2024 11h25

O concurso internacional de beleza mais antigo do planeta chega a sua 71ª edição no próximo sábado (9), sediado na Índia. O Miss Mundo tem como representante brasileira Letícia Frota, que tenta quebrar um jejum de vitórias do Brasil que dura 53 anos.

O que é o Miss Mundo

O Miss Mundo é um concurso de beleza criado em Londres no início da década de 1950. É considerado maior que o Miss Universo, principalmente em relação ao número de participantes.

"É maior porque desde os anos 1980 o Miss Mundo passou a ter mais países participantes que o Miss Universo. Países que até já participaram do Miss Universo, como Bangladesh, Iraque, Marrocos, Somália, entre outros, entram aqui com mais facilidade até mesmo por não haver desfile do traje de banho desde 2014", explica Henrique Fontes, diretor do CNB (Concurso Nacional de Beleza), que escolhe a brasileira no concurso.

Neste ano, participam 112 países e territórios. O concurso possui 140 licenciados, ou seja, localidades que podem realizar concursos nacionais ou enviar representantes. Seu recorde é de 2013, com 127 países e territórios participando, enquanto o recorde do Miss Universo é de 94 nações, em 2018.

Os dois concursos de miss têm outras diferenças ainda, segundo o jornalista e historiador de concursos de beleza venezuelano Julio Rodriguez Matute: "O Miss Mundo é mais filantrópico e o Miss Universo mais comercial".

Outra característica do Miss Mundo é seu lado mais conservador no que diz respeito a candidatas mães, que nunca disputaram o certame. "O Miss Mundo é um concurso familiar que pertence à família Morley desde que foi criado, em 1951, portanto, é bastante conservador e, por esse motivo, não aceita mães. A justificativa talvez seja porque a Miss Mundo viaja muito e se é mãe, isso a impossibilitaria de cumprir suas funções", afirma Matute.

Também até hoje nenhuma mulher transgênero chegou à final do Miss Mundo, diferente do Miss Universo em 2018 e 2023. Henrique Fontes diz que o regulamento permite suas inscrições, ainda que nenhuma trans tenha chegado à etapa internacional: "O concurso é aberto para as trans, agora vencer o nacional para chegar lá ainda não aconteceu".

No Brasil, Rayka Vieira (Miss Centro Goiano CNB 2021) e Alice Ridenn (Miss Agreste Pernambucano CNB 2022) disputaram a etapa nacional do Miss Mundo. Alice chegou a ser semifinalista da etapa Beleza com Propósito.

Nyekachi Douglas (Miss Nigéria), de verde, comemora a vitória da jamaicana Toni-Ann Singh no Miss Mundo 2019, ao lado da Miss Brasil Elís Miele Imagem: AFP

Pioneirismo no fator diversidade. Ainda que poucas tenham sido eleitas até hoje, enquanto o Miss Universo elegeu sua primeira negra em 1977, com Janelle Commissiong, de Trindade e Tobago, o Miss Mundo já tinha eleito duas em anos anteriores: a primeira, Carole Joan Crawford, da Jamaica, em 1963; e depois Jennifer Hosten, de Granada, em 1970.

O concurso ainda tem uma pegada social com a etapa "Beleza com Propósito", importante na escolha da vencedora. O Brasil apoia a luta contra a hanseníase e foi o único país latino entre os 10 melhores projetos neste ano.

Papa Francisco segura a mão da Miss Brasil Mundo, Leticia Frota, no Vaticano Imagem: Reprodução/ Instagram @missbrasiloficial @letticiafrota

A Miss Brasil atua como embaixadora da luta contra a doença e participou de conferências internacionais na Índia e no Vaticano, em busca de soluções para erradicá-la: "Fui recebida pelo Papa Francisco, quem me encorajou a seguir realizando trabalho voluntário e mais que isso, para que eu incentive outros jovens", conta a jovem Leticia Frota.

Durante o reinado ela participou em Brasília da homologação da lei brasileira que reconhece os filhos separados pela hanseníase: "Foi muito emocionante, fui como convidada do presidente Lula".

Para o Miss Mundo, temas como passarela, trajes ou vestidos, ficam em segundo plano, [...] importando mais em quais etapas as candidatas podem se destacar, procurando uma mulher global e mais completa tanto física como intelectualmente. No Miss Universo, a questão de como você se projeta no palco, anda e se veste ganha mais relevância.
Sebastian Torres, publicitário e missólogo colombiano

Marie Halle Berry, 6º lugar no Miss Mundo 1986; Lynda Carter, semifinalista no Miss Mundo 1972; e Michelle Yeoh Miss Malásia no Miss Mundo 1983. Imagem: Reprodução/ Facebook

Etapas como a de talento é caminho possível para Hollywood. Marie Halle Berry, Miss EUA e 6º lugar no Miss Mundo 1986, foi a primeira miss que disputou um grande concurso a ganhar um Oscar, em 2002. Lynda Carter, a primeira Mulher Maravilha, esteve no Miss Mundo 1972 pelos EUA. Já Michelle Yeoh representou a Malásia no Miss Mundo 1983.

Pelo estilo de concurso, ele acaba atraindo uma mulher extremamente [inteligente]. A Miss Inglaterra deste ano é uma engenheira aeroespacial, quer um dia subir no foguete e conquistar o espaço. Tem duas pilotas de avião, dez médicas ou estudantes de medicina, temos engenheiras. É um padrão bacana porque é o que o concurso busca: são mulheres que não estão preocupadas com aquela pressão por cirurgia plástica e um ideal de corpo.
Henrique Fontes

Popularidade e competição

Sem popularidade nas Américas, o Miss Mundo é bastante acompanhado na Europa, África e Ásia, principalmente em transmissões televisivas. E, apesar de tentar adentrar entre os latinos nos últimos anos e ter feito o Miss Mundo 2016 nos EUA, sua quantidade de seguidores e fãs ainda é menor.

Sancler Frantz, Miss Brasil, no palco do Miss Mundo 2013 realizado em Bali (Indonésia) Imagem: Efe/Epa/Made Nagi

Isso se reflete no Brasil: "Aqui o Miss Brasil Universo se tornou mais popular, tanto pelo gosto do público em relação ao show que o concurso proporciona, como também pelo fato de ter sido transmitido por muitos anos em TV aberta, diferente do Miss Mundo. Em países europeus, por exemplo, o Miss Mundo é mais conhecido", explica a empresária Sancler Frantz, Miss Brasil Mundo 2013 e finalista do Miss Mundo.

Henrique Fontes diz que o cenário seria diferente se, por exemplo, a TV Globo assumisse um dos concursos: "O Miss Universo tinha mais visibilidade através da TV. Hoje em dia, para um concurso ganhar popularidade [no Brasil], precisaria de uma Rede Globo. Não importa se Miss Universo ou Miss Mundo, ela vai transformar em algo grande se souber dar um formato para o que a sociedade hoje em dia pede".

A goiana e empresária Beatrice Fontoura quando eleita Miss Mundo Brasil 2016 no IL Campanario Villaggio Resort, em Jurerê Internacional (SC). Imagem: Leonardo Rodrigues/Destac Assessoria/Divulgação

Além da etapa social, o Miss Mundo tem as provas de talento e esportiva, estendendo os dias do evento para escolher a vencedora: "É extenso, são quase 30 dias de confinamento e o meu foi em Washington, DC. Pegamos o começo do inverno, viajamos, visitamos a Casa Branca, passeios de barco. Toda produção e o que envolve o concurso é uma oportunidade única na vida", lembra Beatrice Fontoura, Miss Brasil Mundo 2016 e Top 11 no Miss Mundo.

O Miss Mundo busca a melhor, independente do continente. Existe, não só uma inclusão, mas também um respeito na hora do resultado. É um concurso que não fica preso a uma região ou nacionalidade como eu vejo que o Miss Universo fica, que só Venezuela, EUA e Porto Rico você tem cerca de 20 títulos em 72. [...] É um concurso que avalia a mulher de outra forma. É uma competição que valoriza muito mais o intelecto, a comunicabilidade, os projetos sociais.
Henrique Fontes, diretor do Miss Mundo no Brasil

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